Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Índia Ocidental

Segui de comboio para o estado de Goa com a Noa, israelita, que conheci na estação de Gokarna. A primeira paragem foi na praia de Palolem onde me reencontrei com as amigas de Bangalore, a Manisha, a Poupoute e a Glória, aquela indiana e estas do Ruanda.
Aqui passámos uns belos e divertidos dias nesta tranquila praia de extenso areal, alojadas numa cabana de madeira, na companhia de mais amigos também do Ruanda e outros da Alemanha.
Palolem
Continuei para norte com a Noa, de autocarro, fazendo uma breve paragem em Margão antes de seguir para Panjim.
 A presença portuguesa em Margão
Goa é o menor dos estados indianos mas o mais rico em PIB per capita da Índia e situa-se na costa do Mar da Arábia. É conhecida pelas melhores praias do país para além dos templos, conventos e igrejas que se encontram classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO. Missionários jesuítas, franciscanos e de outras ordens religiosas estabeleceram-se em Goa já no século XVI, utilizada como centro para a difusão do catolicismo na Índia.
Rio Mandovi
Panjim
A língua oficial é o concani, mas ainda existem pessoas neste estado que falam português, devido ao domínio de Portugal durante mais de 400 anos. Goa era cobiçada por ser o melhor porto comercial da região. Foi a capital do Estado Português da Índia a partir de 1510 depois das várias investidas de Afonso de Albuquerque. Foi integrada pela força na União Indiana em 1961 quando, no contexto da descolonização, e após os Ingleses terem deixado a Índia (em 1947) e os Franceses Pondicherry (em 1954), o governo português, liderado por António de Oliveira Salazar, se recusou a negociar com a Índia.
Bairro das Fontainhas
Goa destacou-se por ter sido sede de duas grandes ações civilizadoras portuguesas no Oriente: a religiosa e a educacional. Foi considerada a "Roma do Oriente", erigida em Sé Metropolitana das dioceses de Moçambique, Ormuz, Cochim, Meliapor, Malaca, Nanquim e Pequim na China, e Funay no Japão, a partir de 4 de fevereiro de 1557. Dali partiram para o apostolado os grandes vultos do catolicismo português no Oriente, como São Francisco Xavier e São João de Brito. 
Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição
No que tange à ação educacional, em Goa foram erguidas inúmeras escolas e liceus, uma escola médica e institutos profissionais e técnicos. Vultos das letras portuguesas como o poeta Luís Vaz de Camões ("Os Lusíadas"), Garcia de Orta ("Colóquio dos Simples") e Manuel Maria Barbosa du Bocage, ali redigiram parte das suas obras.
 Igreja de S. Francisco de Assis e Sé Catedral de Santa Catarina
A parte urbana de Goa denomina-se atualmente Panaji e apenas a parte histórica da cidade, hoje pouco habitada, conserva o nome antigo. Igrejas e Conventos de Velha Goa é o nome dado pela UNESCO para um conjunto de monumentos religiosos localizado em Goa Velha, declarada Património Mundial em 1986.
Igreja de São Caetano
As justificativas de inclusão dos monumentos religiosos de Goa na lista de Património Mundial são: 1) a sua influência na difusão de formas artísticas ocidentais - os estilos manuelino, maneirista e barroco - por toda a Ásia onde se estabeleceram missões católicas; 2) o valor do conjunto de monumentos de Goa como exemplo excecional que ilustra o trabalho de evangelização e 3) o valor específico da Basílica do Bom Jesus com o túmulo de São Francisco Xavier, que ilustra um evento de importância mundial: a influência da religião católica na Ásia na Era Moderna.
Arco dos Vice-Reis com estátua de Vasco da Gama
Ruínas da Igreja de S. Agostinho e Igreja do Rosário
Em Panaji hospedei-me em casa do Himanshu e em Calangute, um pouco mais a norte, em casa do Ben Lobo, um simpático goês que me recebeu da seguinte forma:
Dona Paula
“Bem-vinda a Goa, um território que era português antes de sermos invadidos pela Índia há uns anos atrás”. Diga-se de passagem que tanto ele como outros goeses com quem me cruzei no meu percurso, se mostram desagradados com a crescente sujidade e o decrescente civismo decorrentes da presença maioritariamente indiana no estado de Goa nos dias de hoje. 
A presença portuguesa em painéis e à venda no Calizz
Sinquerim
Forte Aguada
A Fortaleza da Aguada localiza-se no extremo sul da praia de Sinquerim. Integrava um vasto complexo fortificado, iniciado no século XVI pelos portugueses como primeira defesa da barra do rio Mandovi, acesso a Goa. Era ao abrigo das suas muralhas que as embarcações faziam a "aguada", ou seja, obtinham o suprimento de água potável, de três fontes, e daí a sua denominação.
Passeio de barco na mira dos golfinhos
Baga
Anjuna
Subindo sempre a costa em autocarros locais, alojei-me num pequeno hotel em Anjuna e, perto, visitei o forte de Chapora. A herança portuguesa em Goa é uma visão constante na arquitetura das casas, igrejas, fortalezas, nomes de estabelecimentos, cartazes publicitários, etc. Troquei também algumas palavras em português com alguns dos habitantes.
 Forte de Chapora
A atual estrutura do forte é obra da engenharia militar portuguesa, datada de 1617. Tinha então a dupla finalidade de defesa da foz do rio e da população de Bardez contra os ataques dos Maratas, muçulmanos do norte. Os seus vestígios encontram-se protegidos pelo governo de Goa, Damão e Diu desde 1983.
Via Mapusa continuei para Arambol. Ao meu lado no autocarro sentou-se a Palmira, outra viajante solo portuguesa que, dias depois, reencontraria numa esplanada naquela praia.
Mas a primeira pessoa que reencontrei em Arambol assim que pus os pés no areal, no dia da chegada, foi o Chris, um amigo norueguês que conheço de Pokhara, no Nepal. Sabia que ele estava na Índia mas nada foi planeado para o nosso encontro. Depois de tanto tempo a viajar sozinha foi como reencontrar alguém da família...
Arambol
Muitos momentos na agradável companhia lusa da Palmira, que para além de viajante independente é uma entendida em assuntos alimentares. Muitas refeições, muito peixinho fresco, cervejinha e vinho branco, tal como degustações de 'feni', um licor local feito à base de caju e de coco. Em Goa a cerveja, vinhos e bebidas espirituosas são fixados a preços visivelmente baixos devido a impostos especiais sobre o consumo do álcool, o que não acontece no resto da Índia.
E, depois de tantos!!! anos, e um tempito de treino, o regresso às duas rodas 'on my own' numa scooter... E não só me levei a mim como à Palmira para irmos visitar o Forte de Tiracol que alcançámos depois da travessia no ferry.
Forte de Tiracol
O Forte de Tiracol é uma fortaleza de defesa costeira localizada junto à foz do rio Terekhol, no extremo norte do Estado de Goa. O forte foi severamente bombardeado e deixado em ruínas em 1825, mas a igreja de Santo António, localizada no interior, foi reconstruída. Atualmente parte do forte foi adaptado para hotelaria.
Pune
De Arambol fui com a Palmira para Pune, cidade que, tal como Mumbai, se situa no estado de Maharashtra, um dos mais industrializados da Índia. Ficámos em casa do Ananda onde conhecemos a Prem, do Punjab, e com ela ingressámos no 'Osho International Meditation Resort', sendo conduzidas nas atividades do dia pelo próprio Ananda que aí presta os seus serviços de facilitador. Dias de meditação, exercício, dança e muita diversão. Mas apenas frequentei o resort por dois dias. A prática espiritual neste ashram tem custos elevados...
Osho, grande líder espiritual, místico e guru indiano, foi uma figura extremamente polémica pela sua atitude mordaz em relação à tradição e à autoridade estabelecida. O seu ensinamento enfatiza a busca de liberdade pessoal, a consciência individual e a responsabilidade de cada um por si mesmo. Desenvolveu técnicas, como a meditação dinâmica, com o objetivo de libertar o ser humano das amarras psicológicas que o aprisionam e limitam. E só através do silêncio, re-encontrado pela meditação, o homem experimenta o seu verdadeiro ser, a comunhão com a sua essência divina e pura.
Mumbai
Continuei sozinha para Mumbai, ou Bombaim, onde fui recebida pelo Umang, um verdadeiro gentleman indiano, que me esperava na paragem do autocarro com o seu carro novinho em folha. Na casa dele conheci a Xiaoli, outra viajante solo, chinesa, com quem parti, por vezes, à descoberta de Mumbai.
Leopold Café, Colaba
Mas foi o Gaurav, um jovem e erudito realizador, conhecedor de muitos aspetos da cultura portuguesa, que me introduziu nos meandros e nos transportes públicos desta megacidade, a maior e mais importante cidade da Índia, com uma população estimada em mais de 12 milhões de habitantes.
 Mesquita Haji Ali, perto do Templo hindu Mahalaxmi
As sete ilhas que vieram a constituir Bombaim ficaram sob o controle de sucessivos impérios indianos, antes da cessão ao Império de Portugal e, posteriormente, à Companhia Britânica das Índias Orientais, controlada pelo Império Britânico.
Durante meados do século XVIII, a urbanização de Bombaim foi reformulada pelos britânicos, com grandes projetos de engenharia civil, fazendo surgir uma cidade comercial e cosmopolita, hoje capital financeira repleta de magnatas, comerciantes, arranha-céus e estrelas de cinema.
O elegante Hotel Taj Mahal e a Porta da Índia, vistos do porto
Grutas da Ilha de Elefanta
Porto de Mumbai
As minhas experiências em Mumbai passaram pelos apinhados comboios, nas carruagens exclusivas para senhoras, e por um trabalho temporário numa espécie de 'call center'.
Rumando a minha viagem sempre a norte desloquei-me, em autocarro noturno, para Ahmedabad, a principal cidade da indústria têxtil do país, onde me recebeu o Nipun e a sua família. Situa-se no estado de Gujarat, onde nasceu Mahatma Gandhi, símbolo da nação.
Ahmedabad
Daí desci para Diu, cidade e sede de distrito pertencente ao território de Damão e Diu, da Índia. Fez parte do antigo Estado Português vindo a cair na posse das tropas da União Indiana que a anexaram em 1961, no tempo de Nehru. O território possui uma área de 40 km² e é composto pela ilha de Diu (separada da península pelo rio Chassis) e pelos pequenos enclaves continentais de Gogolá e Simbor.
Diu
Diu era uma cidade de grande movimento comercial que veio a ser oferecida aos portugueses em 1535 como recompensa pela ajuda militar que estes deram ao sultão Bahadur Xá de Gujarat, contra o Grão-Mogol de Deli.
Forte de Diu
Igreja de São Paulo
Mercado municipal, Templo hindu Gangeshwar
Tomara-lhe o gosto e aproveitei para praticar a minha condução das duas rodas nas estradas organizadas e com pouco trânsito de Diu, visitando vários pontos da ilha.
Praia Nagoa, Vanakbara
Conversas em português com um muito viajado alemão que viveu no Brasil e a dona goesa de uma hospedaria em Diu que em breve visitará a sua família em Portugal.
Bhuj
Em seguida desloquei-me para o extremo ocidental de Gujarat para visitar Bhuj, cidade do distrito de Kutch, famosa pelos seus bordados e artesanato.
Prag Mahal, Templo Swaminarayan
Despedi-me desta localidade ainda a enxotar as cinzas do grande terramoto de 2001, dos seus monumentos históricos e coloridos templos hindus, dos imponentes bovinos, do calmo lago Hamirsar e deixei o estado de Gujarat, numa longa viagem de autocarro 'sleeper'.

1 comentário:

  1. e agora convido-lhe para a exposição das relíquias de S. Francicsco Xavier em Goa.
    Saudacoes,
    Telesforo fernandes . bandrainstitute@gmail.com

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