Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 7 de maio de 2019

JAPÃO

Como o avião para Osaka era de manhã cedo e o aeroporto ficava a uma distância considerável do hostel onde estava hospedada, resolvi passar a noite no aeroporto de Busan para onde me dirigi de transportes públicos de véspera, ao fim do dia.

Levantei voo da Coreia do Sul com chuva e aterrei no Japão uma hora e meia depois. Voo direto da TwayAir Busan-Osaka. Princípios de maio, chuvas ocasionais e ainda resquícios das emblemáticas sakura, as cerejeiras em flor, na ilha de Honshu.

O Japão é um país insular no Oceano Pacífico que se estende do Mar de Okhotsk, no norte, ao Mar da China Oriental e Taiwan, ao sul. O arquipélago tem 6.852 ilhas, sendo as quatro maiores Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku.

Decidi evitar a grande cidade portuária e grande centro financeiro que é Osaka e dirigi-me diretamente para Nara no Limousine Bus, com partida do aeroporto. Comi sushi na estação e deixei a mochila num cacifo, antes de visitar a cidade. Ao fim da tarde, dirigi-me de autocarro para Tenri onde me hospedei na Mori Guest House.

 

Devido ao seu passado, Nara está repleta de tesouros históricos, muitos considerados Património Mundial, incluindo alguns dos maiores e mais antigos templos do Japão que remontam ao século VIII. A história e a cultura do Japão em Nara misturam-se com os inúmeros cervos que se passeiam livremente entre visitantes e templos do Parque de Nara, uma imensa área verdejante aos pés do Monte Wakakusa. Os cervos são protegidos e considerados tesouros nacionais e podem ser alimentados pelas pessoas com "bolachas de cervos”. 


O Japão foi unificado pela primeira vez no século VI pelo povo Yamato e logo empreendeu a conquista da península da Coreia no final do século. Em 552 d.C., o Budismo foi introduzido no país trazido da Coreia e acabou por se unir ao xintoísmo, a religião tradicional. 


Após a morte do imperador Shotoku em 622 d.C. e um período de guerras civis, o Imperador Kōtoku deu início à reforma Taika que criaria um estado com poderes concentrados na corte imperial, baseada na estrutura governamental da China. 

Em 710 d.C. a capital japonesa foi transferida de Asuka para Nara, dando início a um novo período da história japonesa no qual a cultura e a tecnologia chinesa tiveram maior influência e o budismo se difundiu com a criação de templos nas principais regiões.

Todai-ji, a principal atração da cidade, é o templo budista que alberga a maior estátua de bronze de Buda do Japão, o Daibutsu, com 15 metros de altura. 

O parque Nara também abriga o templo Kōfuku-ji, do século VI, com um impressionante pagode de cinco andares com 50 metros de altura. 

O templo Yakushi-ji data do século VII e tem estátuas como a famosa tríade Yakushi feita em bronze. O templo Horyu-ji é o mais antigo complexo de edifícios de madeira que sobrevive, nos dias de hoje, em todo o mundo.

Nigatsu-dō, ‘O Salão do Segundo Mês’, é outra das estruturas importantes do Tōdai-ji localizada a leste do Grande Salão do Buda e que oferece vistas deslumbrantes de Nara.

No lado leste do parque localiza-se o santuário xintoísta Kasuga-Taisha, que data de 768 d.C., o maior de Nara e considerado um dos locais mais sagrados de todo o Japão. Abriga quatro divindades principais e doze deuses da sorte e é famoso pelos milhares de lanternas de pedra que lhe conferem um ambiente peculiar. Existe ainda o Jardim Isuien, um jardim tradicional japonês, que contém dois jardins complementares, um da era Edo e outro da era Meiji.

À medida que a influência e as ambições políticas dos poderosos mosteiros budistas da cidade se tornaram uma séria ameaça para o governo, a capital foi transferida para Nagaoka em 784 e, anos mais tarde, para Heian-kio, a moderna Quioto, dando-se o rompimento entre o imperador Kammu e os monges budistas. A partir daí foi estabelecida a escrita japonesa e uma nova literatura. Foi nesse período de paz que surgiu a classe dos samurais como guardas da corte.

De Tenri, Nara, fui para Quioto de comboio e da estação fui para o hostel de autocarro, o transporte que mais usei para visitar os pontos turísticos da cidade (tirei dois passes de um dia). 

Quioto, cidade fundada no século I, localiza-se na região de Kansai e é conhecida na história japonesa por ser a antiga capital imperial do Japão durante mais de mil anos, sendo substituída por Tóquio em 1868. É ocasionalmente apelidada de "Velha Capital" e "Cidade dos Samurais" e é famosa pelos seus vários templos clássicos budistas, jardins, palácios imperiais, santuários xintoístas e casas de madeira tradicionais, estando os "Monumentos Históricos da Antiga Quioto" listados pela UNESCO como Patrimónios Mundiais. 

A cidade também é conhecida pelas tradições formais, como o jantar kaiseki, com vários pratos específicos, e as gueixas, geralmente encontradas no distrito de Gion.

Templo do Pavilhão Dourado
Entre os templos mais famosos do país estão o Kiyomizu-dera, um magnífico templo de madeira suportado por pilares na encosta de uma montanha; Kinkaku-ji, o Templo do Pavilhão Dourado; Ginkaku-ji, o Templo do Pavilhão Prateado e o Ryōan-ji, famoso pelo seu jardim de pedra. 
O Heian Jingū é um templo xintoísta, construído em 1895, celebrando a Família Imperial e comemorando o primeiro e o último imperadores a residirem em Kyoto, respetivamente os imperadores Kammu e Komei.
Castelo de Nijō
O Castelo de Nijō, da era xogum, tem decoração interna elaborada em madeira entalhada, enquanto o Kinkaku-ji, Templo do Pavilhão Dourado, é folheado a ouro. 
O Caminho do Filósofo é um trajeto ao longo do canal de irrigação do Lago Biwa, ladeado de árvores de cerejeira. Tem cerca de dois quilómetros de extensão e foi inaugurado em 1890.
Começa no Ginkaku-ji, o Templo de Prata, com o seu lago emoldurado por pinheiros, e termina perto de outro templo, o Nanzen-ji, com o seu famoso jardim zen. Percorri-o de bicicleta aproveitando a disponibilidade das mesmas no hostel onde estava hospedada, nas proximidades (Roku Roku).
O trajeto tem esse nome em homenagem a Nishida Kitaro, um dos filósofos mais famosos do Japão, que praticava meditação enquanto palmilhava o caminho na sua trajetória diária para a Universidade de Quioto onde lecionava.
Arashiyama
Nas colinas ocidentais de Quioto fica Arashiyama, um local conhecido pela sua beleza paisagística.
Aqui se situam a Ponte Togetsukyo com 155 metros construída sobre o Rio Katsura, vários tesouros nacionais, entre eles o Templo Tenryu-ji, e a icónica floresta de bambu onde caminhamos calmamente entre os elevados bambuzais.
Não sou de planear as viagens ao pormenor, não faço grandes pesquisas, traço um plano geral do percurso consoante o tempo de que disponho, compro viagens só uns dias antes e vou reservando hotéis pelo caminho. Gosto da aventura e da imprevisibilidade, dos encontros inesperados, de conhecer gentes e hábitos locais, das informações que me chegam de rompante e que, muitas vezes, me levam à descoberta de outros lugares e novas experiências. Para mim, esta é a verdadeira viagem… ‘Go with the flow’.
Mas o imprevisto também pode trazer alguns contratempos e a minha visita à cidade de Kyoto não foi propriamente tranquila porque a visitei durante a Semana Dourada, um período de feriados nacionais combinados com fins de semana, uma das datas preferidas dos japoneses para também viajarem. 
Ora isto causa uma grande aglomeração de pessoas nas ruas e transportes e dificulta o próprio alojamento, inclusive nos dormitórios onde fiquei hospedada. Não é uma altura muito aconselhável para visitar o Japão mas, basicamente, isto traduziu-se em não encontrar várias noites seguidas no mesmo hostel e ter que mudar para outro enquanto visitava a cidade.
Ora uma das razões para os japoneses também afluírem a Kyoto foram os mikoshi (santuários portáteis) exibidos e carregados pelas ruas da cidade em celebração da nova era de "Reiwa" e da entronização do Imperador Naruhito. Um evento único e efusivo que me apanhou de surpresa ao virar da esquina de um dos edifícios do Jardim Nacional Kyoto Gyoen que rodeia o Palácio Imperial de Kyoto. Lá está.
Omikoshi é um altar portátil carregado pelos seguidores do xintoísmo, a maior religião no Japão, que serve como veículo para transportar uma divindade entre o santuário principal e o santuário temporário durante um festival. Sacudir e balançar o mikoshi enquanto o carregam, serve para "divertir" a divindade (kami), revigorá-la e assim afastar o infortúnio e trazer felicidade ao povo.
Um mikoshi pequeno pode ser carregado por dez pessoas, mas os maiores precisam de mais de 100 pessoas. Durante a procissão, os carregadores cantam energicamente e carregam o seu fardo sagrado num andar ondulante e oscilante. À medida que o desfile avança pelas ruas, a multidão aplaude e ouvem-se gritos como “washoi washoi”, para dar ritmo e força aos participantes. No final do festival, o mikoshi é devolvido ao seu templo no ritual de kami-okuri, garantindo que os espíritos estão novamente em segurança em casa. 
O primeiro registo de Omikoshi data do século VIII, na transferência da divindade de Hachiman, em Kyushu, para a província de Nara, onde deveria proteger a construção do Grande Buda, no Templo Todai-ji. Dois séculos depois, a prática já se havia tornado comum em Kyoto, onde Omikoshi era carregado num festival realizado para apaziguar os espíritos maus que causavam epidemias. 
Santuário Fushimi Inari Taisha
O Santuário Fushimi Inari Taisha, conhecido mundialmente como um dos pontos turísticos mais emblemáticos do Japão, é um importante santuário xintoísta no sul de Quioto, famoso pelos milhares de portões cor de laranja (toriis), que se estendem por uma rede de trilhos através da floresta do sagrado Monte Inari, que fica a 233 metros de altitude. 
O templo principal fica na base da montanha e muitos outros, menores, estendem-se por 4 quilómetros ao longo dos trilhos que levam aproximadamente 2 horas a percorrer e que oferecem belas vistas de Quioto em alguns pontos.
É o mais importante de vários milhares de santuários dedicados a Inari, o deus xintoísta do arroz, também adorado por comerciantes e fabricantes como patrono dos negócios. Cada torii em Fushimi Inari Taisha foi doado por uma empresa japonesa. Acredita-se que as raposas sejam mensageiras de Inari, pelo que se veem imensas estátuas deste animal nos terrenos do santuário. 
Fushimi Inari tem origens antigas, antecedendo a mudança da capital para Quioto em 794. Desde a sua fundação, em 711, que as pessoas aqui se reúnem para orar por colheitas abundantes, prosperidade comercial, a segurança de suas casas e família e pelo cumprimento de outros tipos de desejos. 
Após estas visitas, retornei à grande e moderna estação de comboios de Kyoto e preparei-me para continuar viagem.
(imagem retirada da net)

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