Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Norte da Índia

E entrei no estado do Rajastão, terra de guerreiros, desertos, fortes, templos, marionetas e saris coloridos. Às cinco da matina o Nitin foi buscar-me ao autocarro e deixou-me numa hospedaria no centro da cidade de Udaipur. Só depois de umas horitas de sono reparei bem onde estava: a varanda do hotel dava mesmo sobre o lago.
Udaipur é conhecida como a "cidade dos lagos" e também pelos seus palácios da era Rajput, muitos convertidos em hotéis de luxo. O Lago Pichola tem 4 km de comprimento e 3 km de largura e foi concebido por Maharana Udai Singh II.
Na margem leste do lago ergue-se o Palácio da Cidade construído em épocas diferentes a partir de 1559. A entrada principal é através do portão de três arcos - o Tripolia, construído em 1725.
Udaipur, Palácio da Cidade
As varandas do palácio oferecem vistas panorâmicas sobre a cidade e o lago Pichola com as suas duas ilhas: Jag Niwas e Jag Mandir.
O Palácio do Lago, construído em 1743-1746, é feito de mármore e ocupa uma ilha inteira no Lago Pichola, a ilha Jag Niwas. Foi originalmente construído como um palácio de verão real, mas agora é um luxuoso hotel de cinco estrelas.
Na visita ao palácio conheci o Michael, alemão, e com ele partilhei bons e divertidos momentos na descoberta da cidade.
Jag Mandir é uma outra ilha no Lago Pichola com um requintado palácio e um extraordinário jardim.
Nas margens do lago há muitos ghats para tomar banho e lavar roupa. Já ocorreu o lago secar em épocas de elevadas temperaturas.
Teleférico em Udaipur
Ao pôr do sol visitámos o Monsoon Palace, ou Palácio Sajjan Garh, estância de verão dos Marajás situado no topo de uma colina com vista para todos os lagos.
O Templo Jagdish é um grande templo hindu no centro de Udaipur dedicado ao deus Vishnu. Foi construído em 1651 e é um exemplo da arquitetura Indo-ariana.
Noites entretidas com espetáculos de danças e marionetas e jantares na companhia de James Bond e o filme 'Octopussy'.

Continuei a minha viagem virando a oeste, para Jaisalmer. A chamada Cidade Dourada localiza-se numa colina de arenito amarelado, coroada por uma fortaleza que domina a cidade e ainda em total atividade. O forte foi construído  em 1156 pelo governante Bhati Rajput Jaisal tendo sido palco de muitas batalhas.
Jaisalmer
Cerca de um quarto da população da cidade ainda vive no interior do forte onde há casas, lojas, hotéis, havelis e templos, como o templo hindu Laxminath e vários templos Jainistas profusamente ornamentados, para além do Palácio Real, Raj Mahal.
A cidade cresceu e enriqueceu como um entreposto na rota comercial que ligava a Índia à Ásia Central. Os “havelis”, mansões belíssimas,  finamente esculpidas na pedra e  faustosamente decoradas, são testemunhas das riquezas acumuladas pelas altas taxas cobradas às caravanas que utilizavam a rota pelo deserto.
Templos Jainistas
As ruas de Jaisalmer
Eu própria fiquei muito bem instalada num desses 'havelis', onde me acolheu o Vijay. O sítio, pelos vistos, é também do agrado de outro tipo de 'hóspedes' que, por vezes, me barravam o acesso a casa...
De vários pontos da fortaleza há vistas magníficas para a região e o pôr do sol, no coração do deserto Thar.
E foi para aí que me dirigi na véspera de Natal, uma ocasião excelente para fazer um safari de camelo pelo deserto, transpondo os morros de areia, de todas as formas e tamanhos, cobertos com arbustos e  tufos de capim.
Aldeia no deserto Thar
O acampamento no deserto
As dunas, o sol e, à noite, as estrelas
A noite da consoada foi passada nas dunas à volta da fogueira com amigos alemães e suecos que vieram devidamente preparados com canções natalícias, iguarias e prendas, não descurando os gorros vermelhos e uma pequenina árvore de Natal...
Noite e Dia de Natal no deserto
E dormimos num 'hotel' de milhares de estrelas cintilantes... Absolutamente magnífico!
Ao nascer do sol preparamo-nos para partir e regressar à 'civilização'.

Seguidamente, quedei-me uns dias em Jodhpur, outro popular destino turístico do Rajastão, com muitos palácios, fortalezas e templos. A cidade é conhecida como a "Cidade Azul" devido às numerosas casas pintadas de azul, cobalto e turquesa em torno do majestoso Forte. O meu anfitrião foi o Arvind que me mostrou alguns pontos da cidade.
O forte Mehrangarh eleva-se 125m acima da cidade e é uma das maiores fortalezas na Índia, de onde desfrutamos vistas magníficas de toda a cidade. A sua construção começou em 1459 durante o reinado de Rao Jodha, fundador da cidade de Jodhpur. No entanto, a maior parte da estrutura existente é do período de Jaswant Singh (1638-1678). Os diversos palácios, famosos pelos seus entalhes, têm enormes salões magnificamente decorados e aprazíveis pátios.
Jodhpur

De comboio, continuei a minha viagem, agora rumando sempre a leste, na companhia de uns simpáticos jovens indianos. Compramos a comida à janela durante as paragens e avistamos esta região de Planícies da Índia por onde passam os rios Ganges e Yamuna.
Ainda de madrugada chegamos a Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh. Depois do café da manhã em local típico, e perscrutando a neblina matinal, percorri as ruas da cidade para visitar, por umas horas, alguns dos seus famosos monumentos.
Lucknow
Bara Imambara: mausoléu de Asaf Ud Daula, construído no século XVIII. O vestíbulo deste mausoléu, de 50 metros de comprimento, é um dos maiores do mundo. O conjunto inclui também uma mesquita, datada da mesma época.
Chhota Imambara ou Hussainabad: construído em meados do século XIX alberga os túmulos de Ali Shah e de outros familiares.
Em frente do mausoléu está a torre de relógio mais alta de toda a Índia, com uma altura total de 67 metros, construída também no século XIX. Perto, Satkhanda, uma torre de observação inacabada.
Fundada no século XIII, a cidade não se desenvolveu senão a partir do século XVIII com o Império Mogol, que designou um 'nawab' para governar a região. Esta dinastia de nababos durou até à anexação do território pelos britânicos, em 1856. Lucknow foi então cenário de sangrentos confrontos relacionados com a Revolta dos Cipaios.
A guarnição, com base na Residência, foi sitiada por forças rebeldes - o cerco de Lucknow. Britânicos e alguns indianos fiéis ao império resistiram ao assédio, que ocorreu em 1857, no conjunto de edifícios da Residência.
As ruínas da Residência são hoje reminiscências do papel de Lucknow na rebelião indiana de 1857, também conhecida como a Primeira Guerra da Independência da Índia. No jardim estão enterrados os corpos de todos os que morreram durante os ataques.

Nesse mesmo dia continuei de comboio para Gorakhpur, onde jantei com o Vishal (nem sempre me lembro de tirar fotos). E daqui desloquei-me a Kushinagar, a duas horas de autocarro.
Kushinagar é um dos quatro principais locais de peregrinação budista relacionados com a vida de Gautama Buddha. Os outros três são Lumbini, Bodhgaya e Sarnath (posso dizer agora que já os conheço todos). Foi neste local, perto do rio Hiranyavati, que Gautama Buddha alcançou o Parinirvana (ou 'Nirvana Final') após a sua morte. Muitas das arruinadas stupas e viharas datam do século III a.C. e foram redescobertas no século XIX.
A par com as ruínas, Kushinagar tem hoje templos budistas construídos pela Índia, China, Sri Lanka, Tailândia, Birmânia, Coreia do Sul, Tibete e Japão. Fiquei alojada no templo da Birmânia. O Projeto Maitreya tem planos para construir aqui uma estátua de bronze do Buda Maitreya com 152m.
Kushinagar
Os dois lugares mais visitados em Kushinagar são a Stupa Parinirvana construída no local de falecimento do Buda, ao lado da qual se situa o Templo Mahaparinirvana que contém a imagem do Buda deitado, descoberta nas escavações, e o local da sua cremação, Makutabandhana, também conhecido como Stupa Ramabhar.
Via Gorakhpur dirigi-me, no último dia do ano 2011, para Sunauli e atravessei a fronteira para o lado do Nepal na companhia do Danny, um indiano de Bangalore, que seguiu para Kathmandu. Depois das formalidades fronteiriças eu continuei para Pokhara, onde me encontro, num autocarro noturno completamente à pinha com nepaleses e indianos. Foi a minha passagem de ano.
Fiz então o balanço desta minha longa viagem de quase cinco meses pela Ásia, percorrendo quatro países (Indonésia, Timor-Leste, Sri Lanka e Índia), de e para o Nepal. Sete voos de avião, algumas viagens marítimas e muitas viagens terrestres. Muitas vezes alojada por amigos 'couchsurfers' e em hotéis sempre fixei um limite, por exemplo de 300 rupias na Índia, preço que me permitia ter um quarto razoável com wc interior. Não sou de luxos nem extravagâncias mas digamos que escolhi um 'caminho do meio', pois era possível ainda poupar mais, por exemplo nas viagens de comboio pela Índia, mais baratas que o autocarro. Só que têm que ser reservadas com antecedência e eu nunca sei bem quando vou partir... Fazendo a média, gastei menos de 20 euros por dia no conjunto da viagem. E só nos três meses na Índia gastei cerca de 13 euros por dia. Ora, a viver em Portugal...