Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sul da INDIA

Visitei inúmeros locais na minha viagem de 3 meses pela Índia, no final de 2011. Experiências intensas, muito a relatar, num país que não é novo para mim a não ser pelo facto de agora fazer a viagem a solo. Deixo o resumo e a reportagem fotográfica, que dividirei em 3 partes, dos sítios que percorri, as pessoas que conheci e os amigos que reencontrei.
Cheena vala, redes de pesca chinesas, Kochi
Foram 3 os estados por onde passei no Sul da Índia e de que vou dar conta neste post: Kerala, Tamil Nadu e Karnataka para além do território da união de Pondicherry.
Vinda de Colombo, capital do Sri Lanka, aterrei com a Kingfisher em Kochi, Kerala, no início de Outubro. Dei de caras com os resquícios da herança portuguesa que aqui floresceu após o desembarque de Vasco da Gama em Calecute, hoje Kozhikode, em 1498.
Na sequência de confrontos com o samorim de Calecute, entre 1500 e 1503 Pedro Álvares Cabral e Afonso de Albuquerque estabeleceram relações amigáveis com o rajá de Cochim, onde construíram uma fortaleza com a sua permissão. O bairro é hoje conhecido como Fort Kochi e no seu interior encontra-se a Igreja de São Francisco, originalmente construída pelos portugueses. É a mais antiga igreja Europeia na Índia e tem um grande significado histórico como testemunho das lutas coloniais europeias no subcontinente indiano.
Vasco da Gama morreu em Cochim em 1524, na sua terceira visita à Índia e, antes do traslado para Lisboa, o seu corpo foi inicialmente sepultado nesta igreja, sendo o seu túmulo ainda visível no chão. Os franciscanos mantiveram o controlo sobre a Igreja até Cochim ser capturada pelos holandeses em 1663.
No meu caminho cruzam-se outros viajantes como eu, de nacionalidades várias, e os habitantes locais com quem contacto no dia-a-dia ou através do Couchsurfing.
Adorei conhecer esta bela e itinerante família israelita, alojados no mesmo hotel. Com eles assisti durante horas à cerimónia sagrada do Yom Kippur numa antiquíssima sinagoga hebraica e percorri de barco as ‘backwaters’ de Allepey.
Trata-se de um autêntico labirinto aquático, uma rede de canais, rios, lagos e enseadas interligados, com mais de 900 km de vias navegáveis. Palmeiras e coqueiros reforçam a tonalidade verde da paisagem circundante e permitem uma série de pequenas indústrias como a extração do óleo de coco e o fabrico de cordas.
Os remansos têm um ecossistema único - a água doce dos rios encontra a água salgada do Mar da Arábia – propício a muitas espécies únicas de vida aquática, incluindo caranguejos, sapos, mudskippers, lontras, tartarugas e aves aquáticas como andorinhas, kingfishers, biguás.
Allepey, Kerala
Falando de animais, as cabras passeiam livremente nas ruas de Cochim e os elefantes são uma parte integral da vida diária de Kerala. Os elefantes indianos são amados e reverenciados e a eles é dada uma posição de prestígio na cultura do estado.
 Kathakali show, Kochi
Kerala, sempre verde e tranquila sob o calor do sol dos trópicos, é um local de praias, especiarias e magias, famoso pela prática ancestral da medicina ayurvédica, a Ciência da Vida ou da Longevidade. É também palco de uma mistura de culturas, músicas, danças e espetáculos, como o Kathakali e suas máscaras, que encenam fantásticos mitos e lendas da Índia.
Munnar
Fugindo ao calor e aos mosquitos de Cochim subi para as terras mais frescas de Munnar, uma paisagem verde ondulante de colinas atapetadas com extensas plantações de chá, que visitei com um simpático casal greco-francês, o Marios e a Emmanuelle.
Estufas de flores e ninhos de abelhas selvagens
Continuei para Kodaikanal, uma estância de montanha em Tamil Nadu, excelente para passeios e com paisagens supostamente belas… não fosse o frio, a chuva e o nevoeiro que não me facilitaram vistas nem visitas.
Kodaikanal
Não me quedei muito tempo, optando pelas temperaturas mais elevadas da antiga cidade de Madurai. Depois do almoço a convite dos meus companheiros de autocarro, fui recebida pela jovial Marie-Laure, uma professora francesa a lecionar na universidade local. Com ela e o irlandês Mark, também seu hóspede na altura, visitei o famoso Templo Sri Meenakshi, um dos lugares de peregrinação mais visitados no sul da Índia.
 Madurai
O complexo deste templo, um exemplar da arquitetura dravídica, possui 12 gopurams (portal em forma de torre escalonada), a maior com 52 metros de altura, contendo esculturas de diversos deuses, deusas, demónios e heróis.
Segui para Pondicherry com o Mark num autocarro ‘sleeper’, com camas para passar a noite. Chegámos de madrugada com mais dois amigos canadianos.
Pondicherry
Pondicherry, anterior colónia francesa que faz hoje parte da União Indiana, testemunhou muitas batalhas atrozes entre ingleses e franceses. Os franceses administraram o território por 300 anos que hoje é tido como um monumento vivo da cultura francesa na Índia.
Matrimandir, Auroville
Depois das visitas, incluindo o Ashram de Sri Aurobindo, continuámos para a Cidade do Amanhecer, mais conhecida como Auroville, a dez km de Pondicherry. Trata-se de um lugar multicultural único, que combina ioga e ciência moderna com a melhoria da qualidade de vida em todos os aspetos. Foi fundado por Mirra Alfassa, uma colaboradora espiritual de Sri Aurobindo, mais conhecida por "The Mother", no ano de 1968, com o propósito de realizar a unidade humana - na diversidade.
Aqui passámos uns belos dias alojados na quinta orgânica do Snehal e alugámos uma scooter para nos deslocarmos pela vasta área.
Continuando de autocarro, entrei no estado indiano de Karnataka e dirigi-me para Bangalore onde fui hospedada pelo Joy, um amigo que eu conhecera há dois anos na Madeira.
 Bangalore
Paragem de uma semana, ideal para descansar neste belo condomínio enquanto assistia aos festejos do Diwali, festival das luzes, na agradável companhia de amigos indianos e vários outros do Ruanda, a estudar nesta moderna cidade, capital tecnológica da Índia.
Aqui fui mimada e acarinhada com os cuidados e os cozinhados da Manisha e da Poupoute que me fizeram sentir 'em casa'.
A partir de Bangalore desloquei-me a Mysore, uma elegante cidade, capital cultural do sul, terra de palácios e centro de todos os festivais. A seda e o incenso desta cidade são famosos e os aromas de jasmim, rosa, almíscar e sândalo perfumam o ambiente.
 Mysore
Fui hospedada pela família do Manish mas o sorridente Suresh foi quem me passeou de scooter pelos vários pontos de interesse da zona, templos, igrejas, museus e parques, incluindo os jardins de Brindavan, a 20km da cidade, onde assistimos ao show noturno de fontes musicais. Com ele visitei também familiares e amigos.
E, obrigatoriamente, percorri o suntuoso palácio ‘Amba Vilas’, reconstruído em 1912 após um incêndio, residência da antiga família real de Mysore. O seu interior está repleto de espelhos e vidros coloridos, de solos em mosaico e portas de madeira esculpidas, revelando o requintado gosto da família do Maharajá.
Palácio do Maharajá
Regressei a Bangalore de comboio e continuei em autocarro noturno para Hampi, onde se situam sensacionais ruínas que bem expressam a prosperidade do reino de Vijayanagara nos séculos XIV a XVI. Este império ascendeu como um baluarte contra os avanços muçulmanos no sul da Índia, o qual controlou por mais de dois séculos.
Templo Virupaksha, Hampi
A capital do Império Vijayanagara ocupa uma área de cerca de 26 quilómetros quadrados no vale do rio Tungabhadra. Já no século XV era visitada por italianos e persas e no século XVI foi visitada pelos portugueses Duarte Barbosa, Domingo Paes (viajante que viveu em Hampi durante dois anos) e Fernão Nunes. Todos eles deixaram relatos da grandiosidade e beleza de Hampi.
No "coração" de Hampi existem cerca de 350 templos. Existem também fortificações, um vasto e muito elaborado sistema de irrigação, esculturas, pinturas, estábulos, palácios, jardins, mercados, etc. Foi declarada Património Mundial da Unesco em 1986.
Acompanhou-me por vezes o cordial Murali e, no restaurante tibetano do Manu, nepalês de nascimento, aprendi a confeção de alguns pratos vegetarianos. Passei também algumas horas no Hampi Children’s Trust, uma organização de caráter social destinada a apoiar crianças desfavorecidas.
De Hampi, e passando por Hospet, regressei à costa ocidental acompanhada pelo Jay e pelo Aure, ambos da Catalunha. Muitos e agradáveis momentos passados em conjunto na Om Beach e em Gokarna com conversas em português e ‘espanholês’ com sotaque brasileiro. O Jay viveu uns anos no Brasil e também na Índia quando se aventurou mundo fora nos seus 20 anos. Um dotado músico e uma enciclopédia viva.
Om Beach
Paradise Beach
De autocarro, autorickshaw ou a pé deslocava-me da Om Beach a Gokarna onde reencontrei, por mero acaso, o Andrea, um italiano que conheci em julho em Pokhara, no Nepal. Fora precisamente ele que me falara desta povoação, uma das suas favoritas.
Aqui me fixei por uns dias, gozando uns belos dias de praia e refrescando-me com água de coco na loja do Gabriel Fernandes, um indiano com raízes portuguesas perdidas no tempo.
Gokarna
E como por aqui há sempre uma festa ali ao lado, um festival sempre à mão, bombinhas e foguetes a estourar, fogos de artifício a iluminar as ruas, muita cor e muita música a animar, podemos dizer que acabei em pompa os meus dias em Karnataka.

2 comentários:

  1. Continuo a agradecer. Real para ti, virtual para mim. Bem hajas! Sê feliz! Bjs e abraço

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  2. Obrigada pelas palavras... mas quem és tu 'sister'? Sê feliz também! Abraço

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