Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

domingo, 31 de dezembro de 2023

Projeto HHM pós-pandemia

Após quase nove meses de confinamento e aulas on-line, em janeiro de 2021 deu-se o regresso às aulas presenciais no Nepal. De salientar que o ano civil nepalês, bem como o ano escolar, terminam em abril. Os alunos tinham ainda trabalho árduo pela frente para se prepararem para os exames que se realizam nessa altura. Felizmente, todas as crianças apoiadas pela Associação HHM tiveram sucesso escolar. 
Assim como os jovens: a Urmila, de 20 anos, que terminou o 2º ano do magistério; o Khusal, de 17 anos, que terminou o 11º ano de escolaridade; o Nirmal, de 15 anos, que terminou o 9º ano de escolaridade e a Susma, de 13 anos, que terminou o 7º ano de escolaridade. 
A situação de pandemia mundial trouxe dificuldades acrescidas a muitos lares pois, à medida que os números de infetados e de mortes por coronavírus aumentavam no Nepal, também a vida das famílias em situação financeira desfavorável ia ficando cada vez mais periclitante. 
As solicitações de ajuda que recebemos foram imensas, mas a débil situação económica da própria organização não nos permite atender a todos os pedidos. Refira-se que, dos patrocínios de crianças que a Associação HHM tinha, mantém-se presentemente apenas o da amiga Brenda que apadrinha a Susma. 
Ainda assim, para além das crianças do Projeto HHM, conseguimos ajudar alguns casos pontuais mais prementes para que as crianças não deixassem de frequentar a escola. Foi o caso dos irmãos Manuka e Manish Pariyar, de Baglung, a viverem só com a mãe, depois da morte recente do pai, uma das vítimas desta calamidade. 
A Manuka tem 14 anos e frequenta o oitavo ano, o Manish tem 10 anos e frequenta o quarto ano. A ajuda prestada consistiu no uniforme, vestuário, calçado e todo o material escolar. 
Em maio de 2022, a escola Shri Panchase, situada numa aldeia das montanhas da cadeia de Annapurna, onde estudam algumas das nossas crianças, festejou os seus 25 anos de existência com a presença da comunidade local e educativa. 
Embora já sem patrocínios, a Associação HHM tem feito os possíveis para continuar a suportar os estudos de três irmãos, órfãos de pai e oriundos de família muito pobre, nesta escola. A escola proporciona estudos em inglês, algo tão importante para o futuro e o ingresso dos jovens nepaleses no mercado de trabalho. 
E o Bishwas, o Bijen e o Bipin têm sido ótimos alunos, dignos de menções honrosas, pelo que desejamos assim proporcionar-lhes um presente mais dócil e um futuro mais risonho.
No Nepal segue-se o Vikram Samvat, um calendário hindu historicamente usado no subcontinente indiano, como calendário oficial e não o calendário gregoriano como nos países ocidentais. É um calendário lunisolar, usando doze a treze meses lunares para cada ano sideral solar. A contagem dos anos deste calendário está cerca de 57 anos à frente do calendário gregoriano. 
O Ano Novo nepalês de 2080 foi comemorado no dia 1º do mês de Baisakh que entrou no dia 14 de abril de 2023. Logo depois deu-se início também a um novo ano escolar. 
A Shanti continua empenhada nos seus estudos. Em junho de 2023 completou 13 anos, frequentando o 8°ano de escolaridade. Felizmente, frequenta uma ótima escola nos arredores de Pokhara, com uma localização soberba e perto do orfanato onde vive. Desejamos muito que ela consiga superar da melhor forma os traumas que já passou na sua breve vida, após abandono da mãe e morte do pai. 
Normalmente, ela vai visitar a sua aldeia, onde vivem a irmã e a avó, nas férias de Dashain, em outubro. 
Dashain é um festival religioso nacional, o mais longo e mais auspicioso do calendário anual do Nepal. Dá ênfase aos encontros familiares, assim como à renovação dos vínculos da comunidade e, por isso, muitas pessoas viajam para o celebrar junto com os seus entes queridos. Todas as entidades governamentais, instituições educativas e outros estabelecimentos fecham durante o festival. 
A sua irmã Susma continua a frequentar a escola que fica a meia hora a pé da aldeia onde vive com a avó. Tem 15 anos e frequenta o nono ano de escolaridade. A sua vida não tem sido fácil pois, sem pai e sem mãe, é ela quem tem sido uma ajuda preciosa para a avó. Agradecemos uma vez mais à amiga Brenda que a vem patrocinando para que, pelo menos, ela tenha a oportunidade de seguir os seus estudos e construir um futuro melhor.
O empoderamento feminino através da educação é um dos principais objetivos da Associação HHM. Todas as crianças têm direito a uma educação segura, formal e de qualidade e ao acesso à aprendizagem ao longo da vida. No entanto, devido a vários fatores, milhões de meninas no mundo nunca frequentaram a escola enquanto outras são forçadas a abandoná-la. Como resultado da desigualdade de género na educação, elas também não têm a chance de desenvolver habilidades que as ajudarão a assumir o comando nas suas casas, carreiras, comunidades e países. 
A escola é um espaço no qual as meninas exercem o seu arbítrio, fazem a sua voz ser ouvida e têm as suas primeiras oportunidades de liderança. Concentramos esforços na igualdade, inclusão e diversidade para acabar de vez com a desigualdade de género na educação. 
Agradecemos a todos os que caminharam e caminham ao nosso lado ajudando-nos a tornar mais brilhante o futuro destas crianças. Maneiras de apoiar o nosso projeto: 

- Tornar-se membro da Ass. HHM (30€ anuais + 5€ de joia); 
- Apadrinhar uma criança no Nepal ou na Gâmbia (320€ por ano); 
- Fazer um donativo de qualquer valor; 
- Participar nos nossos programas de voluntariado (consulte o website abaixo); 
- Consignar 0,5% do seu IRS à Ass. Humanity Himalayan Mountains - Instituição particular de solidariedade social, NIF: 513896996 (quadro 11 do "Rosto" do Mod. 3)

 
ASSOCIAÇÃO HUMANITY HIMALAYAN MOUNTAINS
NIB: 0035 0210 0002 2489 930 95 
IBAN: PT50 0035 0210 00022489930 95 
BIC: CGDIPTPL
NIF: 513896996

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Projeto HHM no Nepal em 2020

Em janeiro de 2020, encontrava-se ainda no Nepal o jovem português Miguel Dias a desenvolver o seu programa de voluntariado através da Associação portuguesa Humanity Himalayan Mountains. Já havia visitado quase todas as crianças que fazem parte do projeto da HHM, na sua maioria órfãs e oriundas de famílias muito carenciadas. Para isso, deslocou-se a algumas aldeias mais remotas para levar assistência e presentes às crianças, bem como para fazer o ponto da sua situação escolar. 
O Miguel chegara ao Nepal no início de dezembro passado e prestava agora voluntariado na escola pública de uma aldeia de montanha nos arredores de Pokhara, ficando alojado em casa de uma família local, perto da escola. O verdadeiro “banho de imersão” cultural, comungando dos hábitos e sabores locais com aqueles que o rodeiam. 
Aprender a viver com o pouco que há neste outro espaço, onde o ritmo de vida abranda. Destemido e aventureiro, o Miguel assumiu o verdadeiro espírito desta missão encarando com determinação as dificuldades e os imprevistos que se lhe terão deparado. 
Durante três semanas, realizou o seu programa de voluntariado na escola onde também muito falta, mas a aprendizagem acontece e os alunos aplicam-se com entusiasmo. E com certeza que se sentiram entusiasmados com a vinda deste jovem de outros horizontes que lhes deu aulas de inglês e com eles praticou desporto e realizou jogos de equipe. 
Na hora da despedida, entregou à direção do estabelecimento de ensino material escolar adquirido com o seu próprio contributo para o projeto HHM e baseado na sua própria observação daquilo que mais faltava aos alunos e professores, como sendo: lápis, canetas, afias, borrachas, marcadores, apagadores de quadro, resmas de folhas brancas, bolas, bomba para as encher de ar, etc. Deixou Portugal bem representado e foi um ótimo colaborador para a organização HHM! 
No final de janeiro, o Miguel terminou o seu período de cerca de dois meses de voluntariado e aproveitou para fazer trekking na montanha e visitar outras localidades de interesse neste país dos Himalaias. Em seguida dirigir-se-ia, de autocarro, de regresso a Kathmandu onde pernoitou mais uma noite antes de rumar ao aeroporto, tal como previsto no programa de voluntariado.
Depois veio a pandemia COVID-19! Em meados de março, os jornais nepaleses noticiavam 5 casos de infeção por coronavírus no país. O primeiro caso havia sido detetado no final de janeiro de 2020. O confinamento entrou em vigor em todo o país no dia 24 de março. Estava programado para terminar a 13 de junho, mas o prazo foi posteriormente prolongado.
O governo destacou os militares para controlo da situação no país. Estabeleceram-se postos de saúde no Aeroporto Internacional de Tribhuvan, bem como em postos de fronteira com a Índia. As fronteiras terrestres com a Índia e a China foram completamente fechadas e todos os voos internacionais foram suspensos. Todos os exames académicos foram cancelados e as escolas e faculdades foram fechadas. Centros de quarentena e hospitais temporários foram instalados em todo o país. Índia, Estados Unidos e Alemanha aumentaram o seu apoio aos setores de saúde nepaleses. O país cancelou as suas atividades promocionais internacionais relacionadas com o Visit Nepal Ano 2020 e a economia foi seriamente afetada pela pandemia devido ao seu impacto no turismo, emprego, fabricação, construção e comércio.
Nos finais de maio estavam confirmados 1572 casos, afetando 52 dos 77 distritos administrativos, 220 dos quais foram dados como recuperados e 8 pessoas tinham morrido neste país com quase 30 milhões de habitantes, havendo mais de 70 mortes a lamentar de nepaleses emigrados em países estrangeiros.
Os números face ao coronavírus continuaram a aumentar por todo o mundo e em setembro o número de infetados no Nepal ascendia aos 50.465 casos, 317 mortes e 35.700 recuperados. Em meados de dezembro, eram já 247.593 os casos de coronavírus confirmados, com 1.689 mortes e 234.231 recuperados. 
O sistema educacional do Nepal já estava em crise muito antes de a pandemia chegar. Devido à baixa qualidade de ensino nas escolas governamentais, os pais esforçam-se para pôr os seus filhos em instituições privadas mais caras. Mas essa desigualdade na escolaridade foi ainda mais exacerbada pela necessidade de instrução remota devido à crise do COVID-19, ou seja, o ensino à distância expôs ainda mais a divisão de classes no acesso à educação. Enquanto escolas com melhores recursos ministram aulas online, a exclusão digital fez com que a maioria das escolas e alunos do país ficassem de fora. A televisão e a rádio estavam também em uso no ensino à distância, mas são muitas as crianças que nem sequer têm acesso a estes dispositivos.
Com mais de seis meses decorridos desde que alunos e professores do país ficaram sem aulas, as escolas nas áreas rurais do Nepal começaram a reabrir em finais de setembro com um modelo de “educação alternativa", isto é, veiculando uma aprendizagem comunitária com vários centros de educação espalhados pelos municípios a funcionar em turnos diferentes.
A Associação HHM foi prestando o apoio possível às crianças e famílias afetadas por esta crise. Algumas das crianças e jovens que apoiamos organizaram-se em pequenos grupos com amigos e vizinhos e iam tendo aulas à distância e realizando trabalhos escolares.
As irmãs Shanti e Susma, uma a viver num lar de crianças e a outra a viver na aldeia com a avó, reencontraram-se em outubro em Pokhara a convite do coordenador do Projeto HHM no Nepal para assim matarem saudades e descontraírem um pouco, durante três dias, antes de voltarem aos lares e aos trabalhos escolares.
Enquanto a Shanti, agora com 10 anos, tinha a possibilidade de assistir a aulas online no lar de acolhimento onde vive, perto de Pokhara, na aldeia a sua irmã dirigia-se, com outras crianças, esporadicamente à escola para entregar trabalhos aos professores e levar mais alguns para fazer em casa. Antes de regressar à sua terra, a Susma levou ainda consigo material escolar, roupas e calçado de que precisava. Agradecemos muito à amiga alemã, Brenda Nolden, que tem vindo a patrocinar esta criança.
Agradecemos também ao amigo inglês Ali Greenshields, agora a viver na Costa Rica, a continuidade do patrocínio do Kushal Dhamal, um ótimo aluno agora com 16 anos a frequentar o 11º ano numa escola pública em Pokhara.
Gratos igualmente à amiga e sócia fundadora Ana Baptista e seus familiares, residentes em Portugal, pelo patrocínio do Nirmal Nepali, agora com 15 anos e a frequentar o 9º ano na escola pública de uma aldeia de montanha, em Panchase.
Infelizmente, por razões várias que só os próprios conhecerão, perdemos os patrocínios de algumas das crianças, mas agradecemos muito todo o apoio que nos foi dado até aqui. E deixamos um apelo de ajuda pois temos outras crianças, no nosso projeto, por apadrinhar, como a pequena Babitta que vive ao cuidado dos tios ou a jovem Urmila que deseja ser professora.
A missão da Associação HHM é ajudar pessoas, especialmente crianças órfãs ou desfavorecidas pela sociedade, que vivem com grandes dificuldades e enfrentam grandes obstáculos. Damos prioridade à educação das crianças como forma de lhes permitir travar o ciclo de pobreza que provém das suas famílias e que praticamente funciona como um estigma associado à casta ou condição social a que pertencem. O intuito é proporcionar-lhes um futuro mais promissório, uma luz ao fundo do túnel das suas vidas.
Neste momento operamos em dois países subdesenvolvidos, um no continente asiático (Nepal) e outro no continente africano (Gâmbia). Pode apadrinhar uma criança (320€ anuais) ou tornar-se sócio da HHM (30€ anuais). O seu contributo faz toda a diferença! 

Veja neste link como se tornar sócio:
Para mais informações contacte: lyaproject@gmail.com

Namastê!