Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Portugal: Rios, cruzeiros e comboios

O rio Vouga nasce a 930 metros de altitude na Serra da Lapa, concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu e percorre um total de 148 quilómetros até desaguar na Ria de Aveiro. 

No seu percurso, banha diversas localidades cujo nome está intimamente ligado ao seu, como comprovam os topónimos Pessegueiro do Vouga, Sever do Vouga e Macinhata do Vouga, entre outros. 

É também fonte de riqueza e desenvolvimento de várias povoações, entre elas, São Pedro do Sul, vila elevada a cidade em junho de 2009 e famosa pelas suas águas termais milenares. 

As Termas de São Pedro de Sul situam-se junto ao rio Vouga e são hoje as mais frequentadas do país, recomendadas para doenças do foro reumatismal, doenças do foro das vias respiratórias, medicina física e de reabilitação.

As suas águas sulfúricas com propriedades curativas são exploradas desde a antiguidade, como pode ser comprovado pelas ruínas romanas existentes no complexo termal, tendo sido frequentadas por reis e rainhas, destacando-se o 1º rei de Portugal que aqui se tratou de uma fratura sofrida na Batalha de Badajoz.

Pouco depois de passar a vila de Cacia, a 7 quilómetros de Aveiro, as águas do rio Vouga separam-se em inúmeros canais de terreno baixo e pantanoso, dando-se início à formação da Ria de Aveiro. Aveiro e a Ria de Aveiro são inseparáveis, sendo a ria o coração da cidade, moldando a sua geografia, cultura e economia. A cidade tornou-se um importante centro urbano, portuário, ferroviário, universitário e turístico.


E foi precisamente na estação ferroviária de Aveiro que, em junho, apanhámos o Comboio Histórico do Vouga que nos proporcionou uma viagem no tempo a bordo de uma das cinco carruagens de madeira dos primeiros anos do século XX pela única linha de via estreita que ainda está a funcionar em Portugal. A emblemática locomotiva Diesel 9004 parte de Aveiro às 13h50 com destino a Macinhata do Vouga todos os sábados, durante a época balnear, e regressa no mesmo dia ao ponto de partida com uma paragem em Águeda. 


Pelas 15h00, o “Vouguinha” é recebido na estação de Macinhata do Vouga com aplausos e com música e cantares tradicionais, seguindo-se uma pequena animação cultural pelo grupo de teatro amador local. 

Macinhata do Vouga é terra de barcos e comboios. As embarcações fluviais do rio Vouga foram as que primeiro deram reputação à aldeia, nela atracando vindas de Aveiro ou da Murtosa, carregadas de telhas, tijolos, madeiras e também sardinha, carapau e berbigão. À ida carregavam pinheiros, carqueja e cereais.


Mas o grande marco da história da aldeia é a inauguração do segundo ramal da Linha Férrea do Vale do Vouga em 1911, três anos depois do primeiro troço entre Espinho e Oliveira de Azeméis. O comboio passou a fazer parte da vida da localidade e a história dessa relação é dada a conhecer no Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga, onde estão expostos antigos veículos, assim como relógios das estações, candeeiros a petróleo, contadores de máquinas a vapor, marcadores de bilhetes e vagonetas.


No regresso, o comboio parte de Macinhata do Vouga pelas 16h25 em direção a Águeda onde faz uma paragem de 01h30 destinada a uma visita guiada pelo centro histórico, pela zona ribeirinha junto ao rio Águeda e pelo Parque Municipal Alta Vila. E ainda sobra tempo para provar a doçaria regional.


Esta singular e nostálgica viagem pela história e paisagens do Vouga, cujos preços variam entre os 35 euros para adultos e 20 euros para crianças, termina com a chegada a Aveiro pelas 19h00.


Aveiro é uma cidade na costa oeste portuguesa, integrada e definida pela Ria de Aveiro, uma lagoa costeira de baixa profundidade que forma um importante ecossistema de biodiversidade e que se estende por cerca de 45 km, desde Ovar até Mira, com uma rede de canais que lhe confere o apelido de "Veneza Portuguesa".


A cidade é caracterizada por esta paisagem aquática única, dominada pela Ria de Aveiro e pelos braços de água que penetram o espaço urbano e que marcam a história, o património, a cultura e a identidade local. Saramago descrevia a Ria de Aveiro como "um corpo vivo que liga a terra ao mar, como um enorme coração.



A Ria enche a cidade das múltiplas cores dos típicos moliceiros, barcos tradicionais que, no passado, eram usados para transportar o moliço, um fertilizante natural para os terrenos agrícolas. Hoje em dia, estas embarcações são um ícone turístico da cidade, proporcionando aos viajantes passeios inesquecíveis. Aveiro é um notável centro de atividades económicas e turísticas ligadas à pesca, salinicultura e desportos náuticos e é também conhecida pela sua arquitetura Art Nouveau.


Facilmente acessível a partir de Aveiro fica a Praia da Barra onde a ria se liga ao mar e onde se encontra o farol mais alto de Portugal com 62 metros de altura, um ponto de referência vital para a navegação na entrada da Ria de Aveiro. Aqui se inicia o Canal de Mira, um dos braços principais da Ria de Aveiro, que se prolonga para sudoeste até ao município de Mira, que lhe dá o nome. 


Logo abaixo, na mesma faixa de terra entre a Ria de Aveiro e o Oceano Atlântico, situa-se a Costa Nova, uma das excelentes praias portuguesas para a prática de desportos náuticos, cujos ex-libris são os “palheiros”, casas com coloridas listas verticais ou horizontais intercaladas, antigos armazéns de materiais de pesca, ou armazéns de salga da sardinha, atualmente convertidos em residências balneares.


Mais a sul, entre a ria tranquila e o poderoso oceano, ficam a Praia da Vagueira e a Praia do Areão onde atravessamos a ponte sobre o Canal e seguimos de carro até à Praia de Mira.

Esta praia é igualmente conhecida pelos seus palheiros, casas de madeira construídas pelos pescadores que, aliás, também existem noutras praias desta região completamente desprovida de pedra e com abundância de pinhais.

Na Praia de Mira estas casas possuíam grandes dimensões e formavam a quase totalidade da povoação até ao final dos anos 60. A própria capela, junto da praia e ainda existente, é de madeira, pintada de azul e branco.

Nesta e em várias praias ao longo da costa portuguesa praticava-se a Arte Xávega, uma ancestral técnica de pesca artesanal que usa uma grande rede de cerco lançada do barco a remos. Antigamente a recolha era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal, atualmente recorre-se aos tratores. A xávega termina com a chegada a terra e abertura do xalavar (saco de rede de forma cónica) que contém a pescaria.

Para lá de uma agradável caminhada junto à Barrinha de Mira, lagoa abastecida por cursos de água doce e habitat de comunidades biológicas particulares, também podemos admirar a obra de arte urbana “Pássaro Borrelho”, de Bordalo II, que marca a paisagem da Praia de Mira.

Esta obra foi inspirada no Borrelho-de-coleira-interrompida, pequena ave que tem como habitat a orla marítima da região, alimentando-se de moluscos. Tendo o lixo como material de composição, o artista de rua pretende sensibilizar para as questões ambientais. O mural está inserido na série Big Trash Animals e foi concebido no âmbito do projeto cultural “O Mar Que nos Une”, que junta os municípios de Cantanhede, Figueira da Foz e Mira.

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