Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bago

No dia em que regressei a Yangon, encontrei-me com o Khine com quem eu já contactava há uns tempos através do CS. Ele trabalha numa agência de viagens e fornecera-me variada informação incluindo uma estimativa do custo da viagem já que em Myanmar não há caixas multibanco e temos que levar todo o dinheiro necessário em US dólares.



Foi o Khine que me apresentou o Ko Ko, um estudante de Física recém-licenciado. Ele tinha todo o tempo livre para me acompanhar e guiar no emaranhado sistema de transportes da cidade e arredores. Primeiro de autocarro e depois numa viagem de duas horas numa pick-up apinhada, fomos visitar Bago.



Bago é uma cidade da Birmânia com uma população de 220,000 habitantes e a capital da divisão do mesmo nome. Situa-se a 100 quilómetros de Yangon e foi uma das três capitais dos Môns.





Alugámos um trishaw e começámos a visita pelo Pagode Shwemawdaw, originalmente construído no século X. Foi destruído várias vezes devido a terramotos, um em 1917 e outro em 1930. Porções caídas ainda permanecem no local.

A stupa actual tem 375 metros de altura, sendo este o pináculo mais alto em Myanmar.



A visita é efectuada de pés descalços e tínhamos que correr para as sombras devido ao chão escaldante. Sob as grandes árvores púcaros com água matam a sede dos fieis.



Visitámos templos guardados por anjos e cisnes míticos...

... onde assistimos à dança do adivinho.


O Palácio Hanthawadi





O palácio do rei Bayinnaung (1551-1581), vem sendo amplamente escavado e alguns edifícios estão a ser reconstruídos. Este rei foi o fundador do Segundo Império de Myanmar, que se estendia desde as fronteiras da Índia até partes da Tailândia e do Laos.



O Ko Ko num dos seus bonitos e tradicionais longyis de algodão, espécie de saia típica também usada por homens. Este tinha a cruz suástica bordada, um dos símbolos místicos mais difundidos e antigos do mundo e um símbolo de fortuna no budismo, a sua religião.


No caminho passámos por um desfile religioso hindu...

com estranhas, e por certo dolorosas, práticas.






Shwe-Tha Lyaung
É uma das maiores imagens de Buda reclinado no mundo, com 180 metros de comprimento e 52,5 metros de altura. Acredita-se ter sido construída pelo rei Migadipa no ano 944.





domingo, 25 de abril de 2010

Os templos de Bagan

Não me dei bem a pedalar com o calor e voltei para o hotel, enquanto a minha companheira continuou a percorrer os seis quilometros que distam de Nyaung U à zona onde se situam os templos. Estão seguramente mais de 40 graus na árida região já que abril também é o mês mais quente no país.
À tarde meti-me numa pick-up com os locais e entrei na área de Old Bagan. Ainda não sabia bem como iria visitar os templos que se estendem por uma área de quarenta quilómetros quadrados, mas logo se veria.
Tinha fome e dirigi-me para um restaurante que me pareceu simpático. E foi aí que a encontrei: a mota e a minha nova motorista particular. Recebeu-me com um rasgado sorriso quando me aproximei. Estava, por certo, à minha espera...
Os turistas podem visitar os templos de bicicleta ou de carroça. Os grupos deslocam-se em carrinhas ou autocarros. Eu visitei-os, claro está, de mota.
Na visita ao templo Thatbyinnyu, o mais alto, com 61 metros de altura, reencontrei a Chan que prosseguiu a visita de bicicleta. E eu, de mota.
Aguardava com alguma expectativa a visita ao templo Ananda, construído em 1105. Não só por ser um dos mais elegantes e bem preservados dos templos. Mas porque ao lado se situa um outro, mais pequeno, e que passa, por vezes, despercebido. Estava fechado a cadeado, não tinha visitantes e o sonolento empregado abriu-me a porta de grades.
Visitei este templo por duas vezes. É lindo, completamente cheio de frescos que retratam a vida no século XVIII e que apreciamos com a ajuda de uma lanterna. E aí estão eles nesta foto tirada à socapa... os comerciantes portugueses! Munidos de espingardas, claro.
Nao esquecer que a Birmânia, tal como muitos outros países da Ásia, teve o primeiro contacto com europeus através dos portugueses. As glórias do passado...
Shwesandaw Pagoda
A par dos templos de Angkor, no Cambodja, os templos de Bagan são considerados como um dos sites arqueológicos mais importantes e memoráveis do Sudeste Asiático. Foi a capital dos antigos reis de Bagan, que encheram a planície com mais de dez mil templos para ganhar mérito religioso, durante o auge do reino (séculos XI a XIII).

Os templos em si não são tão impressionantes como os de Angkor. Aqui o deslumbramento está nas vistas panorâmicas de uma planície empoeirada onde emergem milhares de templos budistas.
No dia seguinte visitei mais templos com a Chan. Desta vez, de carroça.
Percorremos mosteiros subterrâneos,
visitámos templos de cúpulas douradas,
esculpidos, sombrios,
repletos de pinturas, Budas, inscrições antigas em pali,
palmilhámos corredores salpicados de mais Budas,
subimos e descemos escadarias
que nos conduziam a terraços com vista para a imensidão dos templos.
 
Visitámos aldeias perdidas no tempo,
almoçámos sob árvores gigantescas onde os empregados nos abanavam com um leque
e continuámos o périplo por templos de variadas formas e dimensões,
aguentando, estóicas, o sol e o chão escaldante sob os nossos pés descalços.
Templos em que nos cruzamos com meninas lindas,
jovens monges e verdadeiros artistas,
budistas devotos,
monges que tanto gostam de tirar fotos e interagir com os turistas
... e vendedores chatos.
Os inúmeros Budas são gigantes e estão em pé, deitados ou sentados,
são dourados ou pintados
... ou mistos.

Ao terceiro dia despedi-me da graciosa e gentil Chan, que seguiu viagem para Yangon, e eu encontrei-me novamente com a Myat que me levou e visitou templos comigo.
A Myat é uma professora primaria reformada que agora gere aquele pequeno restaurante com o irmão, esforçando-se por financiar os estudos universitarios do filho que estuda medicina.
E eu visitei a casa e a família dela.
Ela e o irmão faziam-me companhia à hora das refeições e era este que, de noite, me levava de regresso ao hotel, não sem antes parar, para eu apreciar pelo caminho, em templos iluminados e de portas abertas àquela hora, como era o caso do templo Htilominlo.
Não me quiseram cobrar nada pelos serviços prestados...
Continuo a conhecer pessoas extraordinárias no meu percurso, quer sejam habitantes locais, quer sejam outros viajantes como eu. Aliás, neste momento, estou mesmo convencida de que as melhores pessoas à face da terra têm vindo ao meu encontro...