Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

sábado, 6 de junho de 2009

MARROCOS

Um mundo diferente aqui tão perto! Juntou-se um grupo de amigos, 8 pessoas, partimos em duas carrinhas ‘pão de forma’. Travessia em ferry de Algeciras para Ceuta. Percorremos a costa marroquina e depois rumámos ao interior para visita à capital e ao deserto. 

Viagem de 15 dias com o seguinte trajeto: Ceuta - Tétouan, Tânger, Arzila, Larache, Rabat, Casablanca, El Jadida (Mazagão), Safi, Essaouira (Mogador), Chichaoua, Marrakesh, Agadir, Taroudant, Tazenakht, Ouarzazate (Alto Atlas), Vale du Dadés, Erfoud, Merzouga, Er-Rachidia, Ifrane, Meknès, Volubilis, Moulay Idriss, Fez, Al Hoceima, Ketama, Chefchaouen (Rif) – Ceuta.

A conquista de Ceuta, em 1415, marcou o início de uma série de conquistas portuguesas na costa marroquina. Após a expulsão de judeus e muçulmanos de Portugal, em 1497, milhares de portugueses fixam-se em Marrocos. A segunda vaga de refugiados ocorreu durante a ocupação de Portugal pela Espanha (1580-1640) que fica com Ceuta. Há vários vestígios de cidades e fortalezas militares portuguesas em Marrocos.

Tetouan, Grutas de Hércules

A cidade de Tânger situa-se junto ao estreito de Gibraltar, onde começa a orla atlântica de Marrocos. Em 1661 é oferecida aos ingleses como parte do dote da rainha Catarina de Bragança. Vestígios da presença portuguesa: fortaleza, igrejas e a catedral N. Sra. da Conceição. A Gruta de Hércules, perto de Tânger, é, segundo a lenda, o lugar onde a figura mítica de Hércules descansou depois de fazer as suas 12 tarefas.

Larache, Rabat

Em Arzila, ou Asilah em árabe, destacam-se a Torre de menagem, as muralhas, o fosso e em Laraxe, outra pequena cidade marroquina da costa atlântica, também existem vestígios portugueses.

Mazagão ou El Jadida em árabe foi também uma possessão portuguesa em Marrocos. Foi fundada pelos portugueses em 1513 acabando por se tornar o seu principal entreposto atlântico. Em 1769 esta cidade-fortaleza é abandonada, sendo a guarnição militar transferida para o Amazonas (Brasil), onde construiram uma nova cidade (Nova Mazagão).

Safi

Em Safi: O “Castelo do Mar” mandado erguer por D. Manuel I, a catedral, muralhas, casario, ruas interiores e o "Castelo da Terra" com elementos manuelinos (1508-1541).

Essaouira encantou-nos.

O conjunto histórico da cidade encontra-se classificado como Património Mundial pela UNESCO. Nele destacam-se as muralhas e baluartes, onde ainda podem ser apreciadas as antigas peças de artilharia portuguesas, assim como a primitiva igreja e as fortificações na pequena ilha de Mogador, fronteira ao porto.

Em Essaouira desviámo-nos da costa para ir visitar Marrakesh, cidade encostada à majestosa Serra do Atlas, de cumes cobertos de neve durante todo o ano.

Marrakesh

De uma qualquer esplanada dos restaurantes em redor apreciamos a Praça Jemaa El Fna, um pitoresco mercado. Um mundo surrealista desenrola-se aos nossos olhos ao som do chamamento para a oração na mesquita. Contadores de histórias, dentistas, encantadores de serpentes, acrobatas, aves e macacos amestrados, vendedores de banha da cobra… A música e o ambiente contagiam-nos.

A Medina de Marrakesh, o ‘souk’ (mercado do povo), é um autêntico labirinto que expõe as maravilhas do artesanato tradicional. Um verdadeiro prazer caminhar por estas vielas, entre os camponeses do Atlas e os homens do sul que aí fazem as suas compras. Regatear faz parte.

Palmar, Koutoubia

Era a primeira vez que visitava um país africano e uma civilização tão diferente da nossa. Tudo me encantava. Hotéis maravilhosos, cenários de ‘mil e uma noites’, onde nos recebem com a maior hospitalidade. A bons preços, para turistas. Mas eu gosto de conhecer os mundos dos que lá moram. Os seus costumes, hábitos, gostos. Afastei-me à socapa do grupo para uma ‘incursão’ no mundo nocturno marroquino. Queria ver a dança do ventre e as odaliscas num espaço local. Correu tudo bem mas as constatações relativamente a uma mentalidade tão diferente e a um ‘mundo feminino’ tão distante do nosso, constrangem. Isto foi em 1991 e desde então não voltei lá. As coisas terão já mudado bastante.

Regresso à costa. Tal como fizéramos com Casablanca, uma das maiores cidades do continente africano nascida na alvorada do séc XX, decidimos também evitar Agadir, cidade nova reconstruída após o terramoto de 1960. Tínhamos só 15 dias e preferíamos passá-los em sítios mais pitorescos, fora das grandes cidades. Partimos de novo para interior e ‘descobrimos’ Taroudant que muito nos agradou. Continuação para Ouarzazate e depois o deserto a partir de Erfoud. Rumo a norte, com paragens e visitas a Ifrane, Meknes, Volubilis, Moulay Idriss, Fez. 

Partimos de novo para interior e ‘descobrimos’ Taroudant que muito nos agradou. O hotel era espectacular. Continuação para Ouarzazate e depois o deserto a partir de Erfoud. Daqui rumo ao norte, com paragens e visitas a Ifrane, Meknes, Fez.

Ouarzazate

Outro lugar maravilhoso. O sul por onde o tempo não passou. A vida desenrola-se à volta de oásis e kasbahs contrastando com o vasto planalto desértico que rodeia Ourzazate. No centro ergue-se orgulhosamente o kasbah de Taourirt de cor terra, construído por Glaoui. Panorama deslumbrante: a aldeia fortificada, o vale, os oásis, as montanhas. Aqui as mulheres tecem os famosos tapetes Ouazguita, célebres pelos padrões geométricos e simbólicos, vermelhos e laranjas sobre fundo preto.

Vale do Dadés

O rio Dadés talhou no calcário gargantas espectaculares com paredes vertiginosas. É também conhecido como o ‘Vale das mil Kasbahs’ que lembram as lutas de influências nesta zona, um cruzamento de comunicações. As grossas e rudes muralhas de adobe e as suas torres truncadas perpetuam a mais pura arte berbere com a mesma decoração que os tapetes, as cerâmicas ou as jóias.

Merzouga

Meknes, Fez

As crianças abordam-nos, riem-se, seguem-nos, afáveis.

A relação dos marroquinos com os turistas portugueses é muito boa, eles sentem afinidades históricas, e não só, connosco. São gentis e até baixam mais os preços sabendo que não temos tanto poder de compra como outros turistas europeus. Pelo menos foi esta a sensação com que fiquei.

Al Hoceima

A desilusão em Al Hoceima, uma praia repleta de gente. Decidimos não pernoitar lá e ir ficar mais adiante. Parámos uma ou duas horas depois no que seria um local estratégico, segundo o mapa, na recta final da viagem. Saímos das carrinhas naquela de procurar um hotel. Eram só homens na rua. Vestiam preto, tons escuros. Queimavam não sei o quê, a rua envolta em fumarada. Era a hora do lusco-fusco. E começa um ’filme’ em tons cinza: os homens fitam-nos e começam a dirigir-se, lentamente, para nós. Parecia o mundo dos ‘mortos-vivos’. Foi o tempo de correr para os carros e sair dali a alta velocidade.

Fomos perseguidos por ‘chaços velhos’. Conduziam ao nosso lado, fizeram-nos parar, queriam saber de onde éramos, o que fazíamos ali. Deixaram-nos seguir em paz. Esse local era Ketama. Atravessávamos os meandros das plantações de droga…

Chegámos noite alta a Chefchaouan e acordámos no dia seguinte com uma localidade esplendorosa derramada aos nossos olhos. Linda! Em tons de branco cal, tijolo e azul vibrante. As tribos das montanhas do Rif deambulando por ali com os seus trajes típicos.

Chefchaouen

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