De volta ao país das montanhas, das plantações de arroz em socalcos, dos rios mansos e bravos, dos lagos...
... para uma visita desta vez breve, de cerca de um mês, em agosto, tempo de monção. Um ápice para quem aqui passou cinco meses por ano, durante os últimos quatro anos.
Em Kathmandu e depois em Pokhara, o reencontro com os amigos nepaleses. E com amigos e companheiros de viagem de outras paragens. Tanta gente que não cabe nem vou referir aqui, já que me vou centrar no projeto com as crianças, começando pelo orfanato.
E reencontro então a Jyoti no mesmo edifício do New Vision Children's Home, no escritório novo. Sala recentemente cedida pelos proprietários que, graças a isso, subiram a renda da casa para o dobro. A Jyoti exerce as funções de presidente do lar e, apesar de haver uma comissão de mais de dez pessoas, é apenas ela que aqui vive e toma conta das dezasseis crianças.
E o reencontro com as crianças deste lar. Há mais de quatro anos que os conheço e é vê-los a crescer. Uns crescem e vão mudando as feições, outros ganham dentes novos. O caso do
Suraj que já se livrou dos dentes estragados e exibe agora uma dentição nova.
Há quatro caras novas na casa: a Rupa, a irmãzinha da Ruth que já tinha referido
nos posts anteriores, mas que eu ainda não tinha visto pessoalmente no
orfanato. Conheci-a o ano passado, junto da mãe que é paralítica e que mora numa aldeia
a cerca de 7 horas de viagem. Nessa altura, o pai ficara a tratar dos papéis para legalizar a sua vinda para este lar. O post dessa visita pode ser visto aqui.
O Rajeesh e a Arati são irmãos e eram praticamente crianças de rua quando foram trazidos para aqui há uns meses atrás. A outra cara nova é a Shanti, acabadinha de chegar de uma aldeia de outro distrito. Foi trazida pela Sunita, minha amiga e funcionária do hotel em que fico hospedada. Nestas fotos iniciais, os miúdos seguram alguns dos pequenos presentes que lhes trouxe e as canetas oferecidas pela amiga Lígia.
A Rupa é agora a mais novinha da casa, com três anos de idade, embora o Rajan, de cinco anos, tenha uma constituição física mais frágil devido à sua doença. Excetuando a Shanti, muito tímida e reservada, as crianças mostram-me as suas brincadeiras tontas e os seus conhecimentos, apontando Portugal no mapa-múndi.
Novidade é também a pequena biblioteca anexa à casa.
Os mais crescidos continuam a ajudar na cozinha, mas braço direito da Jyoti em todas as lides domésticas tem sido a Khusi, a sua sobrinha, de 16 anos de idade.
De forma a conciliar este trabalho com os seus estudos, ela levanta-se às 4 horas da manhã, prepara as refeições das crianças e vai para as suas aulas que decorrem das 06h00 às 10h00. Quando regressa a casa, faz a limpeza diária da mesma. A Jyoti tenta dar-lhe uma pequena compensação monetária mensal pelo seu trabalho.
De forma a conciliar este trabalho com os seus estudos, ela levanta-se às 4 horas da manhã, prepara as refeições das crianças e vai para as suas aulas que decorrem das 06h00 às 10h00. Quando regressa a casa, faz a limpeza diária da mesma. A Jyoti tenta dar-lhe uma pequena compensação monetária mensal pelo seu trabalho.
De resto, a roupa continua a estender-se ali pelo terraço e os miúdos continuam a gostar de tomar banho de caneco, principalmente nesta época de monção em que a água da chuva abunda e o calor aperta.
Muitas vezes, os dias são soalheiros e chove copiosamente à noite. Por vezes, as descargas são diurnas mesmo.
O problema é quando isso acontece dias seguidos provocando assim
inundações, deslizamentos de terra e destruições desastrosas, como veio a acontecer numa região a este de Kathmandu. O rio galgou o leito, inúmeras casas foram arrasadas e houve muitas perdas humanas.
Todas as crianças, incluindo a Rupa e o Rajan, andam na mesma escola que fica perto do lar. Estão na escola das 10h00 às 15h00, regressam a casa, trocam de roupa e organizam tudo nas prateleiras e nas gavetas dos armários,
devidamente identificadas com os seus nomes. Depois andam descalços pelo quintal ou calçam uns chinelos que ficam sempre à porta dos quartos quando entram.
É hora do lanche que a Deena ajudou a preparar. A Deena passou grande parte da sua vida também num orfanato, em Kathmandu. Agora mora em Pokhara, num quarto alugado, e desloca-se a este lar quase todos os dias, estando incumbida, pelos espanhóis que lhe pagam o ordenado, de apoiar os miúdos nos seus estudos.
O grupo de espanhóis, que já referi noutros posts, liderado pelo Javier e pela Susana, consegue angariar
dinheiro através dos donativos mensais de amigos e clientes, pagando
assim também a renda do edifício e a despesa com a escola das crianças. Fazem-no diretamente ao senhorio da casa e ao diretor da escola, não passando qualquer valor pelas mãos da Jyoti.
E os miúdos aplicam-se e fazem logo os deveres a seguir ao lanche. Fora de tudo isto está a Shanti, completamente desintegrada do grupo. A miúda carrega um semblante triste e um ar assustado que logo me saltou aos olhos.
E claro que mal cheguei, a Jyoti pediu ajuda para pagar contas de eletricidade em atraso, fazer compras em supermercados e levar o Rajan ao hospital. Devido ao seu problema, o miúdo tem imensas erupções cutâneas e aparecem-lhe inchaços no pescoço.
Uma vez que a situação dele é delicada e poderá vir a agravar-se, já o ano passado contactámos outro lar que acolhe apenas crianças portadoras do vírus da sida. O assistente social, que na altura se deslocou comigo e a Jyoti a casa do pai do Rajan, ficou a tratar de todo o processo burocrático visando a sua transferência para esse lar. O moroso processo, que levou mais de um ano, está agora pronto e há uma vaga no dito lar à espera do Rajan. Posto isto, lá vou eu com a Jyoti e o responsável desse lar falar com o pai do Rajan.
Acontece que o pai do miúdo recusa veementemente a sua transferência para esse lar, e por mais tentativas que tivéssemos feito para o convencer, nada o demove. A seu ver, o petiz é feliz com a Jyoti e se ele tiver problemas ela leva-o ao hospital, mais nada. A Jyoti confessa que ficaria mais aliviada sem a responsabilidade de ter o miúdo na sua casa, mas enquanto lá estive não houve volta a dar e o caso ficou neste pé.
Uma semana depois de eu ter chegado a Pokhara, chega ao Nepal a Margarida. Conhecemo-nos em 2011, em Timor-Leste e, apesar de termos continuado em contacto, só agora nos reencontrámos.
A Margarida trouxe uma mala carregadinha de roupa para as crianças oferecida pelos seus amigos da zona de Viseu. Distribuímos a roupa por várias vezes e logo a pequenada se aprontou com as novas vestimentas, dando-nos um show de passerelle.
A Margarida não se limitou a trazer roupa como ensinou a fazer. Cachecóis, pegas de cozinha, cestinhos, o que quer que fosse, feito de lã ou a partir de tiras de roupa velha. E trouxe elásticos para ensinar a fazer as pulseirinhas coloridas da última moda.
Mas não é tudo. Ela também trouxe sementes de Portugal. Muitas, muitas sementes de vegetais variados: rabanetes, espinafres, alface, couves...
E não poderia vir mais a propósito uma vez que o quintal estava novamente num estado lastimável. Tanto trabalho tivemos o ano passado para o limpar, mas a tarefa não teve continuidade. Como entretanto havia sido construído um muro lateral, o resto das pedras para ali jogadas juntava-se ao entulho de madeira e metal no local.
Apesar de tudo a horta lá ia dando uns legumes, difíceis de encontrar no meio de toda aquela frondosa vegetação...
E enquanto eu andava nas voltas burocráticas com a Jyoti, pelos departamentos governamentais da cidade, a Margarida não teve mãos a medir, deitou mãos à enxada, à picareta e às pedras, e fez este espetacular trabalho de arranjo da parte superior do quintal. Como ela é da área das ciências a adora trabalhar na terra e lidar com plantas, acho que lhe saiu algo parecido com as nervuras de uma folha. Simplesmente fantástico!
Depois foi pegar nos miúdos, passar-lhes as sementes para as mãos, explicar como fazer e responsabilizá-los cada um por seu canteiro. E foi vê-los felizes, a deitar mãos à terra e a cumprir na íntegra a sua incumbência. Vamos ver se continuam...
Depois deitámos mãos à obra para limpar a rampa adjacente às escadas de acesso que estava cheia de ervas daninhas, troncos e todo o tipo de lixo. Em seguida plantámos alguma relva para segurar a terra da parte mais inclinada.
Três dias depois chega a Pokhara mais uma amiga, uma amiga da Margarida que só conheci nesta altura. A Sandra, uma portuguesa a viver em Inglaterra. Foi mais uma ajuda preciosa no arranjo da parte inferior do quintal, tarefa que também contou com a colaboração da Deena e das crianças mais velhas.
Em breve os legumes começariam a crescer e dentro de poucas semanas muitos poderiam ser já consumidos.
A tempo de dar uma mãozinha nos trabalhos, veio o Fábio, um viajante português que me contactou através do Couchsurfing. De repente, estava ali formada uma eficiente equipa lusa.
O Fábio ficou apenas cinco dias em Pokhara. Mas, antes de prosseguir a sua viagem de volta ao mundo, quis deixar ainda o seu contributo através da oferta de algumas mochilas e de alguns géneros alimentícios, nomeadamente arroz e lentilhas.
Paralelamente a tudo isto, na altura em que eu recebia em Lakeside as amigas portuguesas, a Jyoti resolveu entregar, sem nada me ter dito, a pequena Shanti a um dirigente de outro lar, situado numa aldeia próxima, alegando não ter condições para cuidar de mais uma criança. Não descansei enquanto ela não me levou a esse local, na esperança de conseguir trazer a miúda de volta. E depois de umas horas de autocarro e várias horas de espera, lá dou novamente com aqueles olhitos perdidos que vacilavam de medo ou até pânico.
E o responsável daquele lar agradeceu... Contou-nos que a Shanti chorava todos os dias e passava o tempo a fitar a estrada, à espera que alguém a fosse buscar. Evidentemente, o homem não queria uma criança com esta atitude no seu lar, até as pessoas da aldeia pensariam que ele a maltratava. De bom grado a deixou vir connosco.
Ao despedir-me das crianças desse lar, oito no total, descobri que uma das meninas, mais propriamente a que está em primeiro plano na foto acima, é irmã do Parash, um dos miúdos mais novos do lar da Jyoti. Há cerca de quatro anos que não se veem.
E como as ligações rodoviárias daquela aldeia são bastantes esporádicas, lá nos metemos a pé ao caminho de regresso, por várias horas, desafiando a chuva. Ao mesmo tempo vamos contemplando maravilhosas paisagens de rios aprisionados em gargantas profundas que se lançam em liberdade em vales verdejantes.
No meu quarto de hotel, a Shanti toma um belo banhinho e veste uma roupinha nova. E descubro mais uma realidade cruel sobre a vida desta criança que, quando alguém lhe perguntara onde era a sua casa, respondeu que era no inferno: Aquelas marcas redondas, umas mais escuras outras menos, que enchem as suas pernas de cima a baixo, foram, como eu já suspeitava, perpetradas com ponta de cigarro pelo próprio pai, alcoólico. A miúda vivia com ele e a avó.
E havendo agora, por um lado, assuntos burocráticos a tratar para legalizar a sua situação no lar e, por outro, uma solução a ser encontrada para que a Jyoti a aceite definitivamente, a Shanti vinha todos os dias dormir ao hotel e ia na manhã seguinte, comigo ou com a Margarida e a Sandra, para o orfanato, onde passava o dia.
No caminho do orfanato para o hotel, eu aproveitava para ver outras crianças, outras gentes, pessoas amigas desde maio de 2010.
Aos poucos, a Shanti lá se ia integrando e ganhando confiança com todos, ela que, logo à partida, gostara deste lar e da própria Jyoti.
E claro que não faltaram os passeios até ao lago, os jogos e as brincadeiras na relva, nos dias em que a chuva dava tréguas. Em meados de agosto, a chuva caiu mais intensamente, noite e dia.
Aproveitando a presença da Margarida e da Sandra, que iam tratando da horta e tomando conta dos miúdos depois de eles regressarem da escola, desloquei-me de autocarro com a Jyoti para ir visitar a Ruth ao tal lar onde ela continua.
Ela adora as visitas e adorou os vestidos que lhe levei, ainda da roupa que a Margarida trouxe. A Ruth está muito mais conformada com a sua situação, continua a dizer que preferia estar no New Vision, mas já fica contente se ao menos os visitar durante as férias. E claro que já percebeu que não foi esquecida...
Uma vez mais, parte do percurso de regresso foi a pé, uma vez que os autocarros são incertos. Mas apesar das estradas rachadas, esburacadas e alagadas, vale a pena contemplar de perto aquele cenário verde luminoso dos enormes campos de arroz do vale do lago.
E aproveitámos também para ir visitar a terra da Jyoti, já que raramente ela tem oportunidade de lá ir. Fica a uns 200 Km de distância, o que significa quatro autocarros e umas dez horas de viagem.
E se por um lado ela tem menos afazeres nesta altura de monção, por outro este é o período de tempo mais arriscado para fazer esta viagem. A estrada é estreita, de um lado o rio e do outro a vertente montanhosa, de onde deslizam pedras, pedregulhos e terra.
Mas tudo corre bem e chegamos então à região do Terai, uma faixa de território que ocupa grande parte de todo o sul do país. É uma região constituída por pradarias pantanosas, savanas e selvas tropicais, também conhecida como o celeiro do Nepal e onde se situam dois parques nacionais: o de Bardia e o de Chitwan.
E finalmente, depois de apanharmos o quarto autocarro, chegamos a Nawalparasi onde vivem os pais e o irmão da Jyoti.
Foi uma visita bem molhada, nunca parou de chover. Ficámos apenas uma noite.
E foram ainda mais horas de viagem para regressar a Pokhara. Apanhámos protestos, deslizamentos de terra, cortes de estrada e avarias de autocarros cujos passageiros tiveram que seguir no nosso, todos à pinha, claro, ou não fosse isto o Nepal.
Em Pokhara contavam-se os dias para a partida da Margarida e da Sandra, ao fim de quase três semanas. A Margarida quis ainda comprar mais plantas, bem como utensílios de cozinha e alguns produtos alimentares, para deixar no orfanato.
Tanto ela como a Sandra ofereceram mais pastas e materiais escolares aos miúdos, fez-se outra distribuição de roupa e, no último dia, prepararam e ofereceram o lanche.
Uma despedida de arromba!
E fico eu com a criançada, que visito diariamente, ladeira acima e abaixo, e levo à escola em dias de escola...
...porque no Nepal aparecem sempre as festas e os feriados, os dias de gazeta sem escola, e aquela malta está sempre pronta para ir dar um giro até ao lago. Lá vamos.
E por vezes, têm direito a um apetitoso lanche no hotel.
Durante o tempo que passam na escola, ando com a Jyoti pelos mercados locais até porque ela própria também precisa de roupa e calçado... Mas há outros assuntos mais sérios a tratar, antes da minha partida. E o tempo urge.
Contas a pagar! E lá vou com a Jyoti falar com o fiscal de contas encarregue da contabilidade da instituição, para tentar perceber o que é o malfadado "renew", de que a ouço falar todos os anos. Será, talvez, uma espécie do nosso IRS, havendo impostos a pagar relacionados, sobretudo, com a renda de casa. Foram mais de duzentos euros só para isto.
Agradeço ao Adriano e à Laura, que aqui prestaram voluntariado em finais do ano passado, o donativo de 120 euros que enviaram e que veio ajudar a colmatar estas despesas, tendo eu própria assumido o restante. Para além do já mencionado em posts anteriores e do contributo dos voluntários, este foi o único donativo entretanto recebido através de mim.
Felizmente vão chegando outras ajudas ao orfanato, desta feita através de um outro grupo de espanhóis que se organizam de uma forma eficaz para ajudar as crianças numa base regular. O Rafa, que também por aqui passou o ano passado e que conheci nesta altura, conseguiu reunir um grupo de amigos que comparticipam mensalmente com determinado montante, destinando-se esta ajuda a comprar bens alimentícios que ofereçam às crianças a possibilidade de uma alimentação mais saudável como fruta, legumes, peixe, ovos, leite...
Acontece que o Rafa fez este acordo diretamente com os comerciantes, a quem envia o dinheiro, não podendo a Jyoti escolher outros géneros alimentícios que também estão na base da sua alimentação diária, como arroz e lentilhas, para não falar de tantos outros produtos que também fazem falta na casa. O facto de não poder gerir estas despesas não agrada à Jyoti e falei com o Rafa nesse sentido, até porque em breve haverá legumes na horta da casa e, assim, parte do montante poderia ser aplicado noutros bens.
O Rafa e os amigos trouxeram brinquedos, calçado e mais roupa para as crianças. Decididamente, de vestuário não precisam tão cedo...
O meu tempo em Pokhara ia encurtando a olhos vistos, mas era ainda obrigatório para mim tratar de alguns assuntos, relativamente às crianças, antes de partir. Um deles era levar o pequeno Parash a ver a sua irmã, a Zapana, de quem estava separado há cerca de quatro anos. E à segunda vez lá conseguimos o encontro, pedindo eu, é claro, ajuda aos meus "colaboradores" no que respeita a transportes. De mota, para ser mais rápido.
Foi emocionante assistir a esse encontro. Primeiro os dois muito tímidos no frente a frente, depois muito felizes, acarinhados por todos os outros miúdos. Brincaram, cantaram, dançaram. E ainda distribuí roupa, da que a Margarida trouxera, por todos eles.
Fico a saber que este lar corre o risco de fechar em breve, pelo que as crianças deverão regressar às aldeias, ao cuidado de algum familiar, ou distribuídas por outros lares. E, já noite, lá voltamos os três na mota, o Parash a fechar a pestana nos meus braços. Subi a ladeira de pedras, à luz do farolim, para o deixar no orfanato.
Outro assunto a deixar resolvido era tratar da papelada respeitante à Shanti para legalizar a sua situação no lar e para que, assim, ela pudesse começar a frequentar a escola, o mais brevemente possível. Recordo que o ano letivo, no Nepal, começa no mês de abril, logo após os festejos do novo ano nepalês.
Foi um processo moroso já que eram necessários certificados emanados da aldeia, longínqua, da miúda e os estabelecimentos governamentais em Pokhara estiveram vários dias fechados devido a feriados e festivais. Mas tudo se resolveu.
Quando me despedi das crianças do New Vision, a Shanti revelava uma alma nova, voltara a sorrir e a brincar, aplicada, confiante e cada vez mais integrada, neste que é, agora, o seu lar.
E depois da despedida das crianças na instituição, a despedida da Jyoti num barzinho de amigos junto ao lago. Os passeios e as voltas que damos juntas, as confidências e as mágoas que partilhamos, vão reforçando a nossa amizade a cada ano. É um apoio mútuo, de diferentes formas.
Sei que a situação do seu lar tem vindo a melhorar. Mas compreendo a angústia que ela sente por não poder gerir nenhuma das ajudas que lhe chegam. E para que ela se comprometa a tomar conta da Shanti, ou para recompensar a Khusi pelo seu trabalho na casa, ou para pagar as contas da eletricidade, ou levar os miúdos ao médico, ou para o que quer que seja que ela entenda, comprometi-me a dar-lhe um contributo financeiro mensal que lhe será feito chegar através dos meus amigos da Machhapuchhre Guest House ou do Hotel Liberty, em Pokhara. Independentemente de haver voluntários ou não, já que, ultimamente, mais ninguém veio.
O acordo foi selado na presença de um advogado e na presença de testemunhas, para que tudo seja cumprido. Tenho o original em nepalês e a respetiva tradução em inglês. E não me comprometi só com a Jyoti e o New Vision Children's Home já que, desde 2010, me vejo envolvida com outras instituições escolares que pretendo continuar a apoiar, na medida do possível.
É o caso da escola de Begnas Lake onde me desloquei para falar com o presidente sobre a situação do Manish que, pelo menos este ano, está a ser apadrinhado pela minha amiga Brenda. E o caso da escola de Ghachok cujo presidente me veio visitar em Pokhara, já que eu não tinha tempo para me deslocar a essa aldeia, mais distante.
No total serão cerca de 1500 euros anuais para ajudar estas instituições. Mesmo não sendo muito, é o que posso ir fazendo. Por minha conta. Receba ou não quaisquer ajudas que, a acontecerem, serão referidas, como sempre têm sido, neste meu blog, agora dedicado apenas a esta causa.
Durante a minha permanência em Pokhara cruzei-me ainda com muitos outros amigos, outras famílias nepalesas, incluindo a família de Chitwan que apoiei por uns anos desde 2005 e que, felizmente, agora estão bem. Também a Bina, que fez quilómetros para me visitar, vai tendo agora o apoio do marido que, depois de recuperar a saúde, voltou a trabalhar num país do Médio Oriente.
E com muitas outras crianças que gosto de ver regularmente, com quem brinco e me divirto, mesmo que eu não possa retribuir na medida do que dão.
Foram dias mágicos, como sempre, que se escapuliram num ápice. Um mês é muito pouco para estar no Nepal, rodeada de amigos, projetos, novidades e desafiantes imprevistos...
E para que este fascínio continue a surtir efeito, vieram ainda aquelas montanhas brancas, em prelúdio da monção que chega ao fim, derramar em mim todo o seu magnetismo, revelando-se em toda a sua pujança, no dia da minha partida.
E ficam cativas das pinturas, dos pintores nepaleses, e das minhas.
O voluntariado no Nepal ou a aquisição de uma destas pinturas são também formas de ajudar este projeto. Agradeço que me contactem se o quiserem fazer. Namastê!
Que bom que voltaste ao nepal, sabes que essas criancas precisam muito do teu carinho, wamor e ded7cacao. Por mais que viajes para outros paises voltas sempre ai ;) ♥♥
ResponderEliminarÉ isso, Martinha! Gosto de conhecer países novos mas não resisto a voltar ao Nepal. Acho que é importante para estas crianças perceber que nem sempre o voluntário está só de passagem e que há pessoas que voltam para os ver... Bji :)
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