Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quinta-feira, 21 de março de 2019

GUINÉ-BISSAU

Saí de Ziguinchor às 13h30 numa carrinha direta para Bissau, no dia 4 de março.

Rapidamente chegamos à fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau onde todos saímos da carrinha para passar a pé pelos postos de controle de passaporte e alfândega, primeiro da saída do Senegal e depois da entrada na Guiné-Bissau. As gentes locais pagam uma taxa de 1000 francos para entrar. Eu não paguei mais nada nem tive quaisquer problemas na viagem. 

No total são cerca de 150 km de distância para percorrer através de estradas manhosas, esburacadas, poeirentas, com obstáculos e inúmeros checkpoints, em que a polícia controla e tenta obter uns ‘trocos’ daqueles que transportam mais bagagem ou bens suspeitos, exigindo a abertura dos sacos.

Serpenteamos através de caminhos de terra vermelha que atravessam os mangais, cruzamos os rios Cacheu e Mansoa, passamos pelas povoações de São Domingos, Ingoré, São Vicente, Bula e várias tabancas. 

A viagem demora 5 horas, às 18h30 estamos em Bissau. Mas o maior problema revela-se à chegada: a carrinha para perto do aeroporto e as estradas para o centro estão cortadas. É Carnaval! As ruas estão cheias de gente, os táxis não circulam.

O Baye Fall, um dos passageiros da carrinha que transportava dois cães no tejadilho e com quem conversei durante a viagem, convidou-me para jantar em casa dele enquanto esperava que a circulação fosse restabelecida. E já era noite quando finalmente fui de táxi para o centro onde o Stefan me reservara um quarto no Hotel Kalliste.

No dia seguinte, percorri as ruas de Bissau com o Stefan apreciando a cidade e o seu Carnaval.

O desfile decorreu na Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria e este ano teve como tema a "Salvaguarda da Memória Coletiva", com o objetivo de valorizar e preservar a identidade cultural guineense.

O Carnaval em Bissau é uma grande manifestação cultural, uma celebração vibrante e diversificada onde várias etnias e regiões do país mostram as suas tradições, músicas e danças através de desfiles com fantasias elaboradas e máscaras tradicionais.
A vila de Bissau foi fundada em 1697, como fortificação militar e entreposto de tráfico de escravos. Elevada a cidade, tornou-se a capital colonial em 1941.
Antes da chegada dos Europeus, a quase totalidade do território da Guiné-Bissau integrava o Reino de Gabu, tributário do Império do Mali, dos mandingas, que florescera a partir de 1235 e subsistiu até ao século XVII. Os grupos étnicos eram os balantas, os fulas e os malinquês (originários do antigo Império do Mali que falam a língua mandinka). 
O primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa da atual Guiné-Bissau foi o português Nuno Tristão, em 1446. Foram instaladas diversas feitorias na costa atlântica com o objetivo de trocar o vinho, os cereais, o azeite e o sal português pelo ouro, pela malagueta e pelo marfim africano. 
A colonização no interior só se dá a partir do século XIX, passando a ser referida por Guiné Portuguesa. 
Em 1956, Amílcar Cabral liderou a fundação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que iniciou a luta armada contra o regime colonial. 
Cabral foi assassinado em 1973, em Conacri, num atentado perpetrado por um grupo de guineenses do próprio partido que o acusavam de estar dominado pela elite de origem cabo-verdiana. 
A Guiné-Bissau foi a primeira colónia portuguesa no continente africano a ter a independência reconhecida por Portugal, o que acabou por acontecer em 1974, após a Revolução dos Cravos. Os portugueses começaram então a abandonar a capital, Bissau, ainda em seu poder. 
Apenas 60% da população do país fala hoje o português, estabelecido como língua oficial durante o período colonial. A grande maioria fala kriol, uma língua crioula baseada no português. O produto interno bruto (PIB) per capita do país é um dos mais baixos do mundo.
Eu e o Stefan já nos havíamos mudado para a Pensão Creola, também ali na Praça Che Guevara, onde conhecemos o Mark, um jornalista alemão, e depois da visita à capital dirigimo-nos ao porto para rumar às Bijagós.