Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

sábado, 3 de julho de 2010

Annapurna trekking

Previam-se mais protestos por todo o país e achei que era então a melhor altura para fazer um trekking e refugiar-me na montanha. Apanhei um táxi para o aeroporto com outro turista de feições asiáticas hospedado no mesmo hotel. Ele também seguia para Jomson mas voava com uma companhia diferente. Pouco falámos e em ingles.


Sobrevoámos a cidade de Pokhara em direcção ao maciço de montanhas Annapurna localizado a norte.

As montanhas Annapurna são numeradas por ordem decrescente de altitude com um algarismo romano. O Annapurna I, com 8091m, é a montanha mais alta do maciço; o Annapurna II, com 7937m, é a segunda, e assim por diante. O Annapurna I foi a primeira montanha com mais de 8000 metros a ser escalada na história do alpinismo. É a décima montanha mais alta do mundo e uma das mais difíceis e perigosas, de entre as montanhas com mais de 8000m.

O imponente Dhaulagiri (8167m), a sétima montanha mais alta do mundo. Foi escalado pela primeira vez em 1960, por uma expedição suíça.

Aterrámos em Jomson 20 minutos depois, manha cedo, e somos logo brindados com esta fabulosa vista do Nilgiri Norte com mais de 7000 metros de altitude.

Jomsom é uma cidade situada a uma altitude de 2800m na região de Mustang, nas margens do rio Kali Gandaki. É a sede do distrito, um centro administrativo e comercial, e os habitantes da zona são principalmente os Thakalis.

Iniciámos o trekking em Jomson em direcção a Kagbeni. O trilho segue o rio Kali Gandaki que constitui o mais profundo desfiladeiro do mundo. De um lado está a Cordilheira Annapurna e, do outro, o Dhaulagiri. O percurso engloba vistas de 8 das 20 montanhas mais altas do mundo.

O leito do rio Kali Gandaki está seco durante o inverno, mas durante a monção de verão enche-se com a água da chuva e da neve derretendo. O cenário varia entre florestas de rododendros, penhascos rochosos e deserto.

Kagbeni surge-nos como um oásis no meio de uma paisagem árida e varrida pelo vento.

Plantações de trigo em Kagbeni

É um povoado encantador, de aparência medieval, a 2840m de altitude. É a porta de entrada para o Upper Mustang, uma área de acesso restrito para estrangeiros, onde é necessária uma permissão especial (e cara) para visitar.

Vistas do mosteiro Kagchode Thubten Sampheling, fundado em 1429

Deixamos Kagbeni e continuamos a subida rumo a Muktinath.

As nuvens escondem os altos cumes nevados

Mosteiro de Jharkot, um vilarejo a 3500m

Descalçando-me para entrar no mosteiro onde os monges entoavam a 'puja'

Mulheres tibetanas chegando ao mosteiro

Roupa estendida no terraço do mosteiro

Seguimos pela estrada por onde agora tambem já passam jipes. Cruzamo-nos com poucos caminheiros nesta altura do ano.

E quem encontro à chegada a Ranipauwa, perto de Muktinath? O tal turista com quem apanhei o táxi do meu hotel para o aeroporto. E quem era ele afinal? O Steve... brasileiro! Falámos portugues a cerca de 3800m de altitude. Muito bacana! Ele fez o percurso de jipe e preparava-se para regressar a Jomson.

Ranipauwa é um vilarejo que está logo abaixo dos templos de Muktinath. Foi lá que conheci tambem esta admiradora tibetana do Cristiano Ronaldo.

Entrada no complexo de templos de Muktinath

Muktinath é um local sagrado tanto para hindus como para budistas, constituindo o mais importante lugar de peregrinação do himalaia nepalês. Para além de peregrinos nepaleses, muitos indianos também visitam estes templos.

Muktinath, o “Senhor da Salvação”, é uma das formas de adoração de Vishnu. Já os budistas, associam a deidade com Chenresig, o bodhisattva tibetano da compaixão. É interessante observar como as duas religiões, o hinduísmo e o budismo, convivem lado a lado no Nepal.

O templo está guardado por pombas, deuses e sadhus.

Em volta desde templo estão 108 bicas de água sagrada.

De Muktinath regressámos a Jomson de jipe (para quê fazer a caminhada nos dois sentidos?) e daí continuámos o trekking descendente para sul, em direcção a Marpha.

No caminho cruzamo-nos com uma fauna variada:

cavalos comilões,

vacas que nos espreitam,

burros selvagens e mulas de carga,

cães que nos falam.

Marpha

Atravessamos várias pontes de um para o outro lado do Kali Gandaki.

Electricista sempre foi uma profissão arriscada...

Eu e o meu guia

A caminho de Ghasa

Um belo banho de lama e uma boa soneca

E eis que duas caminheiras se aproximam de nós. Quem eram? A Alice, que conheci no voo de Kathmandu para Pokhara, com a irmã. Tinham feito todo o circuito do Annapurna durante 18 dias.

Almoçámos todos em Rupse Chhara, a 1550m, e ficámos no mesmo alojamento em Tatopani, a 1190m. Tatopani significa água quente em nepalês. Na vila encontramos várias piscinas de águas termais onde podemos tomar um relaxante banho. Nada melhor para terminar a caminhada.

Eu já tinha feito o percurso através de Ghorapani e Poon Hill numa das visitas anteriores ao Nepal. Por isso, de Tatopani regressámos a Pokhara de autocarro, uma viagem que tambem é uma aventura devido ao estado das 'estradas'. Os protestos não chegaram a acontecer pois a criação de uma nova constituição para o país foi adiada por mais um ano.


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