Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Açores: Faial

E chegaram os tempos conturbados do Covid-19! Restrições para aqui e para acolá… 
Viajar ou não, eis a questão. E para onde? Testes PCR??? E caríssimos!

Mas eis que o Governo Regional dos Açores declara assumir custos com testes à Covid feitos no continente a passageiros que queiram visitar o arquipélago. Pois tratei logo de delinear a viagem. Comprei os voos, imprimi-os juntamente com a fatura enviada pela companhia aérea SATA e apresentei-os no laboratório mais próximo onde fui fazer o teste 72 horas antes de viajar. No dia seguinte já tinha o resultado: negativo. 

Depois foi só marcar o alojamento em duas das três ilhas do Grupo Central que queria visitar: Faial, São Jorge e Pico. Voos diretos: ida para o Faial e saída do Pico.

Enquanto isto lembrei-me que um colega e amigo iria trabalhar para os Açores, mas não sabia em que ilha nem se já lá estaria. Telefonei-lhe. Pois era precisamente no Faial onde aterrei às 17h30 do dia 21 de agosto de 2020. Apresentei o teste Covid nas tendas montadas no aeroporto e entrei para o carro do Félix que me tinha ido esperar. O Félix chegara dois dias antes à ilha, o seu carro chegou de barco na véspera.

Rumámos logo ao Vulcão dos Capelinhos, na Ponta do Capelo. Depara-se-nos uma paisagem árida e agreste, de cinzas e poeiras vulcânicas.

O Vulcão dos Capelinhos esteve em atividade por mais de um ano, entre 27 de setembro de 1957 e 24 de outubro de 1958. Em resultado da erupção, a área total da ilha aumentou em cerca de 2,4 km². Houve grandes estragos em habitações, campos agrícolas e pastagens nas freguesias do Capelo e da Praia do Norte, mas não houve perdas humanas. Beneficiando da solidariedade demonstrada pelos Estados Unidos, milhares de sinistrados faialenses procuraram refazer as suas vidas naquele país.

A área em torno do vulcão, classificada como paisagem protegida de elevado interesse geológico e biológico, foi recentemente classificada como Monumento Natural. O Farol dos Capelinhos foi requalificado e integra hoje o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, inaugurado em maio de 2008.

Daqui continuámos a dar a volta pelo lado norte da ilha. Faial, a Ilha Azul - assim popularizada a partir da descrição de Raul Brandão em ‘Ilhas Desconhecidas’ – tem 21 km de comprimento e uma largura máxima de 14 km, a que corresponde uma área de 172,43 km². A população residente é de 14.300 habitantes, a maioria dos quais na Horta, cidade onde se localiza o parlamento açoriano e sede do único concelho da ilha. A ilha oferece miradouros e vistas privilegiadas para as ilhas circundantes: São Jorge, Pico e, mais ao longe, a Graciosa. 

Em 1432 Gonçalo Velho Cabral terá achado as ilhas do Grupo Central. Diogo de Teive passa ao largo da Ilha do Faial na sua primeira viagem de exploração para ocidente dos Açores, em 1451. Em 1460, no testamento do Infante D. Henrique, encontra-se referida como "Ilha de São Luís [de França]". O seu atual nome deve-se à abundância da chamada faia-das-ilhas (Myrica faya) aquando do seu povoamento.

Jantámos na praia de Almoxarife. Na Horta fiz o late check-in na “Casa do Lado”.

No dia seguinte, o meu estimado cicerone, que aqui já vivera uns anos antes, juntamente com a simpática amiga Hélia, habitante local, continuaram a fazer-me as honras na visita a locais especiais da ilha.

O Monte da Guia é um cone vulcânico, com 145 metros de altura e que se liga ao resto da ilha por uma estreita faixa de terra que o delimita, juntamente com o Monte Queimado, à Baía do Porto Pim. Tem origem submarina e apresenta duas crateras semicirculares que se intersetam.

O nome virá da imagem de Nª Srª da Guia, padroeira dos pescadores, cuja Ermida se localiza no cimo do monte.

Do monte avistamos a Ponta da Espalamaca e daqui temos uma bela vista da Horta e do Monte da Guia.


Miradouro de Nossa Senhora da Conceição

Continuámos pela Estrada da Caldeira e fomos subindo até à Caldeira do Faial, por entre paisagens deslumbrantes, neste dia soalheiro e quente.

Os campos verdejantes salpicados de casas, as florestas que debruam a estrada dando lugar depois às hortênsias, a bela montanha do Pico no horizonte e o mar azul ao redor.

Constituída integralmente por materiais vulcânicos, a ilha estrutura-se em torno de um grande vulcão central, em cujo centro se situa uma profunda caldeira quase perfeitamente circular e com cerca de 2000 m de diâmetro. 

Esta depressão vulcânica, símbolo genético da ilha, alberga, no seu interior, dois terços da flora vascular endémica dos Açores, em perfeito estado de conservação, bem como fauna endémica do Faial e do Arquipélago.

De regresso à cidade, almoçámos um belo bife de atum no Bar do Clube Naval. Aproveitei para dar uma volta pela Marina da Horta, a mais importante dos Açores e a quarta marina mais visitada do mundo. É um excelente abrigo para veleiros que chegam de todo o lado e enche a cidade de espírito marinheiro e de lendas marítimas. Os muros da marina estão cheios de pinturas dos velejadores fazendo do espaço uma galeria ao ar livre. 

No cais há umas barraquinhas que vendem passeios de barco e trilhos terrestres. Embora a Horta seja um importante local para a observação de baleias no arquipélago dos Açores, eu já havia presenciado um belo show com estes mamíferos na ilha Fraser, na Austrália, e daí preferi marcar o Trilho da Levada.

A ilha do Faial está separada da ilha do Pico por um estreito braço de mar com 8,3 km de largura, conhecido por Canal do Faial.

O mítico Bar do Peter’s

O Forte de Stª Cruz da Horta, erguido junto ao antigo cais de desembarque, era a principal fortificação da ilha. 


Construído no séc. XVI, visava defender a ilha contra os assaltos de piratas e corsários, atraídos pelas riquezas das embarcações que aí aportavam, oriundas da África, da Índia e do Brasil. Hoje alberga no seu interior a Pousada da Horta.

Jardim Infante D. Henrique
Igreja Matriz do Santíssimo Salvador

Subida por becos e escadinhas até à Igreja da Nossa Senhora do Carmo de onde se tem vistas lindíssimas sobre a cidade e o Pico.

Ao fim da tarde, encontro com os meus amigos junto ao Mercado, em frente ao Jardim da Praça da República para um jantar de despedida na “Cantina da Praça”.

Às 8h30 do dia seguinte, já tinha tomado o café e estava pronta para a caminhada. O Kevin, que iria ser o meu guia, veio buscar-me numa carrinha e seguimos para a freguesia de Capelo onde subimos por uma estrada secundária que nos levaria ao início do Trilho da Levada, perto do Cabeço dos Trinta. 

O tanque de armazenamento de água, que rapidamente alcançamos, é o fim da própria levada.

Considerada como uma das maiores obras de engenharia dos Açores, a levada, inaugurada em 1964, está implantada a 680 metros de altitude e ao longo de 10 quilómetros de extensão. Tinha como principal função fornecer água para a produção de energia hidroelétrica. A água é recolhida em vários pontos ao longo do percurso para depois ser encaminhada para a central mini-hídrica do Varadouro.

O trilho acompanha a levada, a única da ilha, e está inserido em área de paisagem protegida da zona central permitindo conhecer zonas de grande riqueza em espécies de fauna e flora típicas da floresta Laurissilva. Por entre a vegetação endémica encontra-se o Louro, o Sanguinho, o Azevinho, a Urze, entre outras. 

Surgem também as criptomérias, as hortênsias, os prados com vaquinhas, o verde que se estende até ao mar nas clareiras que se abrem no caminho. O trilho é fácil, uma ou outra subida com cascalho, um túnel, e sempre junto à levada que nalguns pontos estava obstruída com lama, folhas e derrocadas de árvores. 

Nas calmas, apreciando a paisagem, demora cerca de 3 horas a percorrer. O motorista esperava-nos no ponto final do trilho, no Alto do Chão.


Passei a tarde na praia de Porto Pim. Dia de muito calor, água espetacular, de cor azul-turquesa, onde fui mergulhar várias vezes. No alojamento preparei-me para a viagem interilhas, na manhã seguinte.


Sem comentários:

Enviar um comentário