Saí do Nepal na primeira semana de junho um dia mais tarde que o previsto pois o voo da Nepal Airlines foi cancelado o que me fez perder a minha ligação num voo Air Asia de Kuala Lumpur para Gold Coast. Em Kathmandu fomos encaminhados para um hotel 5 estrelas e, tal como outros passageiros, fui aos escritórios da companhia aérea nepalesa reclamar da minha situação. E ofereceram-me uma passagem de KL para Brisbane (mais conveniente ainda) na Malaysia Airlines, um voo confortável e com refeições a bordo.
É de realçar que os responsáveis da Nepal Airlines, perante os
transtornos causados pelo adiamento do voo, foram muito atenciosos e
inclusive lidaram pessoalmente com os trâmites do meu visto nepalês
caducado no dia anterior.
No aeroporto de Brisbane esperava-me o
Chin, o meu amigo nepalês dono do hotel em que prestei funções em
Pokhara e que aqui vive e trabalha. Extremamente cordial e hospitaleiro
deu-me também a oportunidade de conhecer parte da comunidade nepalesa
que reside nesta cidade.
Aliás, a minha estada por estas bandas seria
uma espécie de continuação da “experiência Nepal” num país completamente
diferente. E só não digo diametralmente oposto porque aqui se conduz do
mesmo lado, ou seja, pela esquerda.
O Chin conduziu-me pelas ruas de
Brisbane e levou-me aos principais pontos turísticos com vistas
panorâmicas sobre a cidade. Vistas estas também brilhantes da varanda de
sua casa.
Brisbane foi fundada pelos britânicos em 1825, é a capital do estado de Queensland e a terceira maior cidade da Austrália.
E cinco dias após a minha chegada à Austrália o Chin levou-me a
Bundaberg, localidade a mais de 300 km a norte e, como tal, com clima
mais ameno nesta época de inverno.
Esta tranquila cidade fica situada numa região agrícola muito fértil e
aqui se cultiva em larga escala a cana de açucar que é transportada em
comboio especial para várias refinarias que produzem o conceituado
açucar de Bundaberg.
Por aqui se vê passar também o interminável
comboio de transporte de gado para além das caravanas e roulotes que se
vêem passar por todo o lado na Austrália já que as férias e viagens de "casa às costas" são uma característica neste gigante país.
As casas
de madeira são igualmente típicas e foi numa delas que me instalei
acolhida por uma família nepalesa amiga de amigos do meu amigo.
A
comunidade nepalesa que, nesta região, trabalha na sua maioria na
apanha de frutas e legumes, une-se em festas e convívios de espírito
familiar e é extremamente solícita e acolhedora em relação ao amigo do
seu amigo como era o meu caso.
Com eles fazia compras nos mercados de
abastecimento local e com eles continuei a “experiência dal bhat
tharkari”. Ou curry com chapati. Ou momos.
E foi assim que também eu
me estreei na labuta agrícola mais propriamente na apanha de tomate
cherry já que era para mim fundamental a oportunidade de financiar, pelo
menos, a minha passagem por um “país rico”. E caro, claro.
Todos os dias de madrugada uma carrinha recolhia os trabalhadores, de várias nacionalidades e, aos primeiros raios do nascer do sol, dávamos início à apanha, quanto mais depressa melhor, já que o salário, pago semanalmente, é baseado na quantidade de baldes enchidos individualmente.
Devo dizer que, para além do que consegui amealhar, me deu gozo
trabalhar temporariamente ao ar livre e em contacto com a natureza, se
bem que a minha destreza na apanha não tenha comparação com a dos
trabalhadores mais experientes que fazem praticamente o dobro da
quantidade de baldes, como o amigo Kirti, por exemplo.
E Bundaberg está cheia de albergues para “backpackers”, muitos dos quais jovens que vêm para trabalhar nos campos por um determinado período para financiar as suas férias ou com o objetivo de prolongar a sua estadia na Austrália através de um visto de trabalho.
Tem diversos espaços verdes com flores lindas e
árvores robustas onde deambulam aves que não me eram familiares como a
íbis branca e o pukeko, entre outras. E lagos com tartarugas e outras ‘caras’
mais conhecidas.
Situa-se às margens do rio Burnett e a 15 km da
costa. A cidade foi seriamente afetada por graves inundações em janeiro
deste ano na sequência de um forte temporal que deixou um rasto de
destruição.
Junto à ponte pousam os pelicanos de dia e os morcegos de noite.
Esta zona alberga uma das espécies de morcegos de maior porte do mundo conhecidos como “flying foxes”.
Em Bundaberg conheci a CS Liz, professora, viajante e praticante de
“roller derby” que, para além de me levar a um campeonato do seu
desporto favorito, me levou também a praias das redondezas situadas a
poucos quilómetros de distância, como Bargara e Elliot Heads. Desde logo a Liz manifestou a sua vontade de visitar o Nepal e, de alguma forma, dar o seu contributo para ajudar as crianças.
Um mês
mais tarde veio parar à mesma casa que eu, e igualmente reencaminhada por
um amigo nepalês que conheceu em Melbourne, a Vanessa, uma jovem
italiana que precisamente desejava prolongar o seu visto na Austrália
sendo para isso obrigatório o trabalho numa quinta por um período de 90
dias.
E os cheiros e sabores na cozinha e nos convívios da “nossa
família nepalesa” misturaram-se em fragâncias de pestos, pastas e
tharkaris. Ah! E peixinhos da horta ou estufados de legumes que aqui não
há bacalhau e eu carne não cozinho.
E com a Vanessa visitei mais praias e outras terras a norte de
Bundaberg. E conheceu a Liz que nos levou, tal como a outras amigas, ao
festival anual de Childers onde assistimos a animações de rua e
concertos de didgeridoo bem como saboreámos iguarias de vários países.
E por falar em comida, saltam-nos aos olhos determinados hábitos
alimentares e uma elevada percentagem de corpos obesos que decididamente
chocam com aquilo que observamos num país como o Nepal e que nos levam a
questionar certos fundamentos e objetivos de uma sociedade
“avançada”...
A minha visita à Austrália limitou-se a uma pequena
área na costa leste que decidi então ‘rentabilizar’ tirando partido de
destinos turísticos próximos. “Town of 1770” é uma localidade 120 Km a
norte de Bundaberg construída no local onde James Cook aportou em busca
de água doce para abastecer a sua expedição marítima.
Foi a partir deste local que apanhei um cruzeiro para visitar a ilha
Lady Musgrave e a lagoa de coral que a rodeia. É a segunda ilha mais a
sul da Grande Barreira de Coral, uma imensa faixa de corais situada
entre as praias do nordeste da Austrália e Papua-Nova Guiné com mais de
2.000 quilómetros de comprimento. A Grande Barreira de Coral é uma das
maravilhas naturais do mundo e a maior estrutura de vida do nosso
planeta, visível do espaço.
À medida que nos aproximamos da ilha,
após hora e meia de viagem de barco a partir da costa, surge-nos aquela
água azul turquesa cristalina onde logo nos dá vontade de mergulhar. O
tempo ameno e convidativo apesar de ser inverno nesta altura do ano.
Das
atividades incluídas nesta visita fazia parte um passeio pela lagoa e
recife circundante num barco mais pequeno e com fundo de vidro por onde
podíamos observar a colorida fauna e flora marítima.
E,claro, o
snorkelling que nos permitiu ter um contacto mais direto com tudo isso.
Tão direto que ainda tenho os arranhões no meu joelho provocado pelo
coral tão próximo que vinha até à superfície da água.
E também um
passeio pela bonita ilha com praia de areia branca e uma floresta
protegida onde muitas aves nidificam. Inesquecível!
Após dois meses de labuta em Bundaberg, iniciei a minha viagem de retorno a sul fazendo paragem em mais um ponto turístico: Hervey Bay. A Vanessa acompanhou-me, chegámos de madrugada de autocarro e fomos hospedadas pelo meu anfitrião CS, um simpático alemão a viver na Austrália há mais de 20 anos.
Para além dos passeios de bicicleta junto à baía apanhámos o ferry para a
ilha Fraser, uma extensa ilha com 122 km de comprimento, considerada a
maior ilha de areia do mundo.
Visitámos a ilha de autocarro que nos
transportou não só pelo seu interior como inclusive pelo longo areal da
praia afora.
Banhámos os pés na água salgada do Oceano Pacífico e na água doce do Creek, um ribeiro de água límpida que atravessa a ilha.
Apreciámos
os ‘Pináculos’ formados na rocha e vimos o “dingo”, o cão australiano
que de manso não tem nada assemelhando-se mais a um lobo.
Percorremos
os trilhos areosos da ilha, observámos de perto aquela majestosa
floresta tropical de árvores altíssimas que crescem na areia e
banhámo-nos na água doce e transparente do lago Mckenzie.
A flora da Ilha
Fraser é única e diversificada. Mais de 865 espécies de plantas
prosperam na ilha que é também o lar de um pequeno número de espécies de
mamíferos, bem como de uma grande variedade de pássaros, répteis e
anfíbios. A combinação de dunas de areia inconstantes, florestas
tropicais húmidas e lagos fazem da ilha um local excepcional. Foi
declarada Património Mundial em 1992.
Sem dúvida a ilha Fraser é um
paraíso e era um local especial para o povo Butchulla que aqui habitava.
A chegada dos colonizadores europeus na década de 1840, em busca de
minerais e madeira de alta qualidade, provocou um enorme desastre na
vida destes aborígenes australianos que praticamente daqui desapareceram.
Outra atividade inolvidável em Hervey Bay foi o cruzeiro que fizemos para ir observar as baleias jubarte que, nesta altura do ano, se aproximam da costa às centenas para um merecido descanso antes da sua longa viagem de retorno à Antártida.
A baleia-jubarte, também conhecida como baleia-cantora, é um mamífero marinho da ordem dos cetáceos com peso médio de aproximadamente 40 toneladas. Realiza migrações entre as águas polares onde se alimenta no inverno e as subtropicais onde dá à luz a sua única cria, denominada baleote.
É conhecida pelo seu temperamento dócil e pelos seus saltos
espetaculares e consegue deslocar-se a uma velocidade de 27 km/h. Tal como com outras espécies de baleias do planeta, a sua população foi drasticamente reduzida pela caça
indiscriminada.
Foi um show verdadeiramente espetacular e
excitante presenciar tanta atividade,
tantos grupos de três, quatro ou cinco baleias que, curiosas que são, se
aproximam dos barcos exibindo e rodopiando os seus corpos, cantando e acionando o jato de água. Maravilha!
Despedi-me da Vanessa que retornou a Bundaberg e eu regressei a Brisbane de autocarro seguindo a linha costeira que serve Noosaville, Coolum Beach, Sunshine Coast, entre outras localidades.
Mais uma vez o meu amigo Chin foi fantástico e levou-me a
Byron Bay, terra a cerca de 150 km a sul de Brisbane onde tive um
“encontro imediato” com o Bruno, literalmente o “vizinho de baixo” em
Portugal e que eu não via há imenso tempo. Após anos a viver no
estrangeiro mudou-se para a Austrália tal como o amigo que veio com ele,
também português.
E juntos almoçámos no ‘Beloporto’, uma cadeia de
franchising criada por imigrantes portugueses que,
juntamente com o vinho rosé ‘Rosalina’, por mim aqui adotado como
presente ideal, constituíram as ‘reminiscências’ portuguesas que comigo
se cruzaram neste país.
No regresso a Brisbane parámos na Gold Coast onde vive a Pam, destemida viajante senior que eu conheci há 3 anos na Birmânia e com quem já havia estado este ano no Nepal.
Posto isto despedi-me do meu amigo nepalês, dos seus compatriotas e da sua
família e dirigi-me mais para sul para a última cidade que me
interessava, pelo menos por agora, visitar: Sydney.
Hospedei-me numa
‘hostel’ do centro onde de imediato conheci a Catalina, uma alemã
acabada de chegar à Austrália, e com quem logo me dirigi para o porto à
procura dos famosos ícones desta cidade: a Ponte da Baía de Sydney e a Casa da Ópera.
A Casa da Ópera, cuja construção se iniciou em 1959, é sem dúvida um edifício de grande beleza arquitetónica visto de qualquer prisma e é um dos edifícios de espectáculo mais marcantes a nível mundial.
A Ponte da Baía de Sydney, concluída em 1932, demorou 8 anos a ser
construída. É a ponte de arco em aço mais elevada do mundo que liga o
centro financeiro de Sydney com a costa norte, residencial e comercial.
Sydney
é a cidade mais populosa da Austrália, capital do estado de Nova Gales
do Sul e foi o local escolhido para a primeira colónia britânica no
país. Está localizada a 300 km da capital do país, Camberra.
Outro
símbolo desta bonita cidade sempre presente no horizonte é a Torre de
Sydney com 309 metros de altura e de onde se pode visualizar
praticamente toda a região metropolitana de Sydney.
Passei pelo
Jardim Botânico e decidi visitar igualmente o Jardim Zoológico para ver
de perto o Canguru que eu avistara ao longe, em grupos, nos campos do
norte e para ver o ainda desconhecido Koala. E outros animais e aves
típicas ou abundantes na Austrália, incluindo o nada bonito “Demónio da
Tasmânia”. Para além, claro, de animais provenientes de outros continentes e que também podemos ver noutros zoos do mundo.
Sydney tem
muita animação de rua por onde podemos ver também a descendência dos primitivos povos aborígenas que habitavam estas terras antes da chegada dos
britânicos, alguns dos quais fazem parte dos desalojados da cidade.
Outro acontecimento memorável na Austrália foi o encontro com o Ian, ex-companheiro de viagens e aventuras por Timor-Leste em 2011. Belas memórias e mais projetos de viagens durante aquele jantar em Darling Harbour, o antigo porto da cidade.
E foi a partir daqui que apanhei um cruzeiro designado de 'hop on hop off' pela possibilidade que temos de sair e visitar vários pontos no trajeto destes barcos e que me permitiu também contemplar a cidade de Sydney ao cair da noite.
Manly Beach
Goodbye Sydney! E adeus Austrália!
Obrigada pelas fotos e texto descritivo, muito bom!
ResponderEliminarAdorava conhecer a Austrália e NZ, bem ando a tentar a todo o custo, pelo que, ler e ver este post foi uma mais valia. Boa(s) Viagem(s), o melhor que se leva desta vida :)
Obrigada pelo comentário, Íris. Havendo mesmo vontade há sempre um jeito de darmos forma aos sonhos. Ficam então mais dicas no post seguinte. Boas viagens! ;)
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