As suas águas sulfúricas com propriedades curativas são exploradas desde a antiguidade, como pode ser comprovado pelas ruínas romanas existentes no complexo termal, tendo sido frequentadas por reis e rainhas, destacando-se o 1º rei de Portugal que aqui se tratou de uma fratura sofrida na Batalha de Badajoz.
Pouco depois de passar a vila de Cacia, a 7 quilómetros de Aveiro, as águas do rio Vouga separam-se em inúmeros canais de terreno baixo e pantanoso, dando-se início à formação da Ria de Aveiro. Aveiro e a Ria de Aveiro são inseparáveis, sendo a ria o coração da cidade, moldando a sua geografia, cultura e economia. A cidade tornou-se um importante centro urbano, portuário, ferroviário, universitário e turístico.
E foi precisamente na estação ferroviária de Aveiro que, em junho, apanhámos o Comboio Histórico do Vouga que nos proporcionou uma viagem no tempo a bordo de uma das cinco carruagens de madeira dos primeiros anos do século XX pela única linha de via estreita que ainda está a funcionar em Portugal. A emblemática locomotiva Diesel 9004 parte de Aveiro às 13h50 com destino a Macinhata do Vouga todos os sábados, durante a época balnear, e regressa no mesmo dia ao ponto de partida com uma paragem em Águeda.
Pelas 15h00, o “Vouguinha” é recebido na estação de Macinhata do Vouga com aplausos e com música e cantares tradicionais, seguindo-se uma pequena animação cultural pelo grupo de teatro amador local.
Macinhata do Vouga é terra de barcos e comboios. As embarcações fluviais do rio Vouga foram as que primeiro deram reputação à aldeia, nela atracando vindas de Aveiro ou da Murtosa, carregadas de telhas, tijolos, madeiras e também sardinha, carapau e berbigão. À ida carregavam pinheiros, carqueja e cereais.
Mas o grande marco da história da aldeia é a inauguração do segundo ramal da Linha Férrea do Vale do Vouga em 1911, três anos depois do primeiro troço entre Espinho e Oliveira de Azeméis. O comboio passou a fazer parte da vida da localidade e a história dessa relação é dada a conhecer no Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga, onde estão expostos antigos veículos, assim como relógios das estações, candeeiros a petróleo, contadores de máquinas a vapor, marcadores de bilhetes e vagonetas.
No regresso, o comboio parte de Macinhata do Vouga pelas 16h25 em direção a Águeda onde faz uma paragem de 01h30 destinada a uma visita guiada pelo centro histórico, pela zona ribeirinha junto ao rio Águeda e pelo Parque Municipal Alta Vila. E ainda sobra tempo para provar a doçaria regional.
Esta singular e nostálgica viagem pela história e paisagens do Vouga, cujos preços variam entre os 35 euros para adultos e 20 euros para crianças, termina com a chegada a Aveiro pelas 19h00.
Aveiro é uma cidade na costa oeste portuguesa, integrada e definida pela Ria de Aveiro, uma lagoa costeira de baixa profundidade que forma um importante ecossistema de biodiversidade e que se estende por cerca de 45 km, desde Ovar até Mira, com uma rede de canais que lhe confere o apelido de "Veneza Portuguesa".
A cidade é caracterizada por esta paisagem aquática única, dominada pela Ria de Aveiro e pelos braços de água que penetram o espaço urbano e que marcam a história, o património, a cultura e a identidade local. Saramago descrevia a Ria de Aveiro como "um corpo vivo que liga a terra ao mar, como um enorme coração.
A Ria enche a cidade das múltiplas cores dos típicos moliceiros, barcos tradicionais que, no passado, eram usados para transportar o moliço, um fertilizante natural para os terrenos agrícolas. Hoje em dia, estas embarcações são um ícone turístico da cidade, proporcionando aos viajantes passeios inesquecíveis. Aveiro é um notável centro de atividades económicas e turísticas ligadas à pesca, salinicultura e desportos náuticos e é também conhecida pela sua arquitetura Art Nouveau.
Facilmente acessível a partir de Aveiro fica a Praia da Barra onde a ria se liga ao mar e onde se encontra o farol mais alto de Portugal com 62 metros de altura, um ponto de referência vital para a navegação na entrada da Ria de Aveiro. Aqui se inicia o Canal de Mira, um dos braços principais da Ria de Aveiro, que se prolonga para sudoeste até ao município de Mira, que lhe dá o nome.
Logo abaixo, na mesma faixa de terra entre a Ria de Aveiro e o Oceano Atlântico, situa-se a Costa Nova, uma das excelentes praias portuguesas para a prática de desportos náuticos, cujos ex-libris são os “palheiros”, casas com coloridas listas verticais ou horizontais intercaladas, antigos armazéns de materiais de pesca, ou armazéns de salga da sardinha, atualmente convertidos em residências balneares.
Mais a sul, entre a ria tranquila e o poderoso oceano, ficam a Praia da Vagueira e a Praia do Areão onde atravessamos a ponte sobre o Canal e seguimos de carro até à Praia de Mira.
Esta praia é igualmente conhecida pelos seus palheiros, casas de madeira construídas pelos pescadores que, aliás, também existem noutras praias desta região completamente desprovida de pedra e com abundância de pinhais.
Na Praia de Mira estas casas possuíam grandes dimensões e formavam a quase totalidade da povoação até ao final dos anos 60. A própria capela, junto da praia e ainda existente, é de madeira, pintada de azul e branco.
Nesta e em várias praias ao longo da costa portuguesa praticava-se a Arte Xávega, uma ancestral técnica de pesca artesanal que usa uma grande rede de cerco lançada do barco a remos. Antigamente a recolha era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal, atualmente recorre-se aos tratores. A xávega termina com a chegada a terra e abertura do xalavar (saco de rede de forma cónica) que contém a pescaria.
Para lá de uma agradável caminhada junto à Barrinha de Mira, lagoa abastecida por cursos de água doce e habitat de comunidades biológicas particulares, também podemos admirar a obra de arte urbana “Pássaro Borrelho”, de Bordalo II, que marca a paisagem da Praia de Mira.
Esta obra foi inspirada no Borrelho-de-coleira-interrompida, pequena ave que tem como habitat a orla marítima da região, alimentando-se de moluscos. Tendo o lixo como material de composição, o artista de rua pretende sensibilizar para as questões ambientais. O mural está inserido na série Big Trash Animals e foi concebido no âmbito do projeto cultural “O Mar Que nos Une”, que junta os municípios de Cantanhede, Figueira da Foz e Mira.
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