Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

sábado, 31 de agosto de 2013

NOVA ZELÂNDIA

Visão soberba dos cumes nevados dos Alpes do Sul à minha chegada à Nova Zelândia. Mês de agosto, inverno e excelente altura para praticantes de desportos na neve. Mas tal não era o meu objetivo já que, por 'motivos de força maior', a minha passagem pelo país seria mais curta que o inicialmente previsto.
Aterrei em Christchurch na Ilha do Sul, a maior das duas ilhas principais que formam este país, limitada a norte pelo Estreito de Cook, a oeste pelo Mar da Tasmânia, a sul e a leste pelo Oceano Pacífico.
Conheci a Nadine que viajava no mesmo avião, vinda da Áustria, e apanhámos juntas um autocarro público para o centro da cidade onde nos alojámos.
Christchurch foi atingida por um violento sismo de magnitude 7.1 em setembro de 2010 e sucessivas réplicas de grande intensidade no ano seguinte que provocaram mortes e deixaram a cidade num autêntico caos de destruição.
O centro histórico foi profundamente afetado e ainda hoje se veem os trabalhos de reconstrução por todo o lado. Aliás, a sensação é a de uma 'cidade fantasma' em que, logo ao entardecer, não se vê praticamente ninguém pelas ruas estando a maioria das lojas, restaurantes e locais de entretenimento encerrados. Constrangedor e deveras revelador do trauma sofrido pelos seus habitantes!
No dia seguinte partimos de autocarro rumo a sul com mais uma companheira de viagem, a francesa Lydie, e sempre com as magníficas montanhas no horizonte. A topografia variada do país deve-se ao levantamento tectónico provocado pelo movimento de placas e a erupções vulcânicas.
Os Alpes do Sul consistem numa grande cordilheira da região oeste, com 450 km de extensão, formando uma espinha no sentido norte-sul que divide a ilha em dois lados.
 Lago Tekapo
Lago Pukaki
A cordilheira possui 18 picos que ultrapassam os 3000 metros de altitude entre eles o ponto mais alto do país, Aoraki ou Monte Cook, com 3754 metros. A região também é constituída por grandes glaciares e enormes lagos de águas azul-turquesa.
Monte Cook ao longe
A Nova Zelândia é notável pelo seu isolamento geográfico estando situada a cerca de 2000 km a sudeste da Austrália e os seus vizinhos mais próximos ao norte são a Nova Caledónia, Fiji e Tonga. Devido ao seu afastamento, foi uma das últimas terras a serem colonizadas por seres humanos. 
Queenstown
Queenstown é uma cidade resort no sudoeste da ilha orientada para o ski e turismo de aventura, muito popular entre os jovens viajantes. Situa-se às margens do esplêndido lago Wakatipu, formado por processos glaciais, e oferece vistas espetaculares das montanhas próximas, como os Remarkables, Cecil Peak, Walter Peak, Ben Lomond e Queenstown Hill.
Aqui assisti à cerimónia de abertura dos Jogos de Inverno que contou com uma exibição de 'Haka', dança típica do povo maori, povo nativo de origem polinésia que habita a Nova Zelândia desde o ano 800.
Os primeiros europeus chegaram à Ilha do Sul em dezembro de 1642 fazendo parte da tripulação do explorador holandês Abel Tasman. O nome da ilha, cem anos mais tarde anglicizado pelo capitão britânico James Cook, teve origem na província holandesa de Zeeland.
A Nova Zelândia é, na verdade, um país repleto de belezas naturais que vão desde as antigas florestas e montanhas com picos cobertos de neve aos lagos cintilantes e às praias douradas. Cenários maravilhosos que foram escolhidos como pano de fundo para filmes como “O Senhor dos Anéis”, “As Crónicas de Nárnia”, “O Piano” e que atraem milhões de turistas.
A região mais a sul da Nova Zelândia, Southland, apresenta condições meteorológicas mais frias e mais húmidas e é uma das regiões menos povoadas do país. 
No canto ocidental desta região situa-se a Fiordland, Parque Nacional dos Fiordes, uma região geográfica dominada por íngremes vertentes dos Alpes do Sul com vales profundos inundados pelas águas do oceano.
Milford Sound é o mais famoso destes fiordes e aqui realizei um cruzeiro com a Tina, uma companheira de viagem alemã que conheci em Queenstown.
A Fiordland tem pouquíssimos habitantes e muitas áreas só são acessíveis por barco ou por ar. Aqui se situam também diversas quedas de água incluindo as 'Sutherland Falls' que estão entre as mais altas do mundo e três dos lagos mais profundos da Nova Zelândia: Hauroko, Manapouri e Te Anau.
Mar da Tasmânia
A Nova Zelândia aposta num estilo de vida tranquilo que privilegia o contacto com a natureza e é considerada um santuário de animais e vegetação rara. Nestes golfos estreitos e profundos entre montanhas podemos observar focas, golfinhos e pinguins.
Também nesta zona conhecemos o 'kea', papagaio-da-nova-zelândia, uma ave carniceira em risco de sobrevivência que vive em pequenos bandos e passa o verão nas montanhas. É um animal brincalhão, cheio de curiosidade e é o único papagaio do mundo que pode viver na neve.
Apesar de isolada do outro lado do mapa-múndi, a Nova Zelândia está entre os países desenvolvidos e apresenta elevado grau de industrialização. O país possui grandes rebanhos de ovinos, bovinos e suínos, proporcionando a produção de lã, carne e laticínios. Outro destaque para a economia nacional são as reservas de petróleo e gás natural bem como recursos abundantes de carvão, prata, minério de ferro, calcário e ouro.
Wanaka, vista do Monte Iron
Lago Wanaka
Em Wanaka reencontrei a Nadine, uma desportista que participa em competições de ski, e continuei o meu périplo, agora rumando a norte, com outras companheiras de viagem: a Inga, alemã e a Victòria, espanhola. A paisagem sempre soberba vista de dentro dos confortáveis autocarros que circulam por todo o país e facilitam a vida aos turistas parando aqui e além para  registos fotográficos.
Acompanhando o vale do rio Haast, atravessamos as montanhas para o lado oeste da ilha e continuamos junto ao mar da Tasmânia em direção a Fox e Franz Josef Glacier.
Perto de Fox Glacier situa-se o bonito Lago Matheson, famoso pelas vistas refletidas de Monte Cook e Monte Tasman, quando o tempo o permite. O lago, formado por glaciação há 14 mil anos atrás, é lar de muitas aves aquáticas e era lugar de colheita de alimentos para o povo maori.
Lago Matheson
Percorrendo a antiga floresta nativa à volta do lago apercebemo-nos da vegetação única aqui existente. Devido ao seu isolamento, a Nova Zelândia desenvolveu uma biodiversidade distinta de animais, fungos e plantas, destacando-se um grande número de espécies de aves únicas.
Na Nova Zelândia não existem cobras nem animais venenosos e antes da chegada dos seres humanos o país era completamente livre de mamíferos, exceto aqueles que nadam (focas, leões marinhos) ou voam até lá (morcegos). Isto levou a um número invulgarmente elevado de aves que não voam por causa da falta de predadores.
Povos do Pacífico que aqui chegaram pela primeira vez trouxeram com eles o rato da polinésia (Kiore) e o cão domesticado. Mais tarde os europeus trouxeram porcos, doninhas, furões, ratos, cães, gatos, ovelhas, gado e muitos outros mamíferos que têm afetado seriamente a fauna da Nova Zelândia levando muitas espécies à extinção.
Uma das espécies criticamente ameaçada é o kiwi, uma ave que não voa e que, de todas as espécies de aves do mundo, põe o maior ovo em relação ao tamanho do corpo. O kiwi é um símbolo nacional do país e a associação é tão forte que o termo é utilizado para designar os neozelandeses.
Fox Glacier
A área circundante aos glaciares Fox e Franz Josef foi designada Património da Humanidade pela UNESCO e constitui uma das principais atrações turísticas da costa oeste da Ilha Sul. Estes glaciares descem dos Alpes do Sul até apenas pouco mais de 200 metros acima do nível do mar por entre floresta húmida temperada. São dos mais acessíveis glaciares do mundo com o seu término situado a poucos quilómetros de distância da aldeia mais próxima.
Atualmente têm cerca de 12 km de comprimento e exibem um padrão cíclico de avanços e recuos motivado pelas diferenças entre o volume de gelo perdido por fusão, no término do glaciar, e o volume de neve que alimenta a sua zona mais elevada. Para vistas ainda mais deslumbrantes a visita ao glaciar Franz Josef pode ser feita de helicóptero (que eu dispensei por ser bem cara).
Franz Josef Glacier
Na minha visita à Nova Zelândia fiquei sempre alojada em albergues para 'backpackers' que constituem um ótimo espaço de convívio com outros viajantes e servia-me das cozinhas comunitárias para evitar restaurantes e usufruir de refeições mais económicas. O "Chateau Franz" em FJ proporcionou-me especial convivência com outros intrépidos 'exploradores do globo' como o Matt dos EUA e a Portia de Taiwan. Contactos que por certo se manterão e quem sabe um dia possam redundar numa qualquer forma de reencontro sabe-se lá em que paragens, algo tão extraordinariamente gratificante e que me tem acontecido nesta grande "Viagem Incógnita".
Deixei a Inga e a Victòria em Greymouth onde iam apanhar o comboio transalpino para Christchurch, uma viagem que promete, e segui de autocarro junto à costa. Em Punakaiki admirei as Pancake Rocks, formações rochosas com formas peculiares devido a ação erosiva, e fui pernoitar numa 'hostel' em Nelson.
 Pancake Rocks
Nelson
Continuei para Picton, uma cidade no topo da Ilha do Sul da Nova Zelândia, conheci a Sandy de Taiwan e atravessámos de ferry o estreito de Cook para Wellington, na Ilha do Norte.
Picton
Travessia da Ilha do Sul para a Ilha do Norte
Estreito de Cook
A maioria dos neozelandeses vive na Ilha do Norte, apenas um quarto da população vive na Ilha do Sul. As cidades mais populosas são Wellington e Auckland, ambas na ilha norte.
No mesmo quarto onde nos hospedámos conheci a Claudia, alemã, e foi com ela que visitei um pouco desta cidade, a capital da Nova Zelândia, importante centro financeiro e comercial.
Wellington é também um importante pólo cultural do país e abriga o museu Te Papa, o museu nacional da Nova Zelândia onde são exibidos "os tesouros desta terra". O museu tem coleções várias e uma boa mostra de culturas pacíficas incluindo o povo maori.
Os Maori chamavam Aotearoa à ilha do Norte, nome que hoje designa a Nova Zelândia como um todo. O nome significa "A Terra da Grande Nuvem Branca".
O meu tempo seria mais reduzido na Ilha do Norte, mais pequena e com menos beleza natural que a do Sul, menos montanhosa mas marcada por vulcanismo. O monte Ruapehu é o ponto mais alto da ilha com 2.797 metros. Trata-se de um vulcão ativo situado no Tongariro National Park, no extremo sul da Zona Vulcânica de Taupo.
Monte Ruapehu
Taupo localiza-se num grande planalto vulcânico às margens do lago com o mesmo nome, o maior lago da Nova Zelândia, uma enorme cratera inundada.
Zona Vulcânica de Taupo
A Zona Vulcânica de Taupo é uma área altamente ativa, um centro de atividade vulcânica e geotérmica com várias nascentes de água quente adequadas para banhos.
O Lago Taupo descarrega para o Rio Waikato que mais adiante se precipita numa das mais espetaculares quedas de água da Nova Zelândia, as Huka Falls.
Os Maori vivem sobretudo na Ilha do Norte mas são hoje uma minoria representando apenas cerca de 15% da população atual do país cuja maioria é de ascendência europeia.
A chegada dos europeus a partir do século XVII trouxe uma enorme mudança na forma de vida do povo maori que gradualmente foi adotando muitos aspectos da sociedade e da cultura ocidental. Ultimamente assiste-se a um revivalismo da Cultura Maori tradicional e muitos neozelandeses usam regularmente palavras e expressões maori, como "Kia Ora", palavra de saudação, enquanto falam inglês. 
Não tirei nenhuma foto mas cruzei-me na rua com vários elementos do povo maori com caras tatuadas parecidas com esta imagem do rei maori Tawhiao que vi no museu Te Papa.
Espetáculo maori  com dança tradicional, o Haka
Aldeia termal de Whakarewarewa
Em Rotorua visitei a vila termal de Whakarewarewa situada no meio de uma paisagem com atividade geotérmica em erupção, nascentes termais, fumarolas de vapor e piscinas de água quente borbulhante.
Os atuais habitantes da aldeia vivem em harmonia com este meio ambiente e, embora com casas modernizadas, ainda tiram partido destes fenómenos da mãe natureza que, claro, faz lembrar os Açores. Usam, por exemplo, a energia geotérmica para preparar refeições tradicionais cozidas no chão ou no 'forno da terra', como o Hangi ou Espigas de Milho. 
Explorando os trilhos à volta da aldeia apreciamos toda esta incrível atividade geotérmica que inclui também lagoas de lama em ebulição e os famosos géiseres Pohutu e Prince of Wales. 
A atividade geotérmica é visível por todo o lado em Rotorua incluindo no parque Kuirau, no centro da cidade, e encontram-se nas ruas pequenas piscinas de água quente onde podemos mergulhar os pés.
Lago Rotorua
De Rotorua dirigi-me, sempre utilizando o autocarro nas minhas deslocações, para Auckland onde fui bem recebida pela CS Kate na sua tradicional e confortável casa de madeira.
Auckland
Auckland é uma cidade moderna e cosmopolita, a maior área metropolitana da Nova Zelândia com cerca de um terço da população de todo o país, o que só por si supera a população de toda a ilha sul.
No 'Ferry Building' apanhei um barco para a outra ponta e visitei Devenport, uma bonita vila à beira-mar a poucos minutos de distância com excelentes praias de areia branca.
A partir dos cones vulcânicos gémeos do Monte Victoria e North Head, Devenport oferece algumas das mais fantásticas vistas da cidade de Aucklande e das ilhas em redor.
Foram apenas 15 dias para visitar este belo país mas o nível de vida é elevado e, de qualquer forma, não ficaria mais tempo. Para além disso prefiro belezas naturais aliadas a culturas mais distintas...
Resta-me dizer que os visitantes de nacionalidade portuguesa não necessitam de visto para entrar na Nova Zelândia mas é obrigatório apresentar o bilhete de saída do país. Ainda bem que fui 'forçada' a planear a viagem de regresso a Portugal ou estaria tramada com o meu hábito de viajar sempre 'one way'...