Este blog surgiu em 2009 com o intuito de relatar uma "Viagem Incógnita" que teve início com um bilhete só de ida para a Tailândia. Uma viagem independente, sem planos, a solo, que duraria quatro anos. Pelo meio surgiu um projeto com crianças carenciadas do Nepal que viria a resultar na criação da Associação Humanity Himalayan Mountains. Assim, este blog é dedicado às minhas viagens pelo Oriente, bem como a esta "viagem humanitária", de horizontes longínquos, no Nepal.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Do lago às montanhas

Já comecei a distribuição de donativos por casos mais urgentes. Mas enquanto aguardo outros ‘prometidos’ e vou estudando a melhor forma de os repartir deixo-vos com estas imagens.

Pokhara situa-se a 200 km da capital Kathmandu, fica a uma altitude de 827m e é conhecida como a cidade dos sete lagos. O Phewa Tal é o maior. As vistas do lago são encantadoras mas, volta e meia, sozinha ou acompanhada, apetece trepar os montes que o rodeiam para que os olhos se pousem em paisagens primordiais tão magníficas quanto serenas.

Nunca sabemos bem quem é o outro ‘transeunte’ que nos espreita mas acho que mais vale andar a pé por caminhos destes do que em autocarros apinhados por estes…


Vistas opostas:



Sarangkot, 1600m ; World Peace Pagoda, 1113m



E depois, claro, não resistimos ao apelo de cumes ainda mais altos que por aqui proliferam e aí vamos nós de ‘trekking’…


“No Reino Unido, porque o bom tempo é uma dádiva rara, sempre que se pode aproveita-se e vai-se caminhar ‘fora’. Eles chamam-lhe rambling. Os Alemães dizem wandern, os Franceses randonnée, os Espanhóis senderismo, os Americanos trekking ou hiking. Os Portugueses não usam uma expressão portuguesa porque não existe. Os Portugueses não caminham por vales e montanhas, não atravessam pedaços de lua nem pasmam com paisagens primordiais, não cortam vegetação densa nem pisam mato rasteiro, não sobem dunas nem seguem riachos. Os portugueses não se metem nisso – os que o fazem são como estrangeiros na própria terra. Ou estão no estrangeiro de férias. Então fazem trekking” - Gonçalo Cadilhe, in Planisfério Pessoal

Fui com a Tone, quando ela cá esteve em abril, fazer trekking ao ABC – Annapurna Base Camp. Com o guia e o porter (my brothers!) fomos de táxi até Nayapul, a uma hora de Pokhara, e começámos aí a longa caminhada, a cerca de 1020m de altitude.

E por falar no ‘apelo de cumes mais altos’ quem aparece logo no início do nosso percurso? O João Garcia. Regressava do seu passeio ao ABC. Aquilo que para muitos de nós é um esforço para ele é um ‘vou ali já venho’. Afinal de contas o ABC fica ‘apenas’ a 4100m de altitude. O João Garcia completou em 2010 o desafio de subir aos 14 picos do mundo acima dos 8000m. Só 10 pessoas o fizeram até agora. Uma é portuguesa.



E lá vamos nós subindo e descendo montanhas, passando por povoados Gurung, atravessando rios e riachos, pontes modernas e outras ainda mais ‘sofisticadas’, florestas subtropicais, de carvalhos, bambus e rododendros em flor, contornando, transpondo, alcançando e descansando…

Foram 7 dias a caminhar, cerca de seis horas por dia. Terreno seco, molhado ou enlameado, raízes, degraus, calhaus, pedras, pedrinhas e pedregulhos. Sol, nevoeiro, chuva, granizo, neve , vento, calor e frio. Descer a vertente para subir a próxima. Pernoitar, madrugar e continuar. Com muita alegria e genica. Quem corre por gosto não cansa. E nada nos parou nem empatou, nem a mim nem à Tone, grande companheira habituada às caminhadas e à neve na Noruega.


E quem diz que o trekking não é para todos engana-se… Com mais ou menos esforço estamos no ir! Que o esforço compensa.



Serão pegadas de leopardo, de lobisomem ou de yeti?


Chegámos ao ABC ao quarto dia com neve e tempo encoberto. E assim continuava na manhã seguinte. A Tone não aguentou as dores de cabeça, o ‘mal de montanha’ devido à altitude, e desceu para o MBC – Machhapuchhre Base Camp, a 3700m. Eu fiquei mais um dia no ABC. Estava bem e não podia perder a oportunidade de apreciar este santuário natural em forma de um vasto anfiteatro cercado de montanhas gigantes e famosas da cadeia dos Himalaias.



O tempo abriu ainda nessa tarde e as vistas eram nítidas e deslumbrantes na manhã seguinte. Com todo o esplendor exibiam-se os picos do Machhapuchhare (6997m), Gangapurna (7454m), Annapurna I (8091m), Fang (7647m), Glacier Dome (7193m), Annapurna South (7273m) e Hiunchuli (6441m).









Reencontrei-me com a Tone no MBC e regressámos pelo mesmo caminho descendo o vale do rio Modi Khola, o único acesso ao Campo Base do Annapurna, sob íngremes e esculpidas falésias glaciares. Revigorámo-nos nas águas quentes de Jinnu e regressámos a Pokhara regaladas e inspiradas.

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