Segui de comboio para o estado de Goa com a Noa, israelita, que conheci na estação de Gokarna. A primeira paragem foi na praia de Palolem onde me reencontrei com as amigas de Bangalore, a Manisha, a Poupoute e a Glória, aquela indiana e estas do Ruanda.
Aqui passámos uns belos e divertidos dias nesta tranquila praia de extenso areal, alojadas numa cabana de madeira, na companhia de mais amigos também do Ruanda e outros da Alemanha.
Palolem
Continuei para norte com a Noa, de autocarro, fazendo uma breve paragem em Margão antes de seguir para Panjim.
A presença portuguesa em Margão
Goa é o menor dos estados indianos mas o mais rico em PIB per capita da Índia e situa-se na costa do Mar da Arábia. É conhecida pelas melhores praias do país para além dos templos, conventos e igrejas que se encontram classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO. Missionários jesuítas, franciscanos e de outras ordens religiosas estabeleceram-se em Goa já no século XVI, utilizada como centro para a difusão do catolicismo na Índia.
Rio Mandovi
Panjim
A língua oficial é o concani, mas ainda existem pessoas neste estado que falam português, devido ao domínio de Portugal durante mais de 400 anos. Goa era cobiçada por ser o melhor porto comercial da região. Foi a capital do Estado Português da Índia a partir de 1510 depois das várias investidas de Afonso de Albuquerque. Foi integrada pela força na União Indiana em 1961 quando, no contexto da descolonização, e após os Ingleses terem deixado a Índia (em 1947) e os Franceses Pondicherry (em 1954), o governo português, liderado por António de Oliveira Salazar, se recusou a negociar com a Índia.
Bairro das Fontainhas
Goa destacou-se por ter sido sede de duas grandes ações civilizadoras portuguesas no Oriente: a religiosa e a educacional. Foi considerada a "Roma do Oriente", erigida em Sé Metropolitana das dioceses de Moçambique, Ormuz, Cochim, Meliapor, Malaca, Nanquim e Pequim na China, e Funay no Japão, a partir de 4 de fevereiro de 1557. Dali partiram para o apostolado os grandes vultos do catolicismo português no Oriente, como São Francisco Xavier e São João de Brito.
Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição
No que tange à ação educacional, em Goa foram erguidas inúmeras escolas e liceus, uma escola médica e institutos profissionais e técnicos. Vultos das letras portuguesas como o poeta Luís Vaz de Camões ("Os Lusíadas"), Garcia de Orta ("Colóquio dos Simples") e Manuel Maria Barbosa du Bocage, ali redigiram parte das suas obras.
Igreja de S. Francisco de Assis e Sé Catedral de Santa Catarina
A parte urbana de Goa denomina-se atualmente Panaji e apenas a parte histórica da cidade, hoje pouco habitada, conserva o nome antigo. Igrejas e Conventos de Velha Goa é o nome dado pela UNESCO para um conjunto de monumentos religiosos localizado em Goa Velha, declarada Património Mundial em 1986.
Igreja de São Caetano
Arco dos Vice-Reis com estátua de Vasco da Gama
Ruínas da Igreja de S. Agostinho e Igreja do Rosário
Em Panaji hospedei-me em casa do Himanshu e em Calangute, um pouco mais a norte, em casa do Ben Lobo, um simpático goês que me recebeu da seguinte forma:
Dona Paula
A presença portuguesa em painéis e à venda no Calizz
Sinquerim
Forte Aguada
A Fortaleza da Aguada localiza-se no extremo sul da praia de Sinquerim. Integrava um vasto complexo fortificado, iniciado no século XVI pelos portugueses como primeira defesa da barra do rio Mandovi, acesso a Goa. Era ao abrigo das suas muralhas que as embarcações faziam a "aguada", ou seja, obtinham o suprimento de água potável, de três fontes, e daí a sua denominação.
Passeio de barco na mira dos golfinhos
Anjuna
Subindo sempre a costa em autocarros locais, alojei-me num pequeno hotel em Anjuna e, perto, visitei o forte de Chapora. A herança portuguesa em Goa é uma visão constante na arquitetura das casas, igrejas, fortalezas, nomes de estabelecimentos, cartazes publicitários, etc. Troquei também algumas palavras em português com alguns dos habitantes.
Forte de Chapora
A atual estrutura do forte é obra da engenharia militar portuguesa, datada de 1617. Tinha então a dupla finalidade de defesa da foz do rio e da população de Bardez contra os ataques dos Maratas, muçulmanos do norte. Os seus vestígios encontram-se protegidos pelo governo de Goa, Damão e Diu desde 1983.
Via Mapusa continuei para Arambol. Ao meu lado no autocarro sentou-se a Palmira, outra viajante solo portuguesa que, dias depois, reencontraria numa esplanada naquela praia.
Mas a primeira pessoa que reencontrei em Arambol assim que pus os pés no areal, no dia da chegada, foi o Chris, um amigo norueguês que conheço de Pokhara, no Nepal. Sabia que ele estava na Índia mas nada foi planeado para o nosso encontro. Depois de tanto tempo a viajar sozinha foi como reencontrar alguém da família...
Arambol
Muitos momentos na agradável companhia lusa da Palmira, que para além de viajante independente é uma entendida em assuntos alimentares. Muitas refeições, muito peixinho fresco, cervejinha e vinho branco, tal como degustações de 'feni', um licor local feito à base de caju e de coco. Em Goa a cerveja, vinhos e bebidas espirituosas são fixados a preços visivelmente baixos devido a impostos especiais sobre o consumo do álcool, o que não acontece no resto da Índia.
E, depois de tantos!!! anos, e um tempito de treino, o regresso às duas rodas 'on my own' numa scooter... E não só me levei a mim como à Palmira para irmos visitar o Forte de Tiracol que alcançámos depois da travessia no ferry.
Forte de Tiracol
O Forte de Tiracol é uma fortaleza de defesa costeira localizada junto à foz do rio Terekhol, no extremo norte do Estado de Goa. O forte foi severamente bombardeado e deixado em ruínas em 1825, mas a igreja de Santo António, localizada no interior, foi reconstruída. Atualmente parte do forte foi adaptado para hotelaria.
Pune
De Arambol fui com a Palmira para Pune, cidade que, tal como Mumbai, se situa no estado de Maharashtra, um dos mais industrializados da Índia. Ficámos em casa do Ananda onde conhecemos a Prem, do Punjab, e com ela ingressámos no 'Osho International Meditation Resort', sendo conduzidas nas atividades do dia pelo próprio Ananda que aí presta os seus serviços de facilitador. Dias de meditação, exercício, dança e muita diversão. Mas apenas frequentei o resort por dois dias. A prática espiritual neste ashram tem custos elevados...
Osho, grande líder espiritual, místico e guru indiano, foi uma figura extremamente polémica pela sua atitude mordaz em relação à tradição e à autoridade estabelecida. O seu ensinamento enfatiza a busca de liberdade pessoal, a consciência individual e a responsabilidade de cada um por si mesmo. Desenvolveu técnicas, como a meditação dinâmica, com o objetivo de libertar o ser humano das amarras psicológicas que o aprisionam e limitam. E só através do silêncio, re-encontrado pela meditação, o homem experimenta o seu verdadeiro ser, a comunhão com a sua essência divina e pura.
Mumbai
Continuei sozinha para Mumbai, ou Bombaim, onde fui recebida pelo Umang, um verdadeiro gentleman indiano, que me esperava na paragem do autocarro com o seu carro novinho em folha. Na casa dele conheci a Xiaoli, outra viajante solo, chinesa, com quem parti, por vezes, à descoberta de Mumbai.
Leopold Café, Colaba
Mas foi o Gaurav, um jovem e erudito realizador, conhecedor de muitos aspetos da cultura portuguesa, que me introduziu nos meandros e nos transportes públicos desta megacidade, a maior e mais importante cidade da Índia, com uma população estimada em mais de 12 milhões de habitantes.
Mesquita Haji Ali, perto do Templo hindu Mahalaxmi
As sete ilhas que vieram a constituir Bombaim ficaram sob o controle de sucessivos impérios indianos, antes da cessão ao Império de Portugal e, posteriormente, à Companhia Britânica das Índias Orientais, controlada pelo Império Britânico.
Durante meados do século XVIII, a urbanização de Bombaim foi reformulada pelos britânicos, com grandes projetos de engenharia civil, fazendo surgir uma cidade comercial e cosmopolita, hoje capital financeira repleta de magnatas, comerciantes, arranha-céus e estrelas de cinema.
O elegante Hotel Taj Mahal e a Porta da Índia, vistos do porto
Grutas da Ilha de Elefanta
Porto de Mumbai
As minhas experiências em Mumbai passaram pelos apinhados comboios, nas carruagens exclusivas para senhoras, e por um trabalho temporário numa espécie de 'call center'.
Rumando a minha viagem sempre a norte desloquei-me, em autocarro noturno, para Ahmedabad, a principal cidade da indústria têxtil do país, onde me recebeu o Nipun e a sua família. Situa-se no estado de Gujarat, onde nasceu Mahatma Gandhi, símbolo da nação.
Ahmedabad
Daí desci para Diu, cidade e sede de distrito pertencente ao território de Damão e Diu, da Índia. Fez parte do antigo Estado Português vindo a cair na posse das tropas da União Indiana que a anexaram em 1961, no tempo de Nehru. O território possui uma área de 40 km² e é composto pela ilha de Diu (separada da península pelo rio Chassis) e pelos pequenos enclaves continentais de Gogolá e Simbor.
Diu
Diu era uma cidade de grande movimento comercial que veio a ser oferecida aos portugueses em 1535 como recompensa pela ajuda militar que estes deram ao sultão Bahadur Xá de Gujarat, contra o Grão-Mogol de Deli.
Forte de Diu
Igreja de São Paulo
Mercado municipal, Templo hindu Gangeshwar
Tomara-lhe o gosto e aproveitei para praticar a minha condução das duas rodas nas estradas organizadas e com pouco trânsito de Diu, visitando vários pontos da ilha.
Praia Nagoa, Vanakbara
Conversas em português com um muito viajado alemão que viveu no Brasil e a dona goesa de uma hospedaria em Diu que em breve visitará a sua família em Portugal.
Bhuj
Em seguida desloquei-me para o extremo ocidental de Gujarat para visitar Bhuj, cidade do distrito de Kutch, famosa pelos seus bordados e artesanato.
Prag Mahal, Templo Swaminarayan
Despedi-me desta localidade ainda a enxotar as cinzas do grande terramoto de 2001, dos seus monumentos históricos e coloridos templos hindus, dos imponentes bovinos, do calmo lago Hamirsar e deixei o estado de Gujarat, numa longa viagem de autocarro 'sleeper'.
e agora convido-lhe para a exposição das relíquias de S. Francicsco Xavier em Goa.
ResponderEliminarSaudacoes,
Telesforo fernandes . bandrainstitute@gmail.com