Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Açores: Pico

O imenso cone vulcânico da Montanha do Pico, envolto num manto de nuvens, ergue-se imponente e majestoso diante dos nossos olhos. Ainda antes das 11h00 o barco atraca no porto da Madalena. 

Segui logo de táxi para São Roque do Pico onde tinha reservado alojamento. Apesar da localidade de São Roque estar mais próxima da ilha de São Jorge as ligações de barco são mais raras e geralmente noturnas.


O Henry, um continental da zona de Aveiro que aqui encontrou a paz e o sustento como guia de montanha, recebeu-me à porta do seu hostel. No momento estava presente outro hóspede, o André, jornalista. Pousei as minhas coisas e saí para dar uma volta. 

O concelho de São Roque do Pico foi criado por foral datado de 10 de novembro de 1542 por ordem do rei de Portugal D. João III. Foi muito marcado pela caça à baleia que aqui deixou, particularmente, a sua marca. Os terrenos de lava foram arduamente trabalhados e transformados em férteis pomares de laranjeiras. Cultivaram-se também produtivos vinhedos, destacando-se a casta de Verdelho. 

Passei por várias poças (piscinas naturais) bastante frequentadas nestes dias de calor e bem equipadas com as devidas infra-estruturas de apoio: chapéus de sol, chuveiros exteriores, casas de banho, balneários, tudo grátis. 

Percorri a Avenida do Mar e fui comer ao Clube Naval, um espaço agradável com esplanada sobranceira ao mar, perto do Porto Comercial de São Roque do Pico.


Aproveitei e visitei o Museu da Indústria Baleeira que fica mesmo ao lado do Clube. Nesta antiga Fábrica das Armações Baleeiras produziam-se vitaminas, óleos, farinhas e adubos, cuja matéria-prima era a baleia. 

Aqui podemos observar os apetrechos e equipamentos utilizados na transformação daqueles cetáceos. Com umas impressionantes caldeiras e fornalhas é internacionalmente considerado um dos melhores museus industriais do seu género. O monumento em homenagem ao Baleeiro situa-se em frente ao museu.


O imponente Convento de São Pedro de Alcântara é outro monumento importante situado no Cais do Pico. Construído em 1658 pertence à Ordem dos Frades Menores e veio absorver uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora do Livramento. Junto a ele cresce uma enorme araucária que, por ter sobrevivido enquanto jovem a uma violenta tempestade, é considerada a Árvore do Desejo. 

Praia do Guindaste
Piscina de Santo António

Na manhã seguinte, aproveitei para nadar nas Poças de São Roque e, à tarde, requisitei os serviços do Sr. Nelson, um simpático taxista local, para visitar alguns pontos de interesse nas imediações incluindo a Lagoa do Capitão, uma lagoa vulcânica natural.


Ao terceiro dia no Pico deixei São Roque e dei a volta toda à ilha com o Sr. Nelson.




Dirigimo-nos para leste passando pela Ponta do Mistério, Prainha, Santo Amaro, Piedade. Depois rumámos a oeste com paragem para almoço em Silveira.


A Ilha do Pico é a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores. Está a 9 km da Ilha do Faial e a 15 km da Ilha de São Jorge. Tem uma área de 447 km², com 42 km de comprimento por 20 km de largura, e conta com uma população residente de 14.100 habitantes.


Enquanto a Montanha do Pico domina a metade ocidental desta ilha, na metade oriental é o Planalto da Achada que domina, numa cordilheira vulcânica com cerca de 30 km de extensão entre a Lagoa do Capitão e a Ponta da Ilha. Os seus cerca de 200 cones vulcânicos e áreas adjacentes albergam turfeiras, charcos ou lagoas.


Mas, são os campos de lava basáltica a imagem de marca da ilha, repositório de inúmeros e diversificados vestígios da atividade vulcânica que a fez nascer.

As populações, temerosas, designaram de “mistérios” tais terrenos rochosos e incultos nascidos do fogo da terra: assim nasceram o Mistério da Prainha (no século XVI) e os mistérios de Santa Luzia, São João e da Silveira, no século XVIII. 


As extensas fajãs lávicas das Ribeiras, Lajes do Pico ou da Ponta do Mistério, são testemunho da constante luta entre a força criadora dos vulcões e as ações destruidoras do mar.


Na orla costeira, altas arribas alternam com encantadoras baías e enseadas onde se encontram zonas balneares que proporcionam um cenário natural único. Arcos, grutas e bancadas de rocha dura sucedem-se ao longo do litoral, dando aqui e ali passagem a terrenos de vinha com as suas típicas adegas.

Fiquei na Madalena onde entretanto reservara duas noites num hostel do Porto Velho. A vila, com cerca de 2.500 habitantes, situa-se no extremo ocidental da ilha, mesmo frente à ilha do Faial e à cidade da Horta.

Como monumentos ao acontecimento vulcânico que lhe deu origem, os ilhéus da Madalena (o Ilhéu Deitado e o Ilhéu em Pé) são formações geológicas que constituem restos de um milenar cone vulcânico originado em erupções submarinas. As aves marinhas usam-nos como local de descanso e de nidificação.

Tinha mais um dia inteiro nos Açores, na Ilha do Pico. Estava destinado à subida da montanha que dá nome à ilha, a mais alta montanha de Portugal, atingindo 2.351 metros acima do nível do mar.

Às 7h30 da manhã, o táxi que me esperava à porta do hostel levou-me à Casa da Montanha, a cerca de 1.250 metros de altitude, local onde se inicia a subida pedestre. Éramos um grupinho de 4 pessoas, eu, um jovem alemão e um casal da Ilha Terceira, preparados para subir o Pico com o guia Nuno Gonçalves da agência Atípico.

É o terceiro maior vulcão do Atlântico, tem 19 quilómetros de diâmetro médio ao nível do mar e tanto aparece totalmente descoberto como, de repente, coberto de nuvens. De qualquer forma, impõe-se na paisagem da ilha e em muitos sítios das ilhas vizinhas. 

A subida é cansativa mas faz-se bem e o feito de escalar esta extraordinária montanha, juntamente com as fantásticas panorâmicas, compensa todo o esforço. 

A cratera principal da montanha, também conhecida como Pico Grande, é o cume do vulcão, localizado no topo. Apresenta-se sensivelmente arredondada, tendo cerca de 700 metros de perímetro por uma profundidade medida a partir dos bordos de cerca de 30 metros.

Aqui chegados falta ainda escalar o Piquinho, um cone de lava pronunciado, com 70 metros de altura, alojado nesta cratera. O Piquinho é resultado de uma erupção recente do ponto de vista geológico e dele emana atividade fumarólica que indica a presença de um vulcão ativo. 

Depois de atingido o ponto mais alto de Portugal, comemos o farnel que leváramos e iniciámos a descida que se revela exigente fisicamente, principalmente para os joelhos e pés. Mas tudo correu lindamente, demorámos até menos que o esperado e regressei à Madalena com o casal da Terceira enfrentado o ‘trânsito’ da montanha.

Aproveitei o resto da tarde para descansar os pés e mergulhar nas piscinas naturais da Areia Funda. Na manhã seguinte, voei diretamente do aeroporto da Ilha do Pico para Lisboa.

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