Viagem realizada no início de agosto, de carro.
Já havia estado muitas vezes em Vigo (algumas na altura em que El Corte Inglês era uma novidade, outras para festejar a passagem de ano), mas não voltava há uns bons anos. É sempre interessante regressar a um local e reconhecer recantos, edifícios, ruas e vê-lo com outros olhos, reparando nas diferenças, nas transformações e sair para explorar recantos novos.
Vigo é a maior cidade da comunidade autónoma da Galiza, com cerca de 300.000 habitantes. O símbolo da cidade é a oliveira e por isso tem o cognome de “Cidade Olívica”, pelo que os seus habitantes são denominados vigueses ou olívicos.
É uma cidade turística, conhecida pelo seu porto marítimo, com importante atividade pesqueira, sendo o principal porto pesqueiro da Europa.
É também um relevante centro comercial e económico do sul da província de Pontevedra. Dista 29 km de Pontevedra (capital da província) e 71 km de Santiago de Compostela (capital política da Galiza) e pouco mais de 20 km de Valença, a localidade portuguesa mais próxima.
Nas décadas de 1960 e 1970, Vigo sofreu um crescimento urbano acelerado, e por vezes desordenado, motivado pelo desenvolvimento industrial. A cidade estende-se pela margem sul da ria de Vigo, no sopé do Monte do Castro.
Subir ao Monte a pé pode custar um pouco mas a recompensa vale a pena. Pelo caminho, encontramos as enormes âncoras que se associam à Batalha de Rande, um acontecimento naval ocorrido na ria de Vigo em 1702 entre as coligações anglo-holandesa e hispano-francesa, durante a Guerra de Sucessão Espanhola.
O Monte do Castro é o ponto de origem da cidade onde os primeiros povoadores se localizaram. Na encosta mais baixa do monte pode visitar-se um povoado castrejo dos séculos III e I a.C. e o que resta das fortificações do séc. XVII.
Dentro dos muros da fortaleza, encontra-se o castelo de O Castro, os seus jardins e o seu espetacular miradouro com vistas fabulosas sobre a cidade, a ria e as ilhas Cíes. As ilhas Cíes estão a 15 quilómetros de Vigo e o arquipélago faz parte do Parque Nacional das Ilhas Atlânticas. Infelizmente desta vez não deu para visitar as ilhas já que, na manhã seguinte, o tempo estava muito encoberto.
O centro histórico da cidade alberga a Concatedral de Vigo, de estilo neoclássico, que alberga a imagem do Cristo da Victoria, além da praça da Constituição ou da Colegiada de Santa Maria, na rua Oliva.
Na Praça da Pedra, com o seu singular mercado e a típica imagem das ostreiras a oferecer estes moluscos aos transeuntes, provamos obrigatoriamente as ostras.
O Berbés é o antigo bairro de pescadores que conserva algumas das construções tipicamente pesqueiras com arcadas e pórticos.
A Porta do Sol é o lugar onde encontramos um marco do Vigo contemporâneo, a escultura popularmente conhecida como "o Sereio", do escultor Francisco Leiro.
Na fase do alargamento da cidade, de fins do século XIX e início do século XX, há muito bons exemplos de arquiteturas da época, tal como o antigo Hotel Moderno (1897) ou o Teatro García Barbón, obra de 1913 de Antonio Palacios, com os quais se reflete o poderio económico da classe burguesa industrial e mercantil que os erigiu.
Na rua Areal podemos contemplar o singular Edificio Bonín (1910) e na Gran Vía, uma das principais ruas da cidade, aparecem três conjuntos escultóricos que funcionam como ícones vigueses: o Monumento ao Trabalho de Ramón Conde, a Fonte dos Cabalos (Praça de España) de Juan Oliveira e a Porta do Atlántico (Praça de América), de Silverio Rivas.
No Parque de Castrelos, o principal pulmão verde da cidade, está situado o Paço de Lavandeira (séc. XVII), também conhecido por Quiñones de León, sede do Museu Municipal, com o seu belo jardim.
O autocarro turístico de Vigo (7,5€) parte da Estação Marítima e faz um tour panorâmico de 90 minutos passando por algumas das zonas mais emblemáticas da cidade (com paragens no Parque “O Castro” e no Parque Quiñones de León), incluindo a Playa de Samil, uma das maiores praias de Vigo e a mais frequentada por turistas e habitantes locais.
Após duas noites em Vigo prosseguimos viagem com tempo encoberto e chegamos a Pontevedra com chuva. Depois do almoço rumamos em direção a Sanxenxo e daí para O Grove, percorrendo a costa recortada entre a Ria de Pontevedra e a Ria de Arousa.
O Grove é uma pequena península na entrada da ria de Arousa ligada ao continente por um istmo que dá acesso à praia de A Lanzada a oeste e ao amplo complexo de pântanos intertidais de Umia-O Grove a leste. Este ambiente que liga a terra ao mar é caracterizado por condições extremas de humidade, temperatura e salinidade, mas extremamente rico em vida marinha adaptada a mudanças constantes.
Para além da coleta de mariscos e da pesca costeira, O Grove vive dos cultivos de mexilhão, ostra e vieira em bateas (plataformas flutuantes para o cultivo de bivalves próprios das rias galegas), pelo que é basicamente obrigatório fazer um passeio de barco pela ria para ver este cenário e admirar toda a paisagem envolvente.
Existem várias opções de mini-cruzeiros na Ria de Arousa. Partimos do porto da cidade para um passeio de 1 hora e 15 minutos (16€) que inclui a degustação de mexilhões e a visita a fazendas de marisco. O barco para ao lado das fazendas permitindo assim observar o trabalho dos mariscadores e o modo como os moluscos são cultivados. O barco permite ainda apreciar a vida marinha através do fundo de vidro.
E, para continuar a festa, à noite assisti a um concerto de Carolina Rubirosa, cantora, compositora e produtora natural de O Grove. Além de composições próprias, Rubirosa também musicou poemas de autores contemporâneos e cantigas da lírica medieval galego-portuguesa.
Em O Grove também se encontra a pequena ilha de A Toxa, acessível por uma ponte do início do século XX, cuja fama procede das suas águas minero-medicinais.
As propriedades terapêuticas para a pele e as vias respiratórias encontradas nas suas águas e lamas, assim como os sais e sabonetes elaborados com elas, transformaram a ilha numa importante estação turística e balneária.
O périplo pelas Rias Baixas continua com passagem por Cambados, localidade considerada a capital do Albariño, um dos melhores vinhos brancos do mundo, e uma paragem na bonita Ilha de Arousa.
Almoço em Noia e continuação da viagem junto à costa passando por Muros, Corcúbion, etc. até pararmos na localidade de Finisterra onde visitámos o castelo de São Carlos e pusemos os pés na areia.
O Castelo de San Carlos é uma fortificação construída no final do século XVIII com o objetivo de defender a costa dos ataques de piratas e proteger a atividade marítima da região. Esta pequena mas estratégica construção situa-se num promontório com vistas privilegiadas sobre a ria de Corcubión e o porto de Finisterre, a partir do qual se controlava o acesso marítimo à zona.
E finalmente chegamos ao Cabo Finisterra, um promontório de granito com 3 km de comprimento e 600 metros de altura, lugar cheio de simbolismo e beleza natural.
O nome deriva da expressão latina finis terrae, isto é "fim da terra", pois os romanos pensavam que este era o ponto mais ocidental da terra e, portanto, era aqui que o mundo acabava.
O seu impressionante farol, construído em 1853, é um dos elementos mais emblemáticos do cabo e guia os navegadores que se aventuram pelas águas agitadas e rochosas nesta que é conhecida por Costa da Morte, uma zona de costa brava e variada com paisagens agrestes e praias impressionantes, palco de vários naufrágios.
Para além do seu simbolismo marítimo e religioso, o Cabo Finisterra é um ponto-chave para os peregrinos que, depois de chegarem a Santiago de Compostela, decidem continuar a sua viagem até este local (a cerca de 90 km).
Aqui se encontra o chamado quilómetro zero, um marco de pedra que assinala o fim do prolongamento do Caminho de Santiago, marcando o fim simbólico do Caminho do Peregrino, tal com a bota de bronze do peregrino.
No dia seguinte rumámos a Santiago de Compostela, cidade visitada imensas vezes e onde há uns anos eu terminara o meu Caminho de Santiago partindo de Sarria (pequena parte do caminho francês). Imensa gente e fila enorme para visitar a Catedral onde, desta feita, não entrámos.
Por fim, paragem para almoço em Tuy no regresso a Portugal. A viagem acabou mais cedo que o inicialmente previsto por conta do tempo instável e, por vezes, desagradável, neste início de agosto de 2021.
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