Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Portugal: Rios, cruzeiros e comboios

O rio Mondego é o quinto maior rio português e o maior a correr exclusivamente em território nacional. Nasce na Serra da Estrela, num local conhecido por Mondeguinho, no concelho de Gouveia, a uma altitude de 1525 m.


Percorre uma extensão de 258 km atravessando toda a região do Centro (Região das Beiras) até desaguar no Oceano Atlântico junto à cidade da Figueira da Foz.


O rio Mondego oferece excelentes opções de turismo, com atividades na natureza, descidas em canoa e também com diversas praias fluviais ao longo do seu curso como as de Ribamondego, Ponte Nova, Penacova, Palheiros/Zorro e Pé Rodrigo.

Junto a Penacova, depois de ter recebido o Alva, seu afluente da margem esquerda, o Mondego estrangula-se ao atravessar o contraforte de Entre Penedos e surgem as altas assentadas de quartzíticos dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse. Este monumento natural, que o tempo esculpiu ao longo de mais de 400 milhões de anos, recebeu a designação popular de Livraria do Mondego.

Depois de se libertar das formações xistosas e quartzíticas, e já nas imediações da cidade Coimbra, o rio inaugura o seu curso inferior, constituído pelos últimos 40 km do seu trajeto. Nesta última etapa, percorre uma vasta planície aluvial, cortando os municípios de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz.

Nos últimos 7,5 km do seu troço desdobra-se em dois braços que voltam a unir-se junto à foz, formando entre si a pequena Ilha da Morraceira cujo nome derivaria de uma planta, a Spartina stricta, uma gramínea muito abundante na região do Baixo Mondego, vulgarmente conhecida por morraça.


A Ilha da Morraceira, com cerca de 7 quilómetros de extensão e 580 hectares de área, é constituída por vastas extensões de sapais, caniçais, juncais, salinas, arrozais e aquaculturas ou pisciculturas. É um local de interesse ornitológico que alberga várias espécies de aves como o flamingo, a garça-real, a garça-branca-pequena, o estorninho-malhado, o pato-real, a cegonha-branca, a gaivota-prateada, o alfaiate, o borrelho, o pernilongo, a andorinha-do-mar-anã, o pisco-de-peito-azul, a petinha, a alvéola-cinzenta e a coruja-do-nabal. Um paraíso para os observadores de aves.

Nela podemos também testemunhar os trabalhos do marnoto, pessoa que trabalha nas salinas, sector que em tempos teve grande importância na economia local e nacional. Hoje o negócio do sal já não é tão rentável como foi nos anos 30, mas os produtores e marnotos que aqui ainda trabalham cuidando dos seus talhões abrem o caminho da revalorização do sal português.


O estuário do rio Mondego, com cerca de 25 km de comprimento e 3,5 km² de área, tem grande importância ecológica como zona húmida, não só de nidificação e/ou de alimentação de numerosas espécies de aves aquáticas, mas também pela existência de espécies piscícolas migratórias, como a lampreia, o sável e a savelha.


No estuário organizam-se provas de várias modalidades desportivas aquáticas, tais como vela e motonáutica e ainda de remo e canoagem. Em Montemor-o-Velho existe o centro desportivo de alto rendimento com centro náutico e pistas de atletismo cuja utilização se tem revelado útil para várias modalidades olímpicas e onde já decorreram várias provas internacionais.



sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Portugal: Rios, cruzeiros e comboios

Em tempo de pandemia restringem-se as viagens ao estrangeiro e aposta-se mais nas viagens “cá por casa”. Visitas realizadas nestes últimos anos relacionadas com rios, cruzeiros e comboios.

O rio Minho é um rio internacional que nasce a uma altitude de 750 m na serra de Meira, na Galiza e percorre cerca de 340 quilómetros até desaguar no oceano Atlântico, a norte de Caminha. Entre Melgaço e a foz, o rio Minho serve de fronteira entre Espanha e Portugal.

Monção é uma das povoações portuguesas banhadas por este rio e fica a dois quilómetros do município galego de Salvaterra do Minho, ao qual está ligado por uma ponte. Monção teve carta de foral de D. Afonso III datada de 12 de Março de 1261. 

Tornou-se célebre no séc. XIV, no decurso das guerras fernandinas, devido à enérgica ação de Deu-la-deu Martins, esposa do alcaide local, que conseguiu pôr fim ao cerco que os castelhanos lhe impuseram levando-os a acreditar que ainda havia muita resistência dentro das muralhas quando lhes atirou os últimos pães.

Situada no Parque Nacional da Peneda Gerês, no concelho de Arcos de Valdevez, a aldeia de Sistelo é uma das mais antigas do Alto Minho, junto à nascente do rio Vez. É uma das mais pitorescas Aldeias de Portugal, principalmente pela sua envolvência natural e é apelidada por muitos como o “pequeno Tibete português". 


Os socalcos, usados para a agricultura, são o resultado da interação entre o homem e a natureza e foram esculpidos por várias gerações. Os terrenos foram moldados para contrabalançar as encostas e aumentar o espaço disponível para as plantaçōes, sendo a água conduzida para as terras através de levadas (os canais de regadio), tornando-as mais produtivas. 


Sistelo é um exemplo da capacidade de adaptação do homem às singularidades e adversidades da natureza, transformando-a em prol das suas necessidades e simultaneamente criando um quadro de rara beleza. A isto está associado o conceito de comunidade, de entreajuda, da necessidade de um povo em se unir para sobreviver: os fornos comunitários, os moinhos, os espigueiros e uma fonte de vida que os une, “o Rio Vez”. A paisagem de Sistelo está classificada como monumento nacional e há trilhos que podem ser percorridos a pé ou de bicicleta para descobrir toda esta maravilha.

Paredes de Coura é uma vila, sede de concelho, localizada na sub-região do Alto Minho, plena de história e beleza, envolta num cenário bucólico. Atualmente é famosa pelo seu grande festival de verão que oferece os mais variados estilos musicais representados por bandas de renome internacional e que, durante uma semana, muda a sua faceta para um ambiente alternativo, atraindo um grande número de visitantes. A primeira edição deste festival, que decorre na Praia Fluvial do Tabuão, foi no ano de 1993 e foi suspenso duas vezes, mais precisamente nestes anos de 2020 e 2021, devido à pandemia de Covid-19.

Mas o Património Natural é o que mais marca a região, destacando-se a Área de Paisagem Protegida de Corno de Bico, e todas as paisagens naturais de montes, vales, cascatas, penedos ou as águas cristalinas do rio Coura que aqui nasce e desagua na margem esquerda do rio Minho, perto de Caminha. Uma das particularidades deste rio é que banha duas praias fluviais nas quais se realizam dois dos maiores festivais de verão em Portugal, o referido Festival de Paredes de Coura e o Festival de Vilar de Mouros.

Ponte da Barca deve o seu topónimo à "barca" que fazia a ligação entre as duas margens do rio Lima, muitas vezes peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, sendo a "ponte" construída em meados do século XIV. Desta terra é oriunda a mãe de Santo António de Lisboa, Teresa Taveira, bem como o navegador Fernão de Magalhães, da nobre família do Paço Vedro (freguesia de Magalhães).

O rio Lima é um curso de água internacional que nasce na província de Ourense, na Galiza e entra em Portugal, próximo do Lindoso. Passa por Ponte da Barca e Ponte de Lima, até desaguar no oceano Atlântico, em Viana do Castelo, após percorrer um total de 108 km.

O topónimo Ponte de Lima deriva da ponte que atravessa o rio Lima, construída pelos romanos e posteriormente ampliada na Idade Média. É uma das vilas mais antigas de Portugal com carta de foral outorgada pela Condessa D. Teresa de Leão, mãe de D. Afonso Henriques, em 1125, antes ainda da fundação do reino.

Para além da ponte, a vila possui um património arquitetónico e histórico significativo, como a Torre da Cadeia Velha ou o Paço do Marquês. Conta também com um conjunto de igrejas, capelas e solares que refletem a evolução histórica, tanto a nível arquitetónico como a nível político e cultural. O centro histórico preserva elementos medievais e renascentistas.

Ponte de Lima é também conhecida como capital do vinho verde e aqui nasceu o Beato Francisco Pacheco (O Santo), mensageiro da Companhia de Jesus e um dos primeiros missionários jesuítas no Japão. 

Viana do Castelo tomou esta designação quando foi elevada a cidade em 1848, distinção concedida pela Rainha D. Maria II. A cidade cresceu ao longo do rio Lima e tornou-se num importante entreposto comercial. O próspero comércio marítimo com o norte da Europa envolvia a exportação de vinhos, fruta e sal, e a importação de talheres, tecidos, tapeçarias e vidro. 

Fora do centro da cidade, em posição dominante no alto do Monte de Santa Luzia, destaca-se o imponente Santuário Diocesano do Sagrado Coração de Jesus, projeto arquitetónico de Ventura Terra, de 1899, inspirado na Basílica do Sacré Cœur em Paris. 


Do monte de Santa Luzia, ao qual podemos aceder por funicular, pode observar-se a situação geográfica privilegiada da cidade, junto ao mar e ao estuário do rio Lima. Uma vista deslumbrante. 

O Porto é outra cidade portuguesa situada junto ao mar e ao estuário de um rio, desta feita o Douro. É a cidade que deu o nome a Portugal desde muito cedo (c. 200 a.C.), quando se designava de Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense, de onde se formou Portugal.


Chegamos à estação ferroviária de São Bento e, antes de mais, apreciamos os fantásticos azulejos que a decoram. Depois, a visita à Sé do Porto e ao respetivo Museu do Tesouro, de onde se apreciam belíssimas panorâmicas. Descemos então em direção à Ribeira pelas Escadas das Verdades e as Escadas do Barredo, dos lugares mais antigos da cidade do Porto, por onde também passava a Muralha Primitiva ou Cerca Velha.

A Ribeira é um dos locais mais antigos e típicos da cidade do Porto e faz parte do seu Centro Histórico, Património Mundial da UNESCO desde 1996. Aqui terá nascido o Infante D. Henrique, o Navegador, em 1394.


É conhecida como a Cidade Invicta e como a Capital do Norte e é ainda conhecida internacionalmente pelo seu vinho do Porto, pelas pontes imponentes, pela arquitetura antiga e contemporânea. A cidade está localizada num dos pontos nucleares da bacia hidrográfica do rio Douro, junto à sua foz.

O rio Douro nasce na província espanhola de Sória e é o terceiro rio mais extenso da Península Ibérica com 897 km de comprimento, dos quais 112 km de caráter internacional, pois o seu curso faz de fronteira. 


Mais acima no curso do rio, a 100 Km do Porto, situa-se o Peso da Régua ou Régua, conhecida como a capital da região vinícola demarcada mais antiga do mundo, a Real Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criada em 1756 pelo Marquês de Pombal.

Desde então, e pela sua localização central junto ao rio Douro, a Régua passou a ser um importante entreposto comercial de onde partiam e chegavam os barcos Rabelo que transportavam o Vinho do Porto até Vila Nova de Gaia onde envelhecia nas caves.

Depois de um agradável passeio na frente ribeirinha da Régua e da interessante visita ao Museu do Douro, dedicado à cultura e à história deste vinho, embarcamos, ao meio-dia, num imperativo cruzeiro para admirar a beleza da região. 

É nas encostas destes montes, em que as vinhas são cultivadas em espetaculares socalcos, que se produz o célebre Vinho do Porto. A Região Vinhateira do Alto Douro foi classificada como Património da Humanidade pela UNESCO em dezembro de 2001, reconhecendo-a como paisagem cultural evolutiva e viva, moldada pela produção de vinho há milénios.

O Douro, mais do que um rio, foi desde tempos remotos uma artéria central da vida da região, sendo um canal essencial no transporte de vinho e de pessoas. Mas antigamente era um rio perigoso e indomável, cheio de correntes e baixios, onde apenas os barcos Rabelo conseguiam navegar. Hoje em dia, com a construção de diversas barragens ao longo do seu curso, o Douro é um rio navegável e seguro o que tem permitido o seu aproveitamento turístico através de inúmeros cruzeiros que o percorrem diariamente.

Após a subida da eclusa na Barragem de Bagaúste (com 27m de desnível), o almoço é servido a bordo. Às 15 horas desembarcamos no Pinhão onde dispomos de algum tempo livre para visitar esta vila onde estão localizadas várias e famosas quintas produtoras de vinho generoso. 


Seguidamente dirigimo-nos à estação dos caminhos de ferro do Pinhão, conhecida pelos seus painéis de azulejos que retratam paisagens do Douro e aspetos das vindimas. 


Às 16h20, partimos no emblemático Comboio Histórico do Douro, composto por cinco carruagens de madeira puxadas por locomotiva a diesel, em direção à estação do Tua. Viagem curta de cerca de vinte minutos. 


Pouco depois das 17h00 embarcamos de novo no Comboio Histórico com regresso à Régua. Hora e meia de viagem para continuar a admirar as paisagens deslumbrantes do Vale do Douro.

Esta visita, em cruzeiro e comboio histórico no Douro, foi realizada no final de outubro deste ano.

Ainda mais acima ao longo do Douro, outro espetáculo ocorre entre o final do inverno e início da primavera quando se dá a floração das amendoeiras. As vistas dos montes e vales cobertos de flores brancas ou rosadas são espetaculares em Vila Nova de Foz Côa (conhecida como a "capital das amendoeiras em flor") e Freixo de Espada à Cinta, por exemplo. 


Do alto da Estrada Nacional 221 (que tem cerca de 184 Km de extensão e atravessa três magníficas regiões vitivinícolas: Trás-os-Montes, Douro e Beira Interior) apreciamos a Barragem de Saucelle, uma obra de engenharia hidroelétrica construída no Douro Internacional, na zona conhecida como as Arribas do Douro, uma profunda depressão geográfica. A sua construção iniciou-se em 1948 e constituiu a última barragem do Douro em território espanhol.

Barca d’Alva é a localidade portuguesa em que o rio Douro entra em Portugal e percorre 213 quilómetros até à sua foz, junto às cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. A fronteira com Espanha, junto a esta aldeia que está inserida no Parque Natural do Douro Internacional, é aqui definida pelo curso dos rios Águeda e Douro.

Na margem do Douro está uma estátua de Agostinho da Silva, filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo, pedagogo e tradutor português que passou parte da sua infância em Barca d'Alva.

O rio Paiva é um afluente do Douro desaguando em Castelo de Paiva. O rio tem tido um aumento significativo de visitantes nos últimos anos devido à inauguração dos "Passadiços do Paiva", no concelho de Arouca. O passadiço de madeira foi construído ao longo da margem esquerda do rio Paiva, entre a ponte de Espiunca e a praia fluvial do Areinho, abarcando assim a área conhecida como a "Garganta do Paiva", onde o leito se torna mais estreito e se prolonga desde a Ponte de Alvarenga até ao Vau. Esta ponte, datada do século XVIII, foi mandada construir por alvará de D. Maria I, no ano de 1971. 


A 4 de setembro de 2016, os Passadiços do Paiva foram eleitos como projeto turístico mais inovador da Europa, na edição dos World Travel Awards.