Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Casamansa

Formalidades de fronteira no posto de imigração de Jiboro (Gâmbia). A carrinha de transporte público que apanhei em Brikama segue até Seleti, já no Senegal, onde nos abastecemos com alguma comida. Os cidadãos portugueses não necessitam de visto. Depois apanhamos uma carrinha '7 places' para Ziguinchor. Estamos na região de Casamansa, que atravesso nos dias 3 e 4 de março, depois de uma noite naquela cidade.

Casamansa é uma região do Senegal localizada ao sul da Gâmbia e a norte da Guiné-Bissau, atravessada pelo rio com o mesmo nome. Tem uma paisagem diversificada, com manguezais, florestas tropicais e praias.

Não se sabe ao certo se foi o português Dinis Dias em 1445 ou Alvise Cadamosto (veneziano), ao serviço do Infante Dom Henrique de Portugal em 1456, os primeiros europeus que aqui chegaram. ‘Casamansa’ teria sido o nome dado pelos portugueses à região que foi outrora o reino de Kasa. O rei ou imperador (‘mansa’) era um importante comerciante dos portugueses e Casamansa recebeu o seu nome da adaptação portuguesa de ‘Kasa mansa’ (rei de Kasa).

Ziguinchor é a principal cidade desta zona e um importante centro económico, com cerca de duzentos mil habitantes, caracterizada pela diversidade dos seus grupos étnicos, em que se destacam os Jolas (ou Diolas), os Mandingas, os Wolofes, os Fulas, os Mancanha, os Manjaco, os Soninquês, os Sererês e os Bainouk.

A cidade foi fundada pelos portugueses no século XVII, mais precisamente em 1645, como um presídio sob a administração da Capitania de Cacheu. Na década de 1690 já existia no local uma fortificação portuguesa, a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, com algumas peças de artilharia e uma pequena guarnição, encarregada de defender o comércio local e o proteger das investidas estrangeiras. A introdução do Cristianismo acompanhou a expansão dos negócios no território.

No século XVIII, portugueses e franceses combateram entre si na região e em 13 de maio de 1886 Casamansa foi definitivamente cedida à França  pela Convenção Relativa à Delimitação das Possessões Portuguesas e Francesas na África Ocidental. 

Apesar do estabelecimento de fronteiras, a população local continuou a falar o crioulo de Casamansa, baseado no português, que é considerado um dialeto do crioulo da Guiné-Bissau. O crioulo tornou-se na língua de comunicação interétnica e as missões cristãs também usavam o crioulo como língua litúrgica. Os Crioulos de Ziguinchor eram conhecidos como "portuguis" na população local. 

Mesmo após a independência do Senegal em 1960, as diferenças étnicas e culturais entre os povos de Casamansa, maioritariamente diolas, e os povos da região norte do Senegal, maioritariamente wolofes, continuaram visíveis, motivo que leva Casamansa já há alguns anos a lutar pela sua própria independência. 

Em 1982, durante uma manifestação em Ziguinchor com a presença de mais de 100 mil pessoas de várias etnias reivindicando a independência da província, houve repressão pelas forças de segurança que causou mais de mil mortos. Desde então, o MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamansa, criado em 1947) tornou-se um movimento separatista que optou pela luta armada, o que tem levado a uma série de confrontos violentos com o governo senegalês.

Catedral de Santo António de Pádua

Em Ziguinchor levantei dinheiro no banco CBAO no dia da chegada, já a contar também com a Guiné-Bissau em que a moeda é a mesma (o Franco CFA da África Ocidental) e, na manhã seguinte, dirigi-me ao Consulado da Guiné-Bissau para tirar o visto (20.000 CFA). Logo depois dirigi-me à ‘gare routière’ para seguir viagem.

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