Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Voluntariado e agradecimentos

Em dezembro, chegou a este longínquo país dos Himalaias o jovem português Miguel Dias para participar como voluntário no projeto da Associação HHM que abraça crianças órfãs, vulneráveis e desfavorecidas. Como aconteceu com outros voluntários, o Miguel foi recebido pelos nossos colaboradores nepaleses no aeroporto de Kathmandu e, depois de uma noite num hotel da capital, rumou de autocarro para Pokhara, cerca de 200 km a oeste, onde se desenrola o programa de voluntariado.
Como ficaria no Nepal mais de dois meses, ia incumbido de visitar e levar assistência à maioria das crianças que fazem parte do nosso projeto, mesmo não sendo fácil o acesso às aldeias onde algumas se encontram.
Assim, deslocou-se a Panchase onde vivem o Nirmal Nepali e os pequenos irmãos Bishwas, Bijan e Bipin. Para além do contributo monetário distribuído em mão a cada uma das famílias (avó do Nirmal e mãe dos três irmãos), foram ainda fornecidos outros bens, tais como vestuário, calçado e alimentos. Foram ainda atualizadas, junto da diretora da escola onde decorreu o encontro, as despesas com propinas e outros materiais escolares adquiridos pelas crianças. 
A Associação HHM tem feito os possíveis para proporcionar a estas crianças, órfãs e carenciadas, um futuro melhor através da educação, para que um dia elas próprias possam ajudar e melhorar a vida dos seus.

O Miguel também esteve com o Khusal e a sua mãe, bem como com a pequena Babitta e a jovem Urmila. A todos levou ajuda e presentes. 
Uma vez que eu me encontrara com ele antes da sua partida para o Nepal, o Miguel ia também incumbido de entregar em mão, a crianças nepalesas, postais de Boas Festas elaborados por alunos de uma escola básica do concelho de Sintra. Dirigiu-se então ao lar, nas imediações de Pokhara, onde se encontram várias das crianças do ex-lar New Vision, incluindo a Shanti. E as crianças responderam, por sua vez, a estes postais de Natal já que, também ali, celebram esta festividade pois pertencem a uma minoria cristã neste país que é maioritariamente hindu.
Depois da visita a alguns locais de interesse turístico da cidade, o Miguel, que até então esteve hospedado num hotel em Pokhara, deslocou-se para uma aldeia das redondezas a fim de desenvolver o programa de voluntariado numa escola pública, ficando alojado em casa de uma família local.
Reitero, em nome da Associação Humanity Himalayan Mountains, os nossos sinceros agradecimentos aos amigos que, até à data, continuam a apoiar esta missão, seja através da sua fidelização como sócios desta ONGD, seja através do apadrinhamento de crianças órfãs e carenciadas, o que, neste caso, significa contribuir para a prossecução dos seus estudos e para algum apoio às suas famílias através da doação de calçado, vestuário, bens alimentares ou o que mais for premente. De salientar, igualmente, a dedicação dos voluntários e a participação dos viajantes portugueses que se deslocaram ao país. 
Gratidão também àqueles que nos fazem chegar os seus donativos esporádicos, como é o caso do estabelecimento «Poção Mágica» em Caldas da Rainha, que tem doado uma percentagem da receita dos workshops que dinamiza, dedicados à criação de produtos naturais de higiene e cosmética; como é o caso de amigos do Norte que angariam fundos através de pequenos calendários; como é o caso da empresa austríaca Hansa Flex (conheci o filho do presidente como voluntário no Nepal) ou como é o caso da portuguesa Fundação Oriente. 
Agradeço também à Livraria “Espiral”, em Lisboa, que permitiu que aí estivesse patente, no início do ano, uma exposição de pintura com quadros, da minha autoria, alusivos às montanhas dos «Himalaias». 
E, por fim, informo que a HHM atua em países desfavorecidos como é o caso do Nepal, no continente asiático, e que este ano se expandiu à Gâmbia, no continente africano. 

Bem hajam! Namastê! 

Contacte-nos para: info@humanity-himalayan-mountains.pt

 ou consulte o n/ website:

terça-feira, 30 de abril de 2019

Sul da Coreia

Para além de cidades com tecnologia avançada como a capital, Seul, a Coreia também é conhecida pelo interior verde, com colinas repletas de cerejeiras e templos budistas com séculos de existência, para além de vilas de pescadores na costa e ilhas subtropicais.

De autocarro dirigi-me para Gyeongju, uma cidade a sudeste da Coreia do Sul, ficando alojada na Doo-baki Guesthouse na primeira noite.
O grande Sino de Silla
Gyeongju foi a capital do antigo reino de Silla (57 a.C. - 935 d.C.), que governou cerca de dois terços da Península Coreana no seu auge, entre os séculos VII e IX. A cidade abriga os antigos túmulos da realeza e aristocratas do período Silla, bem como as ruínas de Silla, o que a torna uma atração turística.
Antigos túmulos de Noseo-ri
Túmulo do rei Cheonmachong
Complexo de Túmulos de Daereungwon
Silla Unificada (período histórico do reino coreano de Silla após a conquista de Goguryeo em 668 d.C., que marcou o fim do período dos Três Reinos, unificando as regiões central e sul da península coreana) era um país próspero e rico e a sua capital metropolitana de Gyeongju era a quarta maior cidade do mundo. 
Túmulo do rei Michu

Um grande número de sítios arqueológicos e propriedades culturais deste período permanecem na cidade. Entre tais tesouros históricos, as áreas históricas de Gyeongju, o templo de Bulguksa, a gruta de Seokguram e a aldeia popular de Yangdong estão designados como Património Mundial pela UNESCO.

A cidade à noite é animada por dezenas de pessoas, incluindo professores com turmas de alunos, que visitam locais importantes lindamente iluminados. 
Um destes locais é o Observatório Astronómico de Cheomseongdae (que significa ‘olhar para as estrelas’ em coreano), o mais antigo na Ásia Oriental e considerado uma das instalações científicas mais antigas da Terra. 
O Palácio Donggung e o Lago Wolji são um antigo palácio e um lago artificial que faziam parte do complexo do Palácio da antiga Dinastia Silla, construído por ordem do Rei Munmu em 674 d.C. O lago era anteriormente conhecido como Anapji. Tem formato oval, contém três pequenas ilhas e foi concebido com estética taoísta. É imperdível ver à noite os pagodes refletidos nas águas do lago!
Como parte do projeto de renovação de locais históricos em Gyeongju, Anapji foi dragado e reconstruído em 1974, o que veio a revelar inúmeras relíquias: antigas paredes de pedra, sistemas hidroviários, uma abundância de telhas únicas, materiais arquitetónicos, cerâmica, figuras de Buda em bronze dourado, joias, acessórios e outros itens do dia a dia, oferecendo uma visão da arte budista e da vida quotidiana em Silla. 
Ponte Woljeonggyo
A Ponte Woljeonggyo foi construída durante o período de Silla Unificada (676-935 d.C.), mas foi queimada durante a dinastia Joseon. Foi reconstruída em abril de 2018 para se tornar a maior ponte de madeira da Coreia. De acordo com Samguk Sagi (História dos Três Reinos), a ponte foi construída durante o 19º ano do reinado do Rei Gyeongdeok (760 d.C.), conectando Wolseong e Namsan. 
Casa histórica de Choe, o Homem Rico
Gyeongju é uma pequena e surpreendente maravilha em que se respira este ambiente histórico em harmonia com a Natureza e que adquire uma aura especial à noite e na primavera.
Na guesthouse conheci a Naomi, da Alemanha, com quem visitei o Templo de Bulguksa e a Gruta de Seokguram. Para isso, dirigimo-nos de transporte público ao Monte Toham, no Parque Nacional de Gyeongju, considerado sagrado pelo povo de Silla desde tempos antigos. 
Templo de Bulguksa
O complexo do templo Bulguksa, concluído em 774, é uma obra de arte do apogeu do budismo no Reino de Silla e em que se encontram sete tesouros nacionais da Coreia do Sul, incluindo os pagodes de Dabotap e Seokgatap, a Cheongun-gyo (Ponte da Nuvem Azul) e duas estátuas de Buda de bronze banhado a ouro. 
A arquitetura do templo representa o mundo de Buda que alcançou a iluminação no mundo dos desejos terrenos. 
Mais adiante, a Gruta Seokguram é um templo em caverna artificial, com grande beleza arquitetónica e belas técnicas de escultura, construído durante o período de Silla Unificada. A construção começou em 751 durante o reinado do rei Gyeongdeok, o 35º rei de Silla, e levou 30 anos para ser concluída. 
No centro da Gruta está uma estátua sentada de Shakyamuni Nyorai, com 3.48 metros de altura, esculpida em puro granito branco. O Buda está voltado para o Mar do Leste, onde existe a lenda de que o rei Munmu, o 30º rei de Silla que unificou os três reinos, reencarnou como um dragão do mar e salvou Silla.
De regresso ao centro de Gyeongju, e feito o check-out no hostel, encontrei-me com a também couchsurfer Amelie, uma americana a dar aulas de inglês na universidade local. À tardinha, levou-me a degustar uma bela refeição típica (Bibimbap e Pajon) num restaurante da cidade e fiquei alojada em casa dela.
Nos finais de abril encontrava-me em Busan, a segunda cidade mais populosa da Coreia do Sul, com uma população de mais de 3,5 milhões de habitantes. 
É o centro económico, cultural e educacional do sudeste da Coreia, sendo o seu porto marítimo o mais movimentado do país e o oitavo mais movimentado no mundo. Localizado na ponta sul da península coreana, o importante porto de Busan dá à cidade um toque internacional, com marinheiros e turistas de todo o mundo passando pela cidade.
Busan é conhecida pelas suas praias, fontes termais, reservas naturais e eventos como o afamado festival internacional de cinema da cidade, realizado no outono. 
Atrações locais, templos e locais históricos incluem a Praia Gwangalli e a Praia de Haeundae, Taejongdae, Beomeosa, Haedong Yonggungsa...
Explorei Busan e arredores com a Naomi com quem combinara o reencontro na WE Guest House, mesmo pertinho da Praia de Haeundae.
Praia Gwangalli
Chungmu-dong
De transportes públicos lá vamos nós para a imperdível Vila Cultural de Gamcheon.
Trata-se de uma vila de casas coloridas que se amontoam na encosta do monte de onde contemplamos uma vista lindíssima até ao mar. Mas a bela paisagem da vila esconde a dolorosa história dos refugiados que se estabeleceram em Gamcheon durante a Guerra da Coreia e cultivaram a região montanhosa para ganhar a vida. 
Em 2009, estudantes, artistas e moradores decoraram a vila como parte do Village Art Project e o local tornou-se uma das principais atrações turísticas de Busan desde então. Instalações de arte e pinturas murais transformaram os becos abandonados de Gamcheon numa vila animada e, juntamente com lojas de souvenirs e oficinas que permitem ao visitante participar em várias experiências, foram atraindo cada vez mais a atenção das pessoas. 
Continuámos de autocarro para Taejongdae, um grande parque natural que ocupa o extremo sul da Ilha Yeongdo. 
Desde a entrada do parque percorremos a pé o caminho circundante da orla marítima sobre as falésias verticais de dezenas de metros de altura, passando pelo Observatório, o farol, interessantes formações rochosas e contemplando vistas magníficas do oceano com muitos barcos de cruzeiro e navios de carga à espera de entrar no porto.
Depois embrenhamos por percursos pedestres não pavimentados pelo meio da bela floresta de densas árvores perenes e onde encontramos um pequeno templo budista rodeado de um cuidado jardim.
Yongho-dong area
O Templo Haedong Yonggung é um templo budista na área de Gijang-gun, na costa nordeste de Busan, um dos poucos na Coreia situado à beira-mar. 
No caminho para o recinto do templo, depois da zona de variada gastronomia, estão as 12 divindades animais do zodíaco que protegem a terra em 12 direções, bloqueiam a invasão de espíritos malignos e agem como fadas-madrinhas que desejam as cinco bênçãos: vida longa, fortuna, amor virtuoso, saúde e a morte natural.
Terá sido construído em 1376 durante a dinastia Goryeo e homenageia Haesu Gwaneum Daebul, a Deusa do Mar Buda da Misericórdia, que é um aspeto de Guanyin.
O santuário principal do templo foi reconstruído em 1970 dando especial atenção às cores tradicionalmente utilizadas nestas estruturas. Em frente a este existe um pagode de três andares com quatro leões que simbolizam a alegria, a raiva, a tristeza e a felicidade. 
Todo o templo é de uma enorme beleza e tem outros locais especiais como os 108 degraus e as lanternas de pedra que ladeiam a paisagem rochosa, para além da belíssima vista acompanhada dos sons calmantes das ondas.
Busan está apenas a 190 km das ilhas japonesas de Kyushu e Honshu. 
Por menos de 50€ meti-me num voo de 1h30 para uma delas.  

Adenda: Em 2022, ajudei a Amelie no seu desejo e processo para residir em Portugal. Viveu em minha casa durante um ano até encontrar e se instalar no seu próprio espaço no nosso país.