Previam-se mais protestos por todo o país e achei que era então a melhor altura para fazer um trekking e refugiar-me na montanha. Apanhei um táxi para o aeroporto com outro turista de feições asiáticas hospedado no mesmo hotel. Ele também seguia para Jomson mas voava com uma companhia diferente. Pouco falámos e em ingles.
Sobrevoámos a cidade de Pokhara em direcção ao maciço de montanhas Annapurna localizado a norte.
As montanhas Annapurna são numeradas por ordem decrescente de altitude com um algarismo romano. O Annapurna I, com 8091m, é a montanha mais alta do maciço; o Annapurna II, com 7937m, é a segunda, e assim por diante. O Annapurna I foi a primeira montanha com mais de 8000 metros a ser escalada na história do alpinismo. É a décima montanha mais alta do mundo e uma das mais difíceis e perigosas, de entre as montanhas com mais de 8000m.
O imponente Dhaulagiri (8167m), a sétima montanha mais alta do mundo. Foi escalado pela primeira vez em 1960, por uma expedição suíça.
Aterrámos em Jomson 20 minutos depois, manha cedo, e somos logo brindados com esta fabulosa vista do Nilgiri Norte com mais de 7000 metros de altitude.
Jomsom é uma cidade situada a uma altitude de 2800m na região de Mustang, nas margens do rio Kali Gandaki. É a sede do distrito, um centro administrativo e comercial, e os habitantes da zona são principalmente os Thakalis.
Iniciámos o trekking em Jomson em direcção a Kagbeni. O trilho segue o rio Kali Gandaki que constitui o mais profundo desfiladeiro do mundo. De um lado está a Cordilheira Annapurna e, do outro, o Dhaulagiri. O percurso engloba vistas de 8 das 20 montanhas mais altas do mundo.
O leito do rio Kali Gandaki está seco durante o inverno, mas durante a monção de verão enche-se com a água da chuva e da neve derretendo. O cenário varia entre florestas de rododendros, penhascos rochosos e deserto.
Kagbeni surge-nos como um oásis no meio de uma paisagem árida e varrida pelo vento.
Plantações de trigo em Kagbeni
É um povoado encantador, de aparência medieval, a 2840m de altitude. É a porta de entrada para o Upper Mustang, uma área de acesso restrito para estrangeiros, onde é necessária uma permissão especial (e cara) para visitar.
Vistas do mosteiro Kagchode Thubten Sampheling, fundado em 1429
Deixamos Kagbeni e continuamos a subida rumo a Muktinath.
As nuvens escondem os altos cumes nevados
Mosteiro de Jharkot, um vilarejo a 3500m
Descalçando-me para entrar no mosteiro onde os monges entoavam a 'puja'
Mulheres tibetanas chegando ao mosteiro
Roupa estendida no terraço do mosteiro
Seguimos pela estrada por onde agora tambem já passam jipes. Cruzamo-nos com poucos caminheiros nesta altura do ano.
E quem encontro à chegada a Ranipauwa, perto de Muktinath? O tal turista com quem apanhei o táxi do meu hotel para o aeroporto. E quem era ele afinal? O Steve... brasileiro! Falámos portugues a cerca de 3800m de altitude. Muito bacana! Ele fez o percurso de jipe e preparava-se para regressar a Jomson.
Ranipauwa é um vilarejo que está logo abaixo dos templos de Muktinath. Foi lá que conheci tambem esta admiradora tibetana do Cristiano Ronaldo.
Entrada no complexo de templos de Muktinath
Muktinath é um local sagrado tanto para hindus como para budistas, constituindo o mais importante lugar de peregrinação do himalaia nepalês. Para além de peregrinos nepaleses, muitos indianos também visitam estes templos.
Muktinath, o “Senhor da Salvação”, é uma das formas de adoração de Vishnu. Já os budistas, associam a deidade com Chenresig, o bodhisattva tibetano da compaixão. É interessante observar como as duas religiões, o hinduísmo e o budismo, convivem lado a lado no Nepal.
O templo está guardado por pombas, deuses e sadhus.
Em volta desde templo estão 108 bicas de água sagrada.
De Muktinath regressámos a Jomson de jipe (para quê fazer a caminhada nos dois sentidos?) e daí continuámos o trekking descendente para sul, em direcção a Marpha.
No caminho cruzamo-nos com uma fauna variada:
cavalos comilões,
vacas que nos espreitam,
burros selvagens e mulas de carga,
cães que nos falam.
Marpha
Atravessamos várias pontes de um para o outro lado do Kali Gandaki.
Electricista sempre foi uma profissão arriscada...
Eu e o meu guia
A caminho de Ghasa
Um belo banho de lama e uma boa soneca
E eis que duas caminheiras se aproximam de nós. Quem eram? A Alice, que conheci no voo de Kathmandu para Pokhara, com a irmã. Tinham feito todo o circuito do Annapurna durante 18 dias.
Almoçámos todos em Rupse Chhara, a 1550m, e ficámos no mesmo alojamento em Tatopani, a 1190m. Tatopani significa água quente em nepalês. Na vila encontramos várias piscinas de águas termais onde podemos tomar um relaxante banho. Nada melhor para terminar a caminhada.
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